domingo, 31 de maio de 2020

Proto-DSBM - Álbuns Essenciais para a Construção do Subgênero

É evidente que esta lista não traz as bandas que se somaram, com suas próprias sonoridades peculiares, ao longo dos anos, já sob o rótulo de Depressive Black Metal. As bandas mencionadas aqui remontam aos Álbuns/EPs/Demos que alicerçaram o que veio a ser chamado, posteriormente, como Depressive Suicidal Black Metal (DSBM).
Dentro da história, desse subgênero do Metal Negro, tiveram inúmeras bandas que trouxeram características singulares e que se tornaram fundamentais para o DSBM. A maioria das bandas não usava o termo Depressive Black Metal, até a década de 2000, apenas seguiam fazendo Black Metal, no entanto, suas temáticas líricas se voltaram para dentro, o eu lírico expunha sua grande desolação, a sua mais severa dor, suas angústias confinadas no âmago de seu ser. Aliada a uma sonoridade menos rápida, focando-se mais em melancolia, em riffs minimalistas e vocais onde a dor ficava evidenciada, o DSBM começou a ser apreciado por todos aqueles que se enxergavam nas canções, por aqueles que, de alguma forma, sentiam uma espécie de conforto ao saber que, através da música, não estavam completamente sós em suas jornadas existenciais. E, assim foram surgindo mais e mais bandas com suas próprias características sonoras. Algumas fazendo uso massivo de teclados e várias linhas de guitarras reverberadas que acrescentavam ainda mais sensação de sufocamento, de ser enevoado pela solidão e perde-se em noites de puro sofrimento; outras mantiveram uma linha crua (raw) voltada às raízes do Black Metal com aspereza vocais e instrumental rasgante. E, muitas outras, seguiram mesclando-se à música Ambiente, Atmosférica e somando outras características sonoras, mas, sem perder as temáticas que se tornaram parte crucial no Depressive Black Metal. Temáticas essas que percorrem o suicídio, o sofrimento, desejo pela morte, dores físicas e emocionais, depressão, ansiedade e outros transtornos mentais, misantropia, solidão, rejeição, bullying, desesperança, auto-ódio, baixa autoestima, automutilação, drogas e álcool como válvula de escape, desespero, tristeza, melancolia, apatia, isolamento, infância/adolescência infeliz, decepções amorosas, perdas de pessoas queridas, visões pessimistas e/ou realistas do mundo, niilismo, crises existenciais entre outros temas relacionados com a dura realidade da vida e com a dor do existir.
As bandas aqui citadas são para interesse de todos que desejam conhecer o DSBM em sua origem e, também, para quem já aprecia este subgênero, mas que possa ter negligenciado algumas dessas bandas ou mesmo não tenha tido oportunidade de conhecê-las ainda.



Manes - Maanens Natt: Esta banda norueguesa, formada por Cernunus e Sargatanas, é uma das que levam os créditos entre as precursoras influentes do DSBM. A primeira fita demo, chamada Maanens Natt, de 1993, é descrita como "uma jornada profundamente atmosférica através das noites frias do Norte em que arpejos melancólicos acasalaram em um ritmo contido com riffs vigorosos e angustiantes". A banda canalizou a depressão e a desesperança do Black Metal e, unindo-se a sintetizadores e discursos alternando com vocais guturais rascantes, fez submergir uma atmosfera altamente sombria e sufocada por uma densa névoa que impregna completamente nas canções. As linhas de guitarras são geladas e notáveis, com arpejos e trêmulos. A bateria é programada, mas se ajusta bem ao demais instrumentos e traz mais sensação de peso e sufocamento nas músicas. O teclado, sem dúvidas, é o instrumento que mais se destaca e traz singularidade a esta demo. Ele cria toda a atmosfera densa, profundamente agonizante e mórbida. O baixo está presente, quase inaudível, no entanto, é uma peça a mais para equilibrar o belo conjunto sonoro. Esta demo teve grande impacto e influenciou diferentes representantes do DSBM. Kvarforth, da banda Shining, e Scott Conner (Malefic), da banda Xasthur, por exemplo, citariam anos depois a banda Manes como grande influenciadora para o som que vieram a criar em suas bandas. Também, viriam a participar de gravações posteriores como cantores convidados no Manes. Embora seja curta, é uma demo essencial para quem deseja escutar o Black Metal atmosférico, sombrio e com elementos desesperadores que viriam a ser característicos no Depressive Suicidal Black Metal.

1. De mørke makters dyp: https://youtu.be/7EykBbqLmvw
3. Under den blodraude maanen: https://youtu.be/qDnbOY1RPiA
4. En hymne til ondskapens fyrste: https://youtu.be/GO8ABFYKIOA

Em 2006 as músicas foram remasterizadas e incluídas no álbum compilado 'Svarte Skoger' e, em 2016, foram oficialmente relançadas na plataforma bandcamp: https://manesnorway.bandcamp.com/album/svarte-skoger



Strid - Strid: Esta banda é tida por muitos como a precursora do DSBM, de fato. Sob o nome Battle gravaram uma demo chamada 'End Of Life' em 1992. Em 1993 a banda mudou seu estilo de "ruídos grosseiros" para "melancolia com múltiplas atmosferas e lentidão somada a gritos agonizantes", que se encontrariam posteriormente em bandas de DSBM. Também mudaram o nome Battle para Strid. A demo 'End of Life' foi relançada em 1994 e, ainda nesse mesmo ano, foi lançado um EP autointitulado. As mudanças metodológicas e temáticas desse EP foram importantes e culminaram com os padrões para o Depressive Black Metal. O álbum tem uma produção surpreendentemente clara, embora ainda raw o suficiente. As letras trafegam por um caminho distante do Black Metal Norueguês da época, focando-se exclusivamente numa profunda melancolia. Embora tenha apenas 2 faixas, elas são suficientes para expressar a mais bela e, ao mesmo tempo, saturada desolação que assola o indivíduo. As músicas criam uma atmosfera de total desespero como se, através dos vocais, também ecoassem os gritos miseráveis que emanam de dentro de cada um de nós. As melodias dolorosas e os uivos torturados parecem cortar como uma faca recém-afiada. Ao final, é como se a morte já não fosse mais algo a se temer ou evitar. As canções trazem um ritmo lento com guitarras melancólicas junto de vocais carregados de tristeza, bateria cadenciada e linhas de baixos expressivos (algo não tão comum no subgênero). Após isso, a banda não lançou mais nada, e, no ano de 2001, o baixista e vocalista Espen Andersen, conhecido pelo pseudônimo de Storm, cometeu suicídio. O músico Nattramn, vocalista da banda Silencer, lamentou bastante o ocorrido e citou Strid como uma de suas bandas favoritas e de forte influência para a sonoridade que ele veio a criar no Silencer.

