Formada inicialmente pelo guitarrista Leere, no ano de 1995,
Nattramn se juntou à banda alguns meses depois e ela se consolidou em um duo.
Em 1998 gravam uma demo da música 'Death - Pierce Me', evidenciando os vocais
agonizantes e afogados em um profundo sofrimento por Nattramn, e a melancolia
muito bem trabalhada sonoramente por Leere. Esta música veio a se tornar o nome
do primeiro e único álbum da banda, lançado em 1 de abril de 2001, e que teve a faixa-demo
incluída em uma nova versão. Este álbum é realmente um material sonoro bastante
difícil de digerir, no entanto, é um dos essenciais do DSBM e um dos poucos que
se tornaram amplamente conhecido nesse meio.
• Death - Pierce Me: A música homônima ao álbum inicia-se
com um riff suave e cativante onde engana o ouvinte que desconhece o que está
por vir. O ponto alto é justamente quando Nattramn surge com seus lamentos
rasgando a garganta e implora pela morte. A parte instrumental é muito bem
encorpada, com belos riffs e solos de guitarra, marcantes levadas de bateria e
linhas de baixo que, embora caminham por vias uniformes com os acordes de
guitarra, são bastante expressivos. A finalização dessa música, bem como de
todas as outras do álbum, é algo muito interessante, fecha-se de forma precisa.
• Sterile Nails and Thuderbowels é a canção da banda que
ganhou maior destaque e, sem dúvidas, é esta a música que evidencia a sublime
musicalidade de Leere, afinal, se não fosse por ele, provavelmente, este álbum
não teria entrado na história como um clássico do DSBM. Ele fornece uma
majestosa atmosfera para as lamúrias atormentadoras de Nattramn, que se
estivesse vociferando suas dores sem música, obviamente, não soaria como
música. A união musical desses dois é uma expressão sincera de como a boa
música pode surgir quando há fidelidade naquilo que se quer transmitir.
• Taklamakan é, geralmente, a que mais atrai as pessoas
porque, supostamente, Nattramn estava se cortando severamente e engasgando-se
durante a gravação dela. É possível ouvir esses sons de forma nítida. Os riffs
de baixo que abrem a canção também são bastante marcantes e mantém o ouvinte
atento, apenas aguardando o que está por vir. Logo a música explode e,
dolorosamente, os traumas existenciais de Nattramn eclodem junto. Os riffs de
guitarra são simples, mas muito bem inseridos e se complementam com a bateria
bastante rápida. Nessa música Nattramn vai ao extremo, como se estivesse em seu
nível máximo de insanidade.
• The Slow Kill In The Cold parece ser um contraste à faixa anterior
e, com um fluxo lento, suave e melancólico de sintetizador, conduz o ouvinte a
uma certa calmaria. Mas, antes mesmo do ouvinte poder imaginar uma paisagem
menos sufocante que fôra criada por esta faixa, é novamente lançado às
angústias lacerantes de Nattramn que se seguem pela faixa seguinte.
• Shall Lead, You Shall Follow mantêm a rapidez rítmica incessantemente.
É uma viagem sonora em velocidade, mas sem perder o ar desesperador que paira
sobre todo o álbum.
• Feeble Are You - Sons Of Sion encerra o álbum e é uma canção
executada apenas no piano trazendo consigo a sensação de uma certa calmaria
depois que não existe mais nada a ser destruído, pois tudo está morto,
terminado, encerrado.
O que tornou a banda conhecida no meio do Black Metal foram
os vários rumores, suposições e lendas que se mesclaram a eventos reais
ocorridos com Nattramn. Nattramn não queria apenas expressar sua dor e angústia
através de suas letras e seus vocais, ele queria que a música soasse o mais
real possível para que o ouvinte pudesse sentir quão desesperado ele estava. E
ele decidiu se automutilar antes e durante as gravações de cada faixa. Seus
gritos eram de extrema dor, uma mistura do que ele estava sentindo fisicamente
naquele momento junto com as dores mentais que ele já arrastava por anos.
