A arte existe para expressar e evocar, e sua possibilidade se dá pelo conjunto artista e fã - o indivíduo que recebe aquela expressão artística. Assim, esta é uma entrevista com não músicos e não musicistas da cena, mas sim com quem consome DSBM diretamente: fãs. Aqui, 4 fãs do subgênero mais depressivo do Metal falam um pouco sobre este tipo de música que tanto apreciam.
Fazem cerca de duas décadas que o DSBM surgiu, então é, relativamente, um subgênero novo do Metal. Como você conheceu o Depressive Suicidal Black Metal?
• Soraya: Depois de descobrir o Black Metal, fui mais fundo
e encontrei a música perfeita para mim e minha personalidade.
• Lilly: Eu desde criança já despertava um gosto pelo Rock,
daí fui conhecendo mais gêneros, então conheci o Black Metal que foi o gênero
que eu mais me encaixei e que eu mais gostei. Daí conheci meu namorado, ele também
já gostava do Black Metal e curtia as mesmas coisas que eu, e foi ele quem me
apresentou o DSBM que, de cara, eu gostei muito. Percebi que os dois gêneros se
encaixam muito com o meu eu também. Assim, DSBM passou a ser o meu segundo
gênero preferido.
• Elivelton: Conheci através do YouTube em meados de
2012/13, como indicação de vídeo de músicas parecidas com o que eu escutava na
época, ao qual eu tava procurando escutar um som mais atmosférico e profundo,
acho que o algoritmo daquela época era bem melhor do que hoje em dia (kkk).
• Bea: Sempre busquei me aprofundar na cena do Black Metal e
consequentemente não levou muito tempo até conhecer o DSBM. Não me lembro com
clareza mas acredito que Nocturnal Depression tenha sido a primeira banda que
ouvi do gênero. Aqueles gritos melancólicos logo me chamaram atenção e me fez
conhecer outras bandas bem notórias como Psychonaut 4, Lifelover, etc.
Qual foi a sua sensação ao ouvir aquela sonoridade mais
melancólica, angustiante, com uma atmosfera desesperadora, e ao perceber do que
se tratavam as letras?
• Soraya: Senti que encontrei meu recanto no espectro
musical, que poderia representar totalmente tudo o que sentia.
• Lilly: Foi uma sensação muito intensa e boa, eu sentir uma
profunda tristeza reconfortante. O sentimento de conforto ao escutar o gênero
permanece, sempre que estou triste ouço e me sinto um pouco melhor.
• Elivelton: Foi um misto de sentimentos e reflexões, quase
uma meditação, e, às vezes se paro só para escutar sem fazer outra coisa em
paralelo ainda posso sentir como naquela época. Sentimentos como uma angústia
gelada e nostalgia, e o vazio de saber que tô sozinho independentemente de
qualquer coisa são recorrentes enquanto me concentro na música, às vezes
extasiado só curtindo o momento.
• Bea: Reconfortante. Particularmente, o DSBM tem sido meu
amparo mais sincero. É o gênero que abraça os doentes. Os artistas do gênero
não se importam em fazer um som super estudado ou que chame a atenção das
pessoas na cena do Metal, e através dessa arte compartilham seu desespero, seu
desamparo mais súbito e mórbido diante de uma vida sem propósito.
Quais são suas bandas favoritas deste subgênero?
• Soraya: Funesto,
No Point In Living, Lifelover, Këkht Aräkh, Shining, Ofdrykkja, Nocturnal Depression,
Happy Days, Thy Light e Bonjour Tristesse.
• Lilly: Eu escuto todas as bandas, todas eu amo muito (rsrs).
•
Elivelton: Nocturnal Depression, Uaral, Lifelover, Hypothermia, Forgotten Tomb,
Woods of Infinity, Austere, Shining, Totalselfhatred, Hanging Garden, Be
Persecuted, Apati, Vanhelga, Ofdrykkja, Psychonaut 4, Happy Days, Sadness, Thy
Light, Dreariness e Lamúria Abissal.
• Bea: Amo profundamente Thy Light, Austere, Ecos Póstumos,
Angustifolia e Lifelover. Mas, recentemente tenho ouvido mais projetos do
underground brasileiro.