Strid (EP completo) [1994]: https://www.youtube.com/watch?v=swu-5r5ahPU


Bethlehem - Dark Metal: Essa banda, que é tida como uma banda de Dark Metal - rótulo que veio a partir deste álbum, lançado em 1994 - também teve um importante papel no DSBM. Este álbum foi um importante catalisador para o desenvolvimento do subgênero como uma variante mais independente da música extrema, que rejeitou muitas das características familiares do Black Metal e seguiu por um novo caminho. Mesclando o Black Metal com o Doom Metal, o álbum soa "assustador, atormentado e profundamente triste". Há reflexão interna e auto-exame nas letras, procurando explorar a condição humana e seguindo com temas filosóficos e espirituais abstratos. A banda evidencia a depressão e, especialmente, o suicídio. As músicas são lentas e repletas de sentimentos de desespero, melancolia e loucura. Mesmo possuindo um instrumental simples, as músicas fazem uma progressão incrível, como se mudassem de um humor já triste para algo ainda mais deprimente. O instrumento que ganha destaque é o baixo, que tem uma presença bastante marcante e não apenas copia os acordes das guitarras rítmicas. Bandas como Shining, Silencer e Forgotten Tomb procuraram se aproximar bastante de Bethlehem. O vocalista Andreas Classen foi convidado por Kvarforth para o albúm Within Deep Dark Chambers. Já a banda Silencer, teve o baterista Steve Wolz como convidado para suas gravações de estúdio. E o guitarrista e vocalista Herr Morbid do Forgotten Tomb, fez participações em algumas músicas do Bethlehem.

Dark Metal (álbum completo) [1994]: https://youtu.be/LWN7NZgsnIo

Em 2014 o álbum foi relançado em formato digital na plataforma bandcamp: https://bethlehem.bandcamp.com/album/dark-metal


Shining - Submit to Selfdestruction: Formada quando Niklas Kvarforth tinha apenas 12 anos de idade, esta banda se tornou conhecida no meio do Black Metal quando, anos mais tarde, começaram a realizar apresentações ao vivo onde Niklas se automutilava em palco e se banhava com o próprio sangue. Com bases no Black Metal, as temáticas envolvem temas mais relacionados a comportamentos autodestrutivos, depressão e suicídio. Em 1998, quando Niklas tinha 14 anos, é lançado o EP Submit to Selfdestruction, onde Niklas toca baixo e guitarra. Ele veio a assumir os vocais somente a partir do primeiro álbum da banda. Submit to Selfdestruction é visto como a porta de entrada ao DSBM pois rotular meramente de Black Metal limitaria o que de fato este lançamento procurou catalisar. Considerando a total ausência de qualquer tipo de temática maléfica, antirreligiosa e/ou satânica, este EP trafega de forma a criar uma atmosfera mais desoladora, existencial e sombria. Musicalmente, é encontrado algumas semelhanças com os trabalhos de outras bandas de Black Metal da época, o que não é incomum, visto que os integrantes procuraram manter suas influências como em Burzum e Strid, embora a inspiração mais notável, principalmente pelo lado mais sombrio, vem de Bethlehem. Os vocais ecoam gritos torturados como se o vocalista estivesse à beira do suicídio, e se complementam com a atmosfera sombria e desesperadora que o instrumental evoca. Os riffs de guitarra são bastante presentes. As linhas de baixo e bateria, pela baixa produção, acabam muitas vezes ganhando mais destaque que a guitarra. Mas, de modo geral, as duas músicas deste EP somam às muitas das características que marcariam o Depressive Black Metal. A lentidão que se alterna com a rapidez, ao longo das faixas, os riffs hipnóticos, os vocais desoladores e a atmosfera sufocante, fria e imersa em dor pesam sobre este lançamento que influenciaria várias bandas, anos depois. Shining, ao longo de seus lançamentos, evoluiu bastante e passou a ter uma produção mais limpa, bem como os vocais de Niklas vieram a somar mais carga emocional às músicas. Suas performances ao vivo banhado em sangue e sua hostilidade para com o público também foram fatores que acrescentaram à impactante imagem da banda. Embora nunca tenham aceitado o termo Depressive Suicidal Black Metal, e também rejeitem sempre o rótulo de Black Metal, é evidente que por suas temáticas e sonoridade, em especial dos primeiros lançamentos, a banda esteja incluída como uma das mais influentes do meio.

Submit to Selfdestruction (EP completo) [1998]: https://youtu.be/nC1Ra2P-lG0

Faixa 'Submit to Self-Destruction' relançada em 2002 com os vocais de Niklas Kvarforth para o álbum 'III: Angst - Självdestruktivitetens emissarie': https://soundcloud.com/shining-official/shining-submit-to-self


Malvery - Mortal Entrenchment In Requiem: Embora fosse uma banda de Black Metal, possuía alguma proximidade com o Death Metal, sonoramente falando. Mas suas temáticas trafegavam enfaticamente no desespero interior. A banda foi formada em 1993 por Infurya na bateria, Coroner na guitarra, Vorlord nos teclados e guitarra, J.F. Boyte no baixo e Amer LeChâtier nos vocais, em Quebec, Canadá, mas, somente 6 anos depois, em 1999, foi lançado o álbum de estréia, Mortal Entrenchment In Requiem, que também acabou se tornando o único da banda. O vocalista LeChâtier cometeu suicídio logo após encerrar as gravações e, por consequência, nem chegou a ver o lançamento do mesmo. Este ato cometido por ele contra si mesmo já era refletido em seus vocais que soam sair dos confins de seus pulmões saturados em dor. É possível sentir a angústia misturada com a raiva em cada música. O álbum abre com As Drowning Came From Horizon, uma bela e suave introdução ambiente onde LeChâtier discursa calmamente, mas essa atmosfera já é imersa em melancolia e conduz o ouvinte para o sombrio pesadelo que vêm na música seguinte. LeChâtier dá vazão à toda sua dor e auto-ódio em Drowned In A Dried-Up Lake, a sensação de que ele está sendo esmagado pela música é muito real. A insanidade o enlaça e seus carregados vocais se alternam em falas dramáticas e gritos de dor. As músicas deste álbum são extensões reais de seu profundo sofrimento. Ele traz à tona toda a escuridão que o estrangula internamente. A faixa Suicide, The Only Solution é, sem dúvida, a faixa mais desesperadora do álbum. Nela, ele vocifera tudo o que pode. É um clamor por algum alento, por alguma chama de luz em meio a sua extrema dor, mas, não há nada além de mais escuridão e sofrimento. Evidentemente, pelo título da canção, ele já deixava claro no que sua mente se alicerçava e, de fato, veio a se concretizar dias depois. Ela tem cerca de 11 minutos e se apresenta como se fosse uma miniópera descrevendo o clima tortuoso de LeChâtier, envolvido em um grande tormento e desespero interno. Ele fala, discursa e é tomado pela fúria, pelo desespero e dor, muita dor. As linhas de bateria soam tribais e se mesclam a guitarra tremulando uma melodia agonizante. Os elementos de Death Metal são presentes e dão um ar ainda mais esmagador à música. LeChâtier parece estar sendo apertado mais e mais. O álbum marca não apenas o início de um subgênero focado em expressar a mais profunda dor que acomete o indivíduo, mas, também, o valor da autenticidade na arte, pois LeChâtier, literalmente, cantou aquilo que estava vivenciando e expõe seu inferno pessoal de forma assustadora, dolorosa e, ao mesmo tempo, majestosamente bela. O álbum foi lançado postumamente e como uma homenagem a ele.