Gritos, urros, choros e sons de ânsia de vômito e engasgamento podem ser
ouvidos nas músicas. Esses detalhes incomuns somaram para que os críticos
descreverem a música de Silencer como ruídos tolos e sem graça, mas, quando se
olha para as características estéticas que são tecidas a partir da
subjetividade emocional complexa de Nattramn e Leere, fica claro que todos os
instrumentos, as falas, lamentos, urros e gritos sobem do mais profundo poço
onde habitam os seres massacrados pela existência humana. Pouco tempo após o
lançamento do álbum, Nattramn foi encaminhando para um hospital psiquiátrico em
período integral de internação, e a banda encerrou atividades após esse evento.
Independente dos vários boatos, inverdades e datas imprecisas, o fato é que em
suas músicas Nattramn expressou todo o seu desespero e sua insatisfação para
com a vida e com o mundo, isso de maneira bastante direta. Ele enfatizou a
natureza de seus gritos estridentes, de alguém que estava sofrendo e sendo
atormentado incansavelmente. Uma foto de Nattramn acabou sendo disseminada
junto do álbum e, nela, ele se encontra com uma máscara ensanguentada e com
bandagens manchadas de sangue nas mãos, nas quais aparecem pés de porco
amarrados. Propagou-se que Nattramn se torturava durante as gravações das
músicas e acabou amputando as mãos para substituí-las pelos pés de porco, mas,
o que ele fez, de fato, foi amarrar com as bandagens os pés de porco às mãos.
Mesmo vinte anos após seu lançamento, ainda há quem tache este álbum como uma
peça horrível e que deve ser esquecida, como algo que deve ser retirado do
Black Metal - a banda sempre disse fazer Black Metal e nada além -, mas não,
não há motivos para essas duras críticas quando se analisa a banda, o álbum, as
expressões ali colocadas sem vestimentas. Essas melodias foram arrancadas de
momentos altamente emocionais e genuínos. Elas se uniram para formar uma camada
crua, porém reveladora e intrigante. As letras são muito pessoais e/ou
confessionais, que Nattramn escreveu para exorcizar seus demônios mais
terríveis. Isso pode ser lido, escutado e mesmo visualizado - em paisagens
mentais - como um vislumbre de momentos específicos da vida de um homem
atormentado pela dor, pela loucura, pela existência cruel onde o sofrimento é
imensurável. Há muita crueza e mensagens diretas em suas composições, mas,
também, há espaço para abstrações. As letras e as melodias são muito mais emocionais
do que se pode enxergar de início, e há imagens subjetivas e extremamente
pessoais que não se pode encontrar na maioria das músicas de outras bandas do
gênero. Nattramn e Leere uniram a profundidade dolorosa e escura de si mesmos,
do sofrimento pessoal, e sangraram isto tudo em um estúdio de gravação. Não existiu um objetivo, usando essa
linguagem direta ou abstrata, de evocar algo, mas sim de expurgar. Expurgar
tudo que corroía internamente e sangrava para além da carne. Tanto é que este
álbum não pode ser tido em meio termo, por isso, ou se gosta ou não se gosta
dele. O ouvinte vai defini-lo de acordo com o que se deseja capturar dele e de
como pode sentir empatia por estes ou quaisquer outros músicos, pois as músicas
deste álbum se manifestam como instantâneos pessoais de estados emocionais
extremos e narrativas sombrias que procuram falar em uma linguagem de angústia,
dor, desespero, que pode ser atraente ao ouvinte porque este pode ou não ter
vivenciado momentos semelhantes.
Para o Depressive Suicidal Black Metal este é um álbum de extrema importância e que agrega, definitivamente, aos álbuns onde a dor é muito palpável e para além de meras impressões.
Discografia:
Death, Pierce Me (demo) [1998]
Death, Pierce Me (álbum completo) [2001]
• Fotos de Nattramn disponibilizadas no 20º aniversário do álbum
Obs: Vale reforçar que as imagens que circulam na internet de Nattramn sem bandagens, não é o Nattramn do Silencer, mas sim Rikard Bjernegård, da banda Frostrike. Ele também usou o pseudônimo Nattramn em sua banda, e, como ela também é uma banda de Black Metal sueca, a internet fica vinculando ambos como se fossem a mesma pessoa, e, por consequência, muitas pessoas continuam propagando esse erro até hoje.
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