domingo, 31 de março de 2019

História do Depressive Suicidal Black Metal


Depressive Suicidal Black Metal, encurtado como Depressive Black Metal e abreviado por DSBM, é uma vertente musical do Black Metal. As primeiras bandas com características do que veio a ser o DSBM, surgiram na segunda metade dos anos 90, mas somente após o ano 2000 que algumas bandas começaram a rotular o som que faziam como Depressive Black Metal.
As bandas que serviram como influência para o DSBM foram Burzum, Manes, Strid e Bethlehem. O álbum Hvis Lyset Tar Oss de 1992 do Burzum é considerado um importante precursor do DSBM. Todo o projeto Burzum é considerado uma influência importante a esse subgênero do Metal Negro. Seu EP Aske foi caracterizado por um ritmo mais lento, gritos ecoando e mantendo ritmos de bateria simples com linhas de guitarras que iriam se espalhar através do Depressive Black Metal. Bandas que vieram a seguir com sons obscuros e mórbidos como Nortt, Shining e Silencer se referem a Hvis Lyset Tar Oss como principal influência para o som que começavam a fazer. O músico Nortt fala de uma "base musical direta" que, em particular, Burzum teria previsto para o projeto Nortt. Niklas Kvarforth cita Burzum como influência fundamental para o estilo do Shining. E o guitarrista Leere destaca Hvis Lyset Tar Oss como uma importante fonte de idéias para as linhas de guitarra que ele criou para o Silencer.
A banda Manes também leva os créditos entre as precursoras influentes do DSBM. A primeira fita demo chamada Maanens Natt de 1993, é descrita como "uma jornada profundamente atmosférica através das noites frias do norte em que arpejos melancólicos acasalaram em um ritmo contido com riffs vigorosos e angustiantes". Além disso, há o uso de um sintetizador e um discurso alternando com vocais guturais rasgantes. A atmosfera assim gerada influenciou diferentes representantes do DSBM. Kvarforth da banda Shining e Scott Conner (Malefic) da banda Xasthur participaram de gravações posteriores como cantores convidados no Manes. Kvarforth enfatiza que Manes também teve bastante influência no estilo do Shining.
Strid, outra banda norueguesa, porém menos conhecida, é tida como a precursora do DSBM, de fato. Como Battle gravaram uma demo chamada End Of Life em 1992. Em 1993 a banda mudou seu estilo de "ruídos grosseiros" para "melancolia com múltiplas atmosferas e lentidão somada a gritos agonizantes", que se encontrariam posteriormente em bandas de DSBM. Também mudaram o nome de Battle para Strid. A banda era formada por Storm no baixo e vocais, Lars Fredrik Bergstrøm nas guitarras e Jardar na bateria. A demo End of Life foi relançada em 1994 e, ainda nesse mesmo ano, foi lançado um EP autointitulado pela Malicious Records contendo duas músicas. As mudanças metodológicas e temáticas desse EP foram o alicerce final que assinalou os padrões para o Depressive Black Metal. No ano de 2001 o baixista e vocalista Espen Andersen, conhecido pelo pseudônimo de Storm, cometeu suicídio. O músico Nattramn, líder da banda Silencer, cita Strid como uma de suas bandas favoritas e de forte influencia para a sonoridade que ele veio a criar no Silencer.
A banda alemã Bethlehem, tida como uma banda de Dark Metal, também teve um importante papel no DSBM. Os primeiros álbuns da banda foram um importante catalisador para o desenvolvimento do gênero como uma variante mais independente dessa música, que rejeitou muitas das características familiares do Black Metal e seguiu por um novo caminho. A banda soava "assustadora, atormentada e profundamente triste" no início. Havia reflexão interna e auto-exame na letras, procurando explorar a condição humana e seguindo com temas filosóficos e espirituais abstratos. Embora Burzum, Thorns, Manes e Strid tivessem canalizado a depressão e a desesperança no Black Metal, foi Bethlehem quem evidenciou a depressão e, especialmente, o suicídio.
Bandas como Shining, Silencer e Forgotten Tomb procuraram se aproximar de Bethlehem. O vocalista Andreas Classen foi convidado por Kvarforth para o albúm Within Deep Dark Chambers. Já a banda Silencer, teve o baterista Steve Wolz como convidado para suas gravações de estúdio. E o guitarrista e vocalista Herr Morbid do Forgotten Tomb, fez participações em algumas músicas do Bethlehem.

Anterior à essas bandas, é pertinente citar que Per Yngve "Dead" Ohlin, vocalista do Mayhem, foi uma figura marcante para o Metal Negro no geral. Devido às sua apresentações e sangrentas lesões no palco e sua personalidade introvertida e soturna, foi logo tido como "deprimido e uma pessoa distante". Dead, além de seus rituais reais em palco, também enterrava suas roupas para obter um odor característico de podridão, ou como ele se referia: "o cheiro da morte". Ele foi o principal músico da cena a trazer à tona a auto-lesão, a depressão, a escuridão e desejo pela morte, diferentemente dos demais músicos que se focavam mais em satanismo e ocultismo.