Mortal Entrenchment In Requiem (álbum completo) [1999]: https://youtu.be/ZY5XPdxoIAI


Nortt - Graven: Nortt é uma banda-de-um-homem-só formada por Nortt, alguém que sempre se manteve no anonimato, na Dinamarca em 1995. Embora ele percorra o Funeral Doom Metal desde o início, suas temáticas foram uma extensa base ao que veio se chamar de Depressive Black Metal, na década seguinte. Os elementos da música de Nortt são profundamente sombrios e fixados na morbidez, na exaltação da morte, na desesperança humana, no desespero, depressão e vazio existencial. Apesar do álbum Ligfærd, lançado em 2005, ter tido uma melhor critica dentro do metal extremo, foi Graven, lançado em 1999, quem abriu caminho para o que veio a seguir. Esta demo, a 3ª da discografia, manteve a mesma baixa qualidade de suas antecessoras, mas já expressava uma notável evolução em termos sonoros. Nortt intitula sua música como "Pure Depressive Black Funeral Doom Metal" e, de fato, esse termo se aplica muito bem à carga que ele produz. Logo no início, a carga sonora chega pouco a pouco penetrando nas entranhas mais obscuras da desolação e prepara para o intenso peso que chega e envolve rapidamente o ouvinte que se vê preso a uma árdua jornada cheia de dor e tristeza, como se estivesse carregando um enorme fardo sobre os ombros enquanto nada em um mar completamente escuro. Os gritos torturados de Nortt agregam uma beleza mórbida na paisagem sonora que ele cria. As camadas hipnotizantes dos instrumentos são uma das características que Nortt manteve em todos seus lançamentos e que mantém a atenção total do ouvinte. Esta demo é um buraco negro vazio e, ao mesmo tempo, repleto de desolação. É como rastejar em uma caverna fria e úmida no escuro, onde você não vê nada a sua frente, apenas, escuridão interminável. A produção deste álbum é baixa, e foi o último com esse nível, por isso agregou e serviu de influência para muitas bandas que surgiram sob o rótulo de DSBM. Os acordes soam abafados, mas é, justamente, o que torna esse álbum excelente. O foco primordial é a escuridão imposta sobre ele e que transborda dele. Ele oferece uma atmosfera que permite que os sentimentos mais sombrios sejam concentrados. A lentidão é a expressão única da paciência que Nortt coloca, bem como a monotonia da própria existência sentenciada a sofrer dia após dia. Ele evoca toda a dor que agride e tortura vagarosamente o indivíduo. Quanto mais se demora, mais dor é somada. As músicas não têm pressa, não tem um objetivo a alcançar, um ponto a se chegar. Elas são sombrias e inabaláveis ​​em seu caminhar sem fim. Extremamente lentas, mas consumindo tudo ao seu redor, sugando a luz e deixando apenas mais vazio e desolação. Os vocais de Nortt podem ser encontrados à espreita nos cantos certos da marcha fúnebre de suas canções e chegam aumentando ainda mais a atmosfera deprimente e mórbida. A atmosfera é densa, os teclados criam uma melodia digna de uma marcha fúnebre e conduzem num ritmo lento e intenso por todas as músicas. Embora as faixas sejam longas e sem variações, elas não se tornam tediosas, pelo contrário, se unem lançando o ouvinte mais e mais ao fundo do abismo escuro. A bateria se mantém sempre direta e raramente se desvia do simples ‘um-dois-três’ da caixa, chimbal e bumbo, mas, isso é uma peça valiosa na arte de Nortt pois torna o sentimento de pavor ainda mais profundo na música. Os vocais são torturados em todos os sentidos e vêm vagarosos e silenciosos, grunhidos em segundo plano que geram o que as letras regurgitam: dor, luto, morte e desolação. Esta, bem como as demos anteriores, foram de bastante influência para bandas de DSBM da década seguinte pois Nortt consegue unir o ódio do Black Metal com a profunda tristeza do Funeral Doom.

Graven (Demo completa) [1999]: https://www.youtube.com/watch?v=x4ZFcd3gULI


Abyssic Hate - Suicidal Emotions: Formada em 1993 por Shane Rout que, como grande fã da banda-de-um-homem-só Burzum, se manteve como único membro de sua banda. Embora tivesse lançado materiais consistindo em uma sonoridade sombria e soturna, Abyssic Hate entra como uma das bandas precursoras do que viria ser o DSBM apenas no ano 2000 com o lançamento do álbum Suicidal Emotions. Este material traz uma carga intensa de dor, sofrimento, depressão e suicídio. O álbum é denso, sufocante e com uma produção de baixa qualidade que ajuda a criar ainda mais uma atmosfera hipnótica, sombria e envolvente do início ao fim dele. O minimalismo, que se tornou uma forte característica do Depressive Black Metal, é tido aqui como guia de todo o álbum. Os riffs são frios, repetitivos, mas não são cansativos, pelo contrário, eles retêm a atenção do ouvinte da primeira à última música. Pois, embora sejam simples, os riffs de guitarra são muito bem executados e transmitem o que a música tende a expressar. Este álbum mostra, de forma eficaz, que a atmosfera é sempre mais importante do que a tecnicidade. A bateria também não gera muitas variações, e se mantém unicamente como suporte aos demais instrumentos. Apesar de Shane ser multi-instrumentista, ele optou pela bateria programada para este álbum, o que se encaixou com a necessidade quanto ao que a sua música exigiu e nada mais, pois qualquer variação ameaçaria o efeito hipnótico gerado. Os vocais são monótonos e se ajustam perfeitamente às músicas, sem sobrepor e sem se ofuscarem em meio ao instrumental. Servem para refletir a depressão que assola e o isolamento que corrói rotineiramente. Essa monotonia e repetição sonora retrata a qualidade estática e paralisante da solidão e o profundo acinzentar da vida. Esse tom cinza, sem cor, representa muito bem a desesperança que preenche os dias vazios e maçantes pelos quais o indivíduo flutua numa existência inerte e vazia. Um ponto marcante neste álbum é que os riffs nunca são ríspidos ou agressivos, mas sim sempre reflexivos e melancólicos e mudam no momento certo, sem perder o teor hipnotizante e envolvente. As músicas são longas, mas não são tediosas pois os riffs dão lugar a outros com precisão e mantém a densa camada de desespero que Shane transmite. As emoções suicidas são, de fato, refletidas em cada música. As letras percorrem o desejo de pôr um fim a si, por um fim a toda dor, a todo sofrimento e vazio que esmaga, dia após dia, o indivíduo. Este lançamento teve grande peso em bandas que surgiram posteriormente e já eram referidas como de Depressive Black Metal. Um álbum frio, minimalista e que transmite as emoções mais sufocantes de quem deseja nada mais do que encerrar sua vida com suas próprias mãos.