O Black e Doom Metal são, sem dúvidas, os gêneros pilares
para a criação do DSBM. Você costuma ouvir estes gêneros também? Se sim, quais
bandas você mais aprecia?
• Soraya: Às vezes Black, o mais clássico, mas sobretudo
Burzum e Darkthrone.
• Lilly: Sim. São inúmeras as bandas, mas algumas delas que
mais gosto: Mayhem, Darkthrone, Dark Funeral, Mystifier, Velho, Uaral, The
Cross, Inventtor.
• Elivelton: Foi escutando esses gêneros que desenterrei o DSBM
(haha). Projetos como Agalloch, Burzum, Nargaroth, Mayhem, Summoning, Darkened Nocturn
Slaughtercult, Satyricon, Nortt, Katatonia, Behemoth, Belphegor, Inquisition,
Forest of Shadows e por aí vai, tô sempre aberto a conhecer trabalhos nesses
gêneros.
• Bea: Realmente ouço muita coisa, mas algumas bandas que levo como fonte de inspiração são Bethlehem, Katatonia, Beherit, Candlemass e Eletric Wizard, também ouço gêneros como Blackgaze e Dungeon Synth, enfim, a lista é grande.
Por ser um tipo de música com temas bem pesados, e até
sensíveis, não é comum muitas pessoas ouvirem Depressive Black Metal. Você
mantém amizade com outras pessoas, fora da internet, que também curtem DSBM?
• Soraya: Poucas, mas sim, três.
• Lilly: Não.
• Elivelton: Só conheci uma vez uma pessoa que conhecia o
gênero, mas não curtia tanto e isso já fazem anos.
• Bea: Sim, tenho
alguns amigos que não só curtem mas criam projetos com o gênero.
O DSBM, pelas suas temáticas, é alvo de preconceito, infelizmente,
até mesmo dentro da cena do Metal. Qual sua opinião a respeito de quem age
assim?
• Soraya: Me parece desrespeitar um estilo de música só
porque não são capazes de entendê-lo.
• Lilly: Na minha opinião, que eu saiba, o respeito é
recíproco, então se essas pessoas agem dessa forma o certo é agir também
igualmente, porque se uma pessoa (ou pessoas) não respeita o meu jeito, meu
gosto, eu também obviamente não tenho obrigação de dar respeito a quem não me
respeita, é isso!
• Elivelton: Acho triste e controverso já que toda a
proposta, de qualquer que for o subgênero, no Metal é de expressão.
• Bea: É um assunto um pouco complexo, mas, resumidamente,
os artistas do gênero buscam expurgar ao máximo sua angústia e dor da
existência, fazer dessa arte um motivo pra ainda insistir como um indivíduo. E
por outro lado, todos sabem que sempre existiu pessoas ignorantes e que
banalizam qualquer dor que não seja a de si mesmo. Mas acredito que a maioria
que se identifica com o gênero já sabe disso e não se importa com o que dizem,
existem problemas maiores e que merecem atenção.
Não é comum bandas deste subgênero realizarem apresentações
ao vivo. Mas, se fosse possível um dia, existe alguma (ou mais de uma) banda de
DSBM a qual você gostaria de ir a um show?
• Soraya: Eu adoraria, especialmente Lifelover, também gosto
muito de Thy Light.
• Lilly: Amo todas as bandas, então eu ia adorar ir em um
show de cada uma, todas são muito boas!
• Elivelton: Se fosse possível um festival só de DSBM seria
muito foda.
• Bea: Como a maioria, adoraria ir num show do Psychonaut 4
e do Thy Light, agora que o Paolo e Alex tem feito apresentações.
Considerações finais.
• Soraya: Eu realmente aprecio muito que existam plataformas
para os fãs do DSBM se encontrarem, conhecerem novas pessoas e compartilharem
bandas.
• Elivelton: Agradeço pelo convite para expressar a minha
gratidão a esse subgênero que eu gosto tanto. E por todo esse trabalho incrível
que meu amigo Lúgubre vem mantendo em suas páginas por esses anos que o conheço,
cultivando sempre um ambiente de respeito, informação, divulgação, expressão e
bom humor.
• Bea: Conselho: ouçam Narcotic Metal. E deixo meus
agradecimentos a página que mais tem dado suporte ao gênero e seus fãs!
*Soraya é nossa seguidora residente em Galiza, Espanha.