A partir da segunda metade dos anos 90, diferentes bandas começaram a surgir com letras abordando a depressão, suicídio, crise existencial, decepções, traumas, forte desejo de morrer, bem como os transtornos mentais no geral. Assim, o DSBM se consolidou como um subgênero do Metal, ou mais precisamente, do Black Metal.
Os canadenses do Malvery e os suecos do Silencer estão entre as primeiras bandas a se concentrar nos aspectos suicidas e depressivos do Black Metal. Ambas as bandas uniram a atmosfera apresentada com letras focadas em autoflagelação, suicídio e depressão. Musicalmente, no entanto, Malvery se concentrava numa sonoridade mais próxima do Death Metal, enquanto Silencer do Black Metal, com o uso ocasional de guitarras limpas e linhas de piano. Nattramn é visto como inovador nesse período. O Silencer enfatizava a natureza de seus gritos estridentes, de alguém que estava sofrendo e sendo atormentado incansavelmente. Em 1999, LeChâtier, vocalista do Malvery, suicidou-se. O álbum de estréia do Malvery, chamado Mortal Entrenchment In Requiem, foi lançado postumamente. Já Nattramn, foi internado em um hospital psiquiátrico na cidade de Växjö, logo após o lançamento do álbum Death - Pierce Me. A banda que, além de Nattramn, tinha Leere como membro, encerrou atividades após esse evento. Uma foto de Nattramn acabou sendo disseminada junto do álbum. Nela, ele se encontra com uma máscara ensanguentada e com bandagens manchadas nas mãos, nas quais aparecem pés de porco amarrados. Propagou-se que Nattramn se torturava durante as gravações das músicas e acabou amputando as mãos para substituí-las pelos pés de porco. Mas o que ele fez foi amarrar com as bandagens os pés de porco às mãos. O álbum Death - Pierce Me foi visto como expressão pura de dor, depressão e loucura.
Shining lança em 1998 o EP Submit to Selfdestruction. Kvarforth se tornou conhecido por suas encenações de automutilação no palco e pelo confronto com seu público como parte das performances da banda. Embora se identifiquem como Black Metal, devido as essas performances, a banda acabou sendo cunhada de DSBM também.
Em 2000, Abyssic Hate lança seu primeiro álbum chamado Suicidal Emotions, que foi visto como uma adaptação sonora do início do Burzum. Porém, as letras apontavam para autolesão, depressão e suicídio. Uma influência similar do Burzum, em combinação com os temas do DSBM, é atribuída ao projeto de Scott Conner, o Xasthur. O álbum de estréia chamado Nocturnal Poisoning é considerado como uma expressão de depressão, frustração e ódio e como um dos trabalhos essenciais do DSBM. Scott Conner, que passou a usar o pseudônimo de Malefic, disse na época: "se ele (Varg Vikernes) conseguiu ter uma banda de um homem só, porque eu também não posso?".
O projeto dinamarquês chamado Nortt, combinou características do DSBM com expressões musicais do Funeral Doom Metal, Black Metal e Dark Ambient, expandindo assim as possibilidades de expressão do Depressive Suicidal Black Metal. O álbum Ligfærd é tido como um dos álbuns mais obscuros e negativos de todos os tempos.
Leviathan é outra banda que teve proximidade com o DSBM. Com seu álbum The Tenth Sub Level of Suicide, a banda lidou com diferentes aspectos do suicídio e trouxe novos elementos ao estilo, como os vocais fortemente insanos e riffs clássicos de Heavy dos anos 80.
Com influências do Rock Gótico e do Pós-punk, em 2005 surge a banda sueca Lifelover, trazendo novos elementos em seu álbum Pulver. Se tornaram marcantes os vocais chorosos de Kim "()" Carlsson e o uso de trechos de programas infantis de televisão. Com o multi-instrumentista e principal compositor Jonas "B" Bergqvist, os temas líricos da banda abordavam principalmente o uso de drogas como válvula de escape, humor negro, miséria, depressão, sarcasmo, ódio e cinismo geral.

Apesar de começar a surgir várias bandas e projetos, e o DSBM começar a se tornar conhecido, o subgênero é considerado o underground do underground do metal. Entre os próprios headbangers há uma marginalização, por assim dizer, em cima do DSBM. É um tipo de música que acabou sendo apreciada, justamente, por quem também se sente "fora do ninho", não pertencente ao mundo e preso dentro de si mesmo.

Entre algumas das bandas que surgiram após a segunda metade da década de 2000 e se tornaram conhecidas nesse meio, estão as americanas I'm In A Coffin e Happy Days, a canadense Sombres Forêts, as japonesas Kanashimi e 彷徨 (Samayoi), as australianas Woods of Desolation e Austere, a italiana Forgotten Tomb, a sueca Hypothermia, a norueguesa Joyless, as francesas Mourning Dawn e Nocturnal Depression, a tcheca Trist, as alemãs Total NegationColdWorld e Through the Paina mexicana Lupus Nocturnus e Black Hatea dinamarquesa Make Change... Kill Yourselfa porto-riquenha Amenofis, a catalã Anjana, a peruana Antylife, a chilena Ave Morphys e SuizidKult, a argentina Chaosophia, a egípcia Dark Philosophy, a portuguêsa Inverno Eterno e a brasileira Thy Light.