Suicidal Emotions (álbum completo) [2000]: https://youtu.be/W8r7ekfXxXs


Sterbend - Einsamkeit: Banda alemã formada no ano de 2000 por Winterheart na bateria, Typhon nos vocais, Orcus na guitarra e Asmodaios no baixo e guitarra, e que recebeu certa notoriedade quando o Depressive Black Metal começou a ser usado para identificar bandas de Black Metal que percorriam caminhos dolorosos abordando a dor de existir, a depressão e o suicídio. Lançaram sua primeira e única demo no ano de 2001 e traziam uma torturada e sombria atmosfera depressiva com o peso de vocais frios e angustiados. A demo abre com o trecho do filme francês 30 Anos Esta Noite, que aborda o vazio existencial que culmina com o desejo de morrer. Em Einsamkeit é possível perceber de início o peso da banda, o vocalista solta seus gritos uivantes tortuosos repletos da mais densa agonia e, então, canta de maneira peculiar do que se ouvia em outras bandas de Black Metal da época. São gritos de total desespero acompanhados de riffs de guitarra e bateria constantes. A música progride pouco, mas se encaixa perfeitamente à proposta da banda. Todos os instrumentos trabalham de forma precisa e a bateria mantém o bumbo duplo em destaque, tornando não somente esta, mas todas as faixas da demo de uma qualidade ímpar. A produção é baixa, mas não soa saturada, mesmo tendo sida lançada em formato cassete. A faixa se torna um pouco mais rápida, mas sem perder a dor e melancolia a qual ela se propõe exalar. Winterwald é a faixa seguinte e, certamente, a mais rápida da demo. Ela conduz o ouvinte a ir mais fundo na floresta obscurecida gerada mentalmente. Uma gelada floresta no inverno mais agressivo já sentido e, para completar o cenário, uma soturna lua ilumina as estreitas trilhas que cortam a floreta. O indivíduo se perde dentro de si, diante da vista escurecida e, atordoado e confuso, com a sua depressão, tenta encontrar uma forma de escapar de toda essa miséria. Os vocais de Typhon são saturados em dor e desolação, sendo palpável tal desespero. A bateria tem um peso marcante e os riffs de guitarra seguem repetitivos, mas sem causar qualquer tédio. O baixo não é facilmente ouvido em toda a demo, mas, está presente ali, como uma adição a esta sentença depressiva que a banda traz. Depressive Paths Through Fullmoon Forests é, sem dúvida, a faixa mais notável deste lançamento. Tal como seu título, ela tem objetivo primordial em conduzir o ouvinte aos confins da floresta. Uma floresta acinzentada, iluminada por uma lua desbotada e que logo dá vazão para a escuridão total. É aqui que o indivíduo se perde completamente. Os vocais são um misto de fúria e dor e parecem sair do mais profundo abismo. Não há mais nada além de escuridão, solidão e frio, muito frio, corroendo, paralisando e congelando tudo ao redor. A faixa seguinte, Dwelling Lifeless, começa com riffs constantes de guitarra e ritmos equilibrados de bateria, se mantém toda instrumental. É uma faixa que representa o momento em que o indivíduo, preso na gélida floresta, se cala em pensamentos, já não há mais vozes dentro de si, tudo foi completamente congelado. A demo chega ao final com Outroduction, onde há elementos ambientes e atmosféricos com breves melodias de teclado. Com esta demo a banda estabeleceu uma boa fusão de texturas de Black e Doom Metal e trouxe uma sonoridade lenta e mórbida dosada com vocais uivantes e desesperados somando, assim, tijolos na construção do Depressive Suicidal Black Metal.

Einsamkeit (Demo completa) [2001]: https://youtu.be/HcHkNZ-jhRY


Xasthur - Nocturnal Poisoning: Formada em 1995 na cidade de Alhambra, na Califórnia, por Scott Conner, que adotou o pseudônimo Malefic, teve seu primeiro álbum, Nocturnal Poisoning, gravado entre abril e setembro de 2001 e lançado pela gravadora Blood Fire Death em 2002. Contendo 8 faixas e, na maior parte delas, com os instrumentos criando um paredão sonoro com várias camadas, através do qual riffs limpos ocasionalmente aparecem, este álbum é essencial ao que veio ser chamado de Depressive Black Metal. Xasthur, iniciada como uma banda de Black Metal, se destaca em uma sonoridade original onde as camadas de guitarras e teclados são sustentadas, apenas, para serem repentinamente substituídas por uma guitarra minimalista, criando assim, uma atmosfera sombria e opressiva de desastre inevitável. Os vocais são gritados e parecem bem distantes quando comparados ao resto da mixagem, mas há seções tranquilas e perfeitamente audíveis que logo são seguidas com camadas de guitarras e teclados que se desintegram em uma parede de ruído ecoante. Os temas projeção astral, escuridão, desespero, suicídio, ódio e morte marcam este álbum e seriam temas recorrentes em lançamentos futuros. Há um cover de Mütiilation que foi muito bem executado e enriqueceu o álbum, mostrando que Xasthur consegue dar uma dimensão única até mesmo a um cover. As faixas autorais são de uma singularidade que marcou a banda. O uso massivo de camadas de guitarras e teclados geram uma parede etérea que transporta qualquer ouvinte às paisagens mais enevoadas e oníricas possíveis. Este álbum soa mal, sinistro, angustiante e desesperador. Uma mistura perfeita que resulta em pura escuridão. O instrumental é denso, sufocante, com guitarras se entrelaçando aos teclados. O baixo é audível e parece ter vida própria. A bateria, embora programada, é bem ajustada e se encaixa muito bem com os demais instrumentos. Os vocais são simplesmente dolorosos de ouvir, mas dolorosos em um sentido agradável pois é a agonia dos vocais que gera mais riqueza a este lançamento. As camadas de reverberação soam até mesmo nostálgicas, como se falassem de algo não vivido, algo que está além deste mundo, além dos sonhos. Os teclados guiam para além da própria imaginação e as vozes de Malefic se somam para ecoarem gritos, grunhidos e múrmuros penetrantes e inaudíveis, que não sangram raiva, remorso ou sofrimento, mas apenas uma tristeza avassaladora. Essa melancolia doentia parece interminável. As faixas são razoavelmente longas, mas parecem se tornar ainda mais longas à medida que percorrem as trilhas tomadas pela mais densa e congelante neblina. Há um início, mas parece não haver um fim. As linhas de teclado penetram de uma forma tão bela e assustadora como uma lenta marcha rumo ao eterno e oculto que faz com que o ouvinte esqueça de tudo ao seu redor. As músicas prendem a atenção completamente. Xasthur continuou com essas características em lançamentos futuros, e influenciou muitas bandas já categorizadas como Depressive Suicidal Black Metal, e este álbum certamente marca sua jornada em meio às suas próprias saturações majestosamente sonoras.

Nocturnal Poisoning (álbum completo) [2002]: https://metalhit.bandcamp.com/album/nocturnal-poisoning

Nocturnal Poisoning (álbum completo Spotify):  https://open.spotify.com/album/5HEzmVm9C5E1O4YHaTzVuN


Silencer - Death, Pierce Me: Quando se fala em Depressive Black Metal, esta banda é comumente a mais citada, possivelmente, devido a figura impactante de seu vocalista Nattramn, mas, para além da parte visual chocante associada a ele, o motivo real é que esta banda trouxe uma obra-prima em seu álbum de estréia e que soava muito diferente do que era encontrado em bandas de Black Metal na época. Formada inicialmente pelo guitarrista Leere, no ano de 1995, Nattramn se juntou à banda alguns meses depois e ela se consolidou em um duo. Em 1998 gravam uma demo da música 'Death - Pierce Me', evidenciando os vocais agonizantes e afogados em um profundo sofrimento por Nattramn, e a melancolia muito bem trabalhada sonoramente por Leere. Esta música veio a se tornar o nome do primeiro e único álbum da banda, lançado em 2001, e que teve a faixa-demo incluída em uma nova versão. Este álbum é realmente um material sonoro bastante difícil de digerir, no entanto, é um dos essenciais do DSBM e um dos poucos que se tornou amplamente conhecido nesse meio. A música homônima ao álbum inicia-se com um riff suave e cativante onde engana o ouvinte que desconhece o que está por vir. O ponto alto é justamente quando Nattramn surge com seus lamentos rasgando a garganta e implora pela morte. A parte instrumental é muito bem encorpada, com belos riffs e solos de guitarra, marcantes levadas de bateria e linhas de baixo que, embora caminham por vias uniformes com os acordes de guitarra, são bastante expressivos. A finalização dessa música, bem como de todas as outras do álbum, é algo muito interessante, fecha-se de forma precisa. A segunda música, Sterile Nails and Thuderbowels, é a que ganhou maior destaque e, sem dúvidas, é esta a música que evidencia a sublime musicalidade de Leere, afinal, se não fosse por ele, provavelmente, este álbum não teria entrado na história como um clássico do DSBM. Ele fornece uma majestosa atmosfera para as lamúrias atormentadoras de Nattramn, que se estivesse vociferando suas dores sem música, obviamente, não soaria como música. A união musical desses dois é uma expressão sincera de como a boa música pode surgir quando há fidelidade naquilo que se quer transmitir. A faixa seguinte, Taklamakan, é, geralmente, a que mais atrai as pessoas porque, supostamente, Nattramn estava se cortando severamente e engasgando-se durante a gravação dela. É possível ouvir esses sons de forma nítida. Os riffs de baixo que abrem a canção também são bastante marcantes e mantém o ouvinte atento, apenas aguardando o que está por vir. Logo a música explode e, dolorosamente, os traumas existenciais de Nattramn eclodem junto. Os riffs de guitarra são simples, mas muito bem inseridos e se complementam com a bateria bastante rápida. Nessa música Nattramn vai ao extremo, como se estivesse em seu nível máximo de insanidade. A faixa seguinte, The Slow Kill In The Cold, parece ser um contraste à anterior e, com um fluxo lento, suave e melancólico de sintetizador, conduz o ouvinte a uma certa calmaria. Mas, antes mesmo do ouvinte poder imaginar uma paisagem menos sufocante que fôra criada pelas faixas anteriores, é novamente lançado às angústias lacerantes de Nattramn que se seguem em Shall Lead, You Shall Follow, onde a rapidez rítmica permanece. O álbum encerra-se com Feeble Are You - Sons Of Sion, uma canção executada apenas no piano e que traz consigo a sensação de uma certa calmaria depois que não existe mais nada a ser destruído, pois tudo está morto, terminado, encerrado. O que tornou a banda conhecida no meio do Black Metal foram os vários rumores, suposições e lendas que se mesclaram a eventos reais ocorridos com Nattramn. Nattramn não queria apenas expressar sua dor e angústia através de suas letras e seus vocais, ele queria que a música soasse o mais real possível para que o ouvinte pudesse sentir quão desesperado ele estava. E ele decidiu se automutilar antes e durante as gravações de cada faixa. Seus gritos eram de extrema dor, uma mistura do que ele estava sentindo fisicamente naquele momento junto com as dores mentais que ele já arrastava por anos. Gritos, urros, choros e sons de ânsia de vômito e engasgamento podem ser ouvidos nas músicas. Esses detalhes incomuns somaram para que os críticos descreverem a música de Silencer como ruídos tolos e sem graça, mas, quando se olha para as características estéticas que são tecidas a partir da subjetividade emocional complexa de Nattramn e Leere, fica claro que todos os instrumentos, as falas, lamentos, urros e gritos sobem do mais profundo poço onde habitam os seres massacrados pela existência humana. Pouco tempo após o lançamento do álbum, Nattramn foi encaminhando para um hospital psiquiátrico em período integral de internação, e a banda encerrou atividades após esse evento. Independente dos vários boatos, inverdades e datas imprecisas, o fato é que em suas músicas Nattramn expressou todo o seu desespero e sua insatisfação com a vida e com o mundo, isso de maneira bastante direta. Ele enfatizou a natureza de seus gritos estridentes, de alguém que estava sofrendo e sendo atormentado incansavelmente. Uma foto de Nattramn acabou sendo disseminada junto do álbum e, nela, ele se encontra com uma máscara ensanguentada e com bandagens manchadas de sangue nas mãos, nas quais aparecem pés de porco amarrados. Propagou-se que Nattramn se torturava durante as gravações das músicas e acabou amputando as mãos para substituí-las pelos pés de porco, mas, o que ele fez, de fato, foi amarrar com as bandagens os pés de porco às mãos. Mesmo vinte anos após seu lançamento, ainda há quem tache este álbum como uma peça horrível e que deve ser esquecida, como algo que deve ser retirado do Black Metal - a banda sempre disse fazer Black Metal e nada além -, mas não, não há motivos para essas duras críticas quando se analisa a banda, o álbum, as expressões ali colocadas sem vestimentas. Essas melodias foram arrancadas de momentos altamente emocionais e genuínos. Elas se uniram para formar uma camada crua, porém reveladora e intrigante. As letras são muito pessoais e/ou confessionais, que Nattramn escreveu para exorcizar seus demônios mais terríveis. Isso pode ser lido, escutado e mesmo visualizado - em paisagens mentais - como um vislumbre de momentos específicos da vida de um homem atormentado pela dor, pela loucura, pela existência cruel onde o sofrimento é imensurável. Há muita crueza e mensagens diretas em suas composições, mas, também, há espaço para abstrações, as letras e as melodias são muito mais emocionais do que se pode enxergar, de início, há imagens subjetivas e extremamente pessoais que não se pode encontrar na maioria das músicas de outras bandas do gênero. Nattramn e Leere uniram a profundidade dolorosa e escura de si mesmos, do sofrimento pessoal, e sangraram isto tudo em um estúdio de gravação.  Não existiu um objetivo, usando essa linguagem direta ou abstrata, de evocar algo, mas sim de expurgar. Expurgar tudo que corroía internamente e sangrava para além da carne.  Tanto é que este álbum não pode ser tido em meio termo, por isso, ou se gosta ou não se gosta dele. O ouvinte vai defini-lo de acordo com o que se deseja capturar dele e de como pode sentir empatia por estes ou quaisquer outros músicos, pois as músicas deste álbum se manifestam como instantâneos pessoais de estados emocionais extremos e narrativas sombrias que procuram falar em uma linguagem de angústia, dor, desespero, que pode ser atraente ao ouvinte, porque este pode ou não ter vivenciado momentos semelhantes. Para o Depressive Suicidal Black Metal este é um álbum de extrema importância e que agrega, definitivamente, aos álbuns onde a dor é muito palpável. Death - Pierce Me tem sido visto como expressão pura de dor, depressão e loucura.


Death, Pierce Me (álbum completo) [2001]: https://silencer-swe.bandcamp.com/album/death-pierce-me


Como dito no início, as bandas e seus respectivos álbuns mencionados aqui são tidas como uma base e influência (Proto-DSBM) para as bandas que de fato surgiram e já foram inseridas dentro do Depressive Suicidal Black Metal. Após o ano de 2003 surgiram inúmeras bandas e o ano de 2005, sem dúvidas, foi um ano em que muitas, em diversos países, se formaram e trouxeram lançamentos com características que serviram de base para as bandas da década seguinte. Então, obviamente, um texto com as primeiras bandas, efetivamente, de Depressive Suicidal Black Metal da década de 2000 bem como um texto trazendo as bandas que abriram a cena em território brasileiro, seria agregador. Então, provavelmente, trarei textos assim no futuro.

sábado, 16 de maio de 2020

Entrevista com Érdos e Astratta


O Brasil tem uma quantidade inumerável de artistas independentes que, apesar do alcance extraordinário que a internet oferece, ainda se mantém desconhecidos até no meio Underground. No entanto, essas duas pessoas mencionadas aqui, de enorme talento e simpatia, vêm pouco a pouco percorrendo o caminho do meio musical e trazendo sua arte sonora para todos que apreciam a música em sua forma mais honesta. Tivemos o prazer de conversar com o músico Érdos e a musicista Astratta, ambos a frente de vários projetos e bandas, tanto solos quanto juntos, entre eles estão Autoquíria, Den Svarta Häxan, Synthsatan, Encephalo Swarm, Entardecer, Xaktenarh, MDZhB, V/H/S, Montosse... e, com tanta expressão de criatividade assim, fez com que criassem o próprio selo musical o Póstumo Sölstício Records. Evidentemente, a música não é um mero hobby para ambos, ela é algo que se tornou inerente à rotina dessa dupla.