O conteúdo principal nas letras de bandas de Depressive Suicidal Black Metal são depressão, comportamento autodestrutivo, suicídio, escuridão, solidão, morte, automutilação e misantropia em conjunto com um humor melancólico e ao mesmo tempo desesperador. Para muitos músicos ocorre uma certa purificação ao confrontar as questões centrais sobre a vida e a morte, e uma convicção de um livre-arbítrio. O compositor ao falar de si mesmo, acaba também, fazendo o ouvinte se identificar com aquilo e a pensar no suicídio como uma afirmação da vida, onde se há a possibilidade de optar por ou contra ela. Há uma espécie de admiração e respeito por aqueles que vencem a "vontade de viver" e que escolhem ser donos do seu próprio destino.

Kim Carlsson, do Lifelover e também da banda Hypothermia, chama o Depressive Black Metal de uma expressão criativa derivada dos sentimentos gerados pela depressão. O conteúdo está no campo da tensão onde evade numa expressão catártica, e a música chega como um ataque perturbador ao receptor e o faz repensar sobre sua própria vida e sobre a morte.
Poucas bandas se apresentam ao vivo pois, normalmente, elas contam com um ou dois membros, e também, muitos músicos relatam que não conseguiriam expressar ao vivo a dor colocada naquele momento em que suas músicas foram gravadas. A autenticidade do sofrimento é muito importante no DSBM. Mas as bandas que fazem apresentações ao vivo, geralmente, criam uma atmosfera onde se machucar diante do público faça parte do show.
A temática costuma se estender a tudo na banda. É comum as capas dos álbuns, EPs e camisetas terem desenhos ou mesmo fotos explícitas de dor, sofrimento e suicídio.
A música em si se baseia, em parte, no estilo das bandas norueguesas da segunda onda do Black Metal, mas geralmente não é atribuída ao gênero devido à ausência do conteúdo satânico, ocultista e anticristão imanente do Black Metal. Poucas bandas, como a Nocturnal Depression, às vezes, fazem um certo paralelo aos temas. Em algumas de suas músicas, esta banda aborda o oculto e a religião como forma de coerção sobre os pensamentos das pessoas, e essa limitação pode, por consequência, gerar pessoas doentes, infelizes, ou entrando em um estado de isolamento e depressão, ou ainda, desencadeando outros transtornos mentais como a esquizofrenia.
O ponto mais peculiar do Depressive Black Metal é a sonoridade simples e crua, o que abre um leque para quem tem apenas um conhecimento básico de música poder criar seu próprio projeto. Em primeiro plano está a atmosfera, que ocorre, em particular, através do uso de distorção do amplificador e passagens ambientes obscuras. O ritmo é lento, com exceções de algumas bandas que aceleram o ritmo para enfatizar o ódio por si mesmo e pela vida, e os vocais são reduzidos, algumas vezes imperceptíveis ou mesmo difíceis de identificar. O som tende a ser minimalista, riffs de guitarra simples que se repetem por quase toda a música. Os vocais variam entre cantos agudos típicos do Black Metal norueguês, fala, gritos e outras expressões pessoais como choro e respiração ofegante. Frequentemente, um efeito de eco é aplicado à voz. A maioria dos artistas tendem a tocar em velocidades médias a baixas. Ocasionalmente, há sobreposições com Death/Doom, Black/Doom até o Funeral Doom, assim, a bateria é simples e cadenciada. Às vezes, tem batidas explosivas mas, consiste principalmente, em ritmos lentos e simples. Outro ponto comum é que, frequentemente, o projeto é apresentado por uma única pessoa o que, às vezes, a faz recorrer ao uso de uma bateria eletrônica ou, atualmente, aos softwares de bateria para computador, ou ainda, é gravada por uma bateria acústica, porém, à parte. Muitas músicas são longas e são mantidas lentas e atmosféricas com o uso de sons ambientais usando teclados, bem como, órgãos ou outros instrumentos de cordas sinteticamente inseridos.
Tanto para os compositores quanto para os ouvintes, a sonoridade aliada às letras geram uma catarse, uma evasão dos sentimentos e emoções confinadas dentro da pessoa. Através da música há uma identificação do ouvinte com quem escreveu aquela letra. Atualmente, a depressão e o suicídio tem sido temas nas mídias devido ao alto índice no mundo todo. Entre os jovens os picos estão alarmantes, e muitos desses jovens se isolam e acabam tendo como companhia apenas a música. O Depressive Black Metal chega até algumas dessas pessoas para gerar um encontro de emoções que estão amordaçando tanto quem emite a música quanto quem a recebe. Isso gera uma sensação de acolhimento. O fato de saber que alguém, em algum lugar do planeta, está deixando evadir a dor e o sofrimento através da música e que você se encontra em situação similar, acaba trazendo uma espécie de alívio, como se a sua dor se evadisse através daquela sonoridade, daquela letra, daqueles gritos e lamúrias também.

Depressive Suicidal Black Metal - Música extrema para pessoas extremadas