Quais são suas influências musicais? Vocês têm familiares no meio da música, ou foi um interesse que partiu de vocês mesmos? E com quantos anos iniciaram na música?
Érdos: Olá pessoal, agradecemos a oportunidade desta entrevista! Bem, comecei a me interessar por música acho que com uns 9 anos de idade quando um dia encontrei um violão velho em cima de um guarda-roupa (até hoje me pergunto de quem era) em uma das casas que morei, na época era bem comum minha família não permanecer mais de um ano na mesma casa, (o que me fazia ter que me mudar muito). Na minha família não há músicos nem incentivo por parte deles, muito embora que por influência da minha mãe e seus vinis tive meu primeiro contato de fato com música, como The Cure, Sigue Sigue Sputnik e etc... Certa vez conheci um grande amigo até hoje (o Kadu Hammet) e por tardes, observava ele tocando sua guitarra e achava muito bacana, posteriormente ele fez alguns projetos por conta própria como Luxúria das Valquirias, Perverted Midnights e Noite Horrenda. Tudo aquilo era fascinante, observá-lo usando uma câmera pra gravar de um amp, depois usar um editor de vídeos para juntar tudo, então devo tudo o que construí até aqui a ele (uma vez que ele me emprestava muitos discos do seu extenso acervo).
Astratta: Eu comecei a me interessar por música muito cedo, meus pais sempre ouviram muita música de forma eclética. Na minha casa ouvíamos de tudo, música clássica, heavy metal, rock psicodélico, progressivo, eletrônica... até o mais suave jazz. Quando eu tinha meus seis anos de idade, eu costumava acompanhar a minha mãe nas casas de shows onde ela se apresentava como artista solo, (sim, ela é musicista) quando eu estava nesses lugares, sempre observava o baterista, fascinada pelo instrumento. Até que uma vez, durante uma pausa entre uma apresentação e outra, fui correndo desesperadamente até a bateria. Alguns minutos depois eu já estava acompanhando a minha mãe em uma de suas músicas. Foi mágico. Desde então fui melhorando como baterista e participei de algumas ‘lives’ com algumas bandas, onde tive um bom aprendizado. Depois de um tempo, comecei a me interessar por instrumentos de corda, como guitarra e violão. Só então em meados de 2015 pude ter acesso a equipamentos de gravação e pude também iniciar o meu primeiro projeto musical. Desde então, tenho trabalhado com diversos tipos de música me envolvendo cada vez mais com coisas que amo, como música experimental e metal.

Vocês somam uma quantidade bastante considerável de bandas e projetos. Ambos se unem em muitos deles e, também, carregam seus projetos solos. Como se dá o processo de composição e construção de melodia? Tanto nas parcerias quanto sozinhos, vocês se inspiram em quê?
Érdos: Quando iniciei criando músicas eu criava as melodias no violão e as gravava com o celular. Como não tinha a menor condição (nem conhecimento) pra gravar nada, as idéias permaneciam guardadas. As primeiras letras eu rascunhava no meu antigo caderno de escola. (Faz tempo hem). Posteriormente estudando comecei a gravar o teclado no computador, tudo muito chiado (Lo-Fi é chique), daí saiu a primeira demo do V/H/S intitulada "Entardeceres Invividos" (primeira demo feita numa DAW* ela, como tudo o que eu criava, era carregada no SoundCloud. Inicialmente, isso foi uma experiência legal, onde consegui concluir algo. Posteriormente, as melodias (aquelas do início que eu gravava com o celular) só se tornaram músicas mesmo com a ajuda de Astratta. Bem, isso originou nosso primeiro Full-Length "Opus DCLXVI", nele coloquei todas as antigas melodias e letras de momentos diversos de minha vida. E por fim, atualmente, meu processo de composição mudou muito. Às vezes tenho um estalo na mente e anoto alguma ideia para abordar, e como tenho sentimentos e momentos diversos de minha vida, preciso de várias bandas para que eu possa explorar isso de forma adequada, no Autoquíria por exemplo, eu abordo o Alzheimer da minha avó, as lembranças de bons momentos e pequenos nuances que presenciei, como meu primeiro contato com a perda (e o choque de realidade que isso despertou). Resumindo um pouco, componho sem saber aonde vou, no final da composição eu decido onde melhor se encaixa o que, e acabo por usar letras que a muito já tenho guardadas.
Astratta: Eu não tenho noção do que estou fazendo. Simplesmente, abro minha DAW e dentro de algumas horas já tenho uma música pronta. Curioso não?!

*DAW (Digital Audio Workstation) em português “Estação de Trabalho de Áudio Digital” é um sequenciador que tem a finalidade de gravar, editar e tocar áudio digital. Originalmente, os DAWs eram máquinas que não faziam uso de fita magnética para tratar áudio, sendo baseadas em microprocessadores. Atualmente, com o uso popular de microcomputadores e smartphones, existem uma gama de softwares e aplicativos que realizam essas funções tais como Audacity, FL Studio, Pro Tools entre outros.

Todos os projetos, ou a maior parte, seguem na linha do metal, mais especificamente do metal extremo. Vocês costumam escutar outros gêneros musicais? Quais?
Érdos: Sem dúvidas, eu aprecio a boa música e suas mais diversas expressões como o folk, a música ambiente, stone, música experimental, post-punk e industrial e, com o advento da internet nos últimos anos, tem surgido inúmeros gêneros que me influenciam bastante, como o chiptune, nintendocore, vaporwave, retrowave, até bandas que flertam entre gêneros como música barroca e metal. Acho que o metal é algo que transcende eras e é intrínseco que irá continuar surgindo subgêneros e mesclas que sempre estarei ansioso para ouvir.
Astratta: Sim, embora eu seja mais conhecida no meio do metal extremo, sou uma grande fã da música experimental em si, principalmente da música eletrônica experimental (IDM) e jazz fusion.

Em qual projeto iniciou a primeira parceria de vocês, e como surgiu essa conexão? Já se conheciam, haviam tido algum contato prévio?
Astratta: O Érdos já gravava suas próprias músicas quando o conheci, a gente se dava muito bem, falávamos sobre música o tempo todo e tínhamos os gostos parecidos. Até que um dia ele me propôs assumir as baterias do V/H/S. Eu não hesitei, ele tinha idéias incríveis e conseguia transmitir seus sentimentos mais profundos em seus riffs. Então veio nosso primeiro trabalho juntos, o já mencionado ‘Opus DCLXVI’, gravado em 2016 e liberado posteriormente pelo selo que criamos juntos (atualmente o Póstumo Sölstício Records).
Érdos: Somos inseparáveis. Compartilhamos todo nosso conhecimento entre nós, sempre que aprendemos ou conhecemos algo novo.

Ambos são músicos completos, cantam, tocam e compõem. Uma versatilidade admirável. Quando se unem para criar música, vocês definem seus lugares (quem vai cantar, compor, tocar os instrumentos) ou é algo que surge no momento e de acordo com a proposta musical?
Astratta: Depende. Eu não tenho muita habilidade na escrita, então eu prefiro compor a parte instrumental e deixar que o Érdos escreva e cante quando estamos trabalhando juntos.
Érdos: Em minha defesa, há sempre uma briga pra decidir quem faz o que, então decidimos dividir apenas bandas que criamos juntos como o Synthsatan, haha.

É notável que a música está presente massivamente na vida de vocês. Vocês sentem que, de alguma forma, a música canaliza seus sentimentos e emoções sufocantes? Ela proporciona um escape positivo?
Érdos: Não é como em outros hobbies, é mais uma necessidade corriqueira, é algo que precisamos pra preencher o vazio e dar algum sentido a esta breve e efêmera estadia.
Astratta: O processo de composição funciona como uma terapia para mim, se algum dia eu ficar incapaz de criar música, seja por alguma doença, velhice ou algo do tipo, eu sei que nunca vou conseguir superar isso.

Vocês são pessoas, relativamente, conhecidas na cena underground aqui do país. Érdos, inclusive, é ilustrador e produz logotipos e outras artes para várias bandas. Astratta vêm fazendo parcerias com tantos outros músicos. Como vocês vêem essa cena, mais especificamente do Depressive Black Metal, aqui no Brasil?
Érdos: Há realmente uma quantidade considerável de bandas todas as semanas (eu confesso que não consigo mais acompanhar) e isso é ótimo, ver que o conhecimento e o poder que antes era detido apenas pela indústria fonográfica agora está sendo amplamente divulgado e cada vez mais pessoas adotam o DIY*, metem as caras e fazem algo que dê algum sentido a suas vidas, seja na música quanto na arte, eu valorizo essa expressão artística mais pessoal que vem ocorrendo nesses últimos anos.
Astratta: Você sempre pode ver novos projetos de Depressive Black Metal surgindo todos os dias, tanto projeto solos quanto projetos interestaduais. Me impressiona o quanto isso vem crescendo no país. Se eu interagisse mais na internet, de fato, teria a chance de conhecer muito mais pessoas neste meio.

*DIY (do it yourself) em português “Faça-Você-Mesmo” é um termo para indicar o método de construção, modificação ou reparação das coisas sem a ajuda direta de especialistas ou profissionais. Na música é usado para se referir a bandas ou artistas solos e que lançam suas músicas de forma independente ou em gravadoras autofinanciadas.



Montosse traz o encaixe entre a melancolia e o sombrio. É interessante e, ao mesmo tempo, intrigada tal relação. É perceptível que muitas pessoas que apreciam a música depressiva suicida também gostam da cultura do horror (filmes, livros, imagens, etc.). Érdos, para você que compõe as letras desse projeto, você acredita que a existência humana é dolorosa e também pavorosa e, por isso, gera essa busca pelo obscuro?
Érdos: Acredito que o medo é inerente a nossa existência, desde muito pequenos já nascemos chorando (tememos sem nem saber a que), quando crianças estamos cercados por histórias de horror, seja no canto escuro do quarto, ou na maldade de uma história onde a bruxa envenena uma garota, ou até nos televisores antigos com monitores CRT (que quando estavam desligados eu procurava pareidolias ali). Quando mais velhos entendemos parte das coisas que acontecem ao redor do mundo e bem essa parte preferimos viver em negação a pensar todos como vermes em potencial, o ser humano por vezes se provou desprezível, seja pelo maltrato animal ou em coisas bem mais horrendas, partindo pra parte mais irracional, costumamos não confrontar nossa mortalidade, viver na ilusão de que enquanto houver amanhã, nós ou quem amamos não irão morrer e, pra ser sincero, o mistério por trás da morte tem sua beleza, nesse caso o medo é algo tão enraizado no inconsciente e de certa forma gostamos disso, a beleza está no efêmero, se vivêssemos para sempre, que graça haveria? Pra mim, o metal extremo preencheu parte da minha necessidade pelo obscuro, tal como a literatura de horror (como do mestre Lovecraft que guia parte da inspiração para o Montosse com seu horror cósmico), os filmes que assistia quando criança (e não dormia suspeitando que uma mão gelada repousaria no meu ombro a qualquer momento, haha). Bem, o medo cumpre o seu papel em nos lembrar que somos mortais e que tanto a humanidade quanto a natureza são cruéis.

As mulheres têm ganhado um espaço cada vez maior, seja no meio musical ou outras áreas artísticas. Como é sua relação com a Astratta, Érdos?
Érdos: Na maior parte do tempo nos damos bem, dividimos as mesmas coisas, assistimos os mesmos filmes, ouvimos as mesmas músicas e nos unimos pra trazer coisas sempre bem diferentes juntos, recentemente estou produzindo (tentando) um jogo e ela está envolvida em algumas partes. Então, independentemente de onde eu vá, eu sei que ela virá comigo.

Não são comuns apresentações ao vivo de bandas onde há um membro apenas, ou mesmo dois. Mas, vocês cogitam fazer algo assim no futuro?
Érdos: Bem, meu caro, pretendemos sim, possivelmente um dia haverá apresentações. No momento, estamos em um hiato financeiro, hahaha, e bem, todos os planos estão restritos à nossa organização futura. Estou atualmente tentando vender minha casa e mudar para um ônibus, e com isso vamos nos organizar para viajar pelo mundo e nos apresentarmos aonde formos.

É evidente a paixão pela música que ambos têm. Vocês costumam realizar suas atividades cotidianas ouvindo música? Quais bandas têm escutado recentemente, e quais podem indicar aos fãs?
Érdos: Costumava ouvir sempre um álbum a caminho do trabalho (vez que levava mais de uma hora pra chegar até lá) e principalmente na hora de dormir, de olhos fechados é um bom momento para refletir e apreciar a música sem interferências. Alguns álbuns me fazem ter sentimentos únicos, vou listar um de cada gênero pra não ficar extenso: (Oranssi Pazuzu) Valonielu; (ZombieHyperdrive) Hyperion; (Old Silver Key) Tales of Wanderings; (Kraftwerk)Computer World; (Luxúria de Lilith) Sucumbidos Pela Carne; (Amesoeurs)Amesoeurs; (Lorn) Vessel; (Igorrr) Hallelujah; (Deathstarts) Night ElectricNight; (Woods of Desolation) Torn Beyond Reason; (Insomnium) Shadows of theDying Sun; (Sólstafir) Svartir Sandar; (Symphony Draconis) Supreme Art of Renunciation; (Projeto Trator) Despacho; (Lifelover) Pulver.
Astratta: Eu escuto música praticamente o dia inteiro. Tanto por que eu amo ouvir música ou seja para acrescentar algum conhecimento no meu trabalho com produção musical. Acho que escuto cerca de cinco álbuns por dia. Eu vou mencionar o que tenho escutado recentemente, na verdade, eu fiz uma playlist com alguns dos meus artistas favoritos incluindo Hypomanie, SunDevoured Earth, Boards of Canada, Drab Majestyµ-Ziq, Clatterbox, Ghost Bath, Brothomstates, Rotting Christ. 

Considerações finais.
Érdos/Astratta: Agradecemos novamente a consideração que nos tem, e esperamos que mais pessoas tragam suas perspectivas de vida em forma de arte para o metal e se esforcem para tirar seus sentimentos cotidianos e depositar isso na música. Temos certeza de que há muitas pessoas com problemas diversos e a música é uma ótima terapia para lidar com tudo, grave seu primeiro som, faça seu primeiro riff ou escreva sua primeira letra. Espero termos ajudado alguém. Abraços.

Você pode encontrar todos os lançamentos solos de Érdos e Astratta, bem como as bandas/projetos onde ambos se unem, e mais informações no BandcampFacebookInstagramYouTube e VK.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Lançamentos de Janeiro, Fevereiro, Março e Abril de 2020


Aqui constam as bandas e projetos que lançaram material no primeiro quadrimestre do ano (janeiro, fevereiro, março e abril) de 2020.

1. Coronavirus - The End Is Near: Formada por Ash Montag e Henne, esta banda mexicana traz, em primeiro momento, o que poderia ser mais um humor negro em meio ao metal, mas, não, essa impressão (devido ao nome da banda) é deixada de lado pois a musicalidade evoca a dor e a insatisfação pela vida. Embora tenha lançado apenas um single, este teve um alcance extraordinário e o fez por merecer. Baseada em experiências pessoais, Ash canta suas dolorosas angústias e sentimento de perda, pavor, indigestão com a vida e tudo que a cerca.

https://covid19blackmetal.bandcamp.com/track/the-end-is-near

2. Aþigra - Asche zu Asche: Banda alemã que traz em seu EP de estréia uma curta, mas, de certa forma, compreensível história da dissuasão psíquica do narrador lírico que é conduzido do sentimento de intensa dor interior até a sua própria morte. Representando as lutas e inseguranças internas que sufocam o indivíduo - que busca meios de amenizar suas angústias - as canções direcionam até o inevitável, quando o indivíduo se depara com o único remédio eficaz: a morte. A banda lançou no mês seguinte, abril, o 2º EP intitulado 'ENDZEIT' que carrega a sonoridade marcada pelo Asche zu Asche e demonstra que muito mais está por vir.

https://athigra.bandcamp.com/album/asche-zu-asche

3. Melankolium - Joy Turned Foul: Anteriormente com o nome Coilwound, tendo lançado 2 álbuns, neste ano a banda japonesa mudou o nome para Melankolium, no entanto, a densa enevoada sonoridade continua aqui. Com uma atmosfera afundada no desespero humano aliada à intensa ira inerente a todo indivíduo que foi jogado nesse mundo, Lacrimaer - o único membro da banda - traz 5 faixas sufocantes do início ao fim.

https://melankolium.bandcamp.com/album/joy-turned-foul

4. Depressiona - Ano Novo: A música, quando composta com sentimentos genuínos, não precisa necessariamente da parte lírica, de vocais vociferando e clamando angústias, e é isso que este single traz. Pode-se dizer que ele é uma segunda parte do que a banda lançou há alguns anos. Após a canção ‘Feliz Natal’, Depressiona traz Ano Novo e evidencia a sensação de abandono presente nestas datas festivas que, em todos os lugares, há sinais de encontros, trocas de presentes, felicidade e amor. Infelizmente, muitas pessoas não podem experimentar isso que o resto do mundo está vivendo, o que acaba por gerar muita angústia, amargura e dor.  Além disso, é comum as pessoas fingirem se importar umas com as outras somente nessas confraternizações e, no restante do ano, sequer se importarem. Majestosamente, lindamente e, ao mesmo tempo, tristemente a canção nos faz repensar sobre os anos que passamos e que, talvez, ainda passaremos acompanhados, apenas, pela solidão.

https://www.youtube.com/watch?v=vTI4jYrm9go

5. Fentanil - Quarentine: Surgida, à princípio, de forma em os membros pudessem se manter ocupados no período de quarentena que se estende por todo o planeta, essa banda que conta com membros do Brasil e do Japão, traz em sua estréia músicas exalando o peso de ser dominado pelos prazeres momentâneos de substâncias que nos conduzem à alegria artificial, no entanto, as mais próximas do real que muitos indivíduos poderão experimentar, de algum modo. As 3 faixas são bem produzidas e evidencia a qualidade que já se arrasta por lançamentos posteriores.

https://fentanil.bandcamp.com/album/quarantine

6. Midnight Loss - A Perda da Meia Noite: Após lançamentos consistentes e expressando uma evolução sonora, a banda fundada por Neito vêm somar com mais um álbum - o 3º da discografia - mostrando competência e melodias que dosam a melancolia aliada à desesperança pela rotina massivamente cruel.

https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mjLTFOI9DkSVWgphFSdDIorPAc6FjyWmc

7. Samobójstwo - Suicide Attempt: Oriunda de Breslávia na Polônia, Samobójstwo - que significa ‘suicídio’ em polonês - surge em sua demo de estréia com músicas conduzidas por guitarras minimalistas e bateria cadenciada dando suporte aos vocais ásperos de Denatus que regurgita suas lamúrias, suas insatisfações com a vida, com a sociedade e com o mundo num todo.

https://samobojstwoband.bandcamp.com/album/suicide-attempt

8. Unguilty - Beyond the Black Horizon: Após uma demo e um álbum lançados com qualidade e mostrando o perfeito conjunto do Black Metal com o Doom Metal, a banda brasileira Unguilty segue com seu segundo álbum a expressão pura da dor, da solidão, da misantropia e miséria humana. F.R. dosa belos arranjos de piano com guitarras e vocais pesados e traz à tona como a vida pode ser melancólica e agressiva, nos direcionando a anseios nunca alcançados, à sonhos ofuscados pelo tempo e pela severa realidade. Com doses de existencialismo, as letras são desabafos, mas, também, confrontos consigo mesmo, com o ser interno que, devido às mazelas da vida, se decompôs e perdeu-se em escuras e desoladas trilhas da existência.

https://visionaire.bandcamp.com/album/unguilty-beyond-the-black-horizon

9. Depressão Maior - Leito 167: Com uma produção de baixa qualidade, mas, com foco em regurgitar as mais saturadas emoções, essa banda traz em sua demo de estréia a temática assustadora e, ao mesmo tempo, bastante dolorosa do isolamento em um hospital psiquiátrico onde os pacientes chegam ao ponto de crer que nem sejam mesmo humanos e, apenas, aguardam pela morte como um bálsamo em meio ao inferno que vivem dia após dia. Baseada em sua própria experiência num local assim, Esquivo dosa agressividade com melancolia e evidencia a intensa angústia de um período pavoroso de sua existência.

https://depressaomaior.bandcamp.com/album/leito-167-demo

10. Eternally Riverless - Diving in Melancholic: Uma doce e melancólica viagem sonora é o que proporciona essa banda tailandesa de DSBM instrumental. Atmosfera dosando a triste sensação que nos toma internamente com a densa fadiga que se assenta sobre toda a existência, as canções não deixam de ser belas e, em alguns momentos, nos gerar uma tranquilidade, ou o mais perto disso que possamos ter.

https://www.youtube.com/watch?v=QZhb1xZ7Zbg

11. Kintsukuroi - Calling of Razors/About Emotions: Formada por R.F. Sinister e B.G., essa banda italiana - cuja o nome é uma palavra japonesa (金繕い Kintsukoroi) que, literalmente, se traduz como "reparo de ouro" e se refere a arte japonesa de reparar cerâmica quebrada com laca, ouro ou prata e essa ação trata a quebra e o reparo como parte da história de um objeto, criando algo mais resistente e bonito a partir de feridas e quebras - estréia uma demo com 2 faixas expressivas, e mais 2 sendo versões instrumentais das anteriores. Com o filosófico significado de seu nome unindo-se às letras evocando uma solução, ou algo que possa amenizar o fardo de existir, a banda dosa os instrumentos e vocais gerando uma sombria e densa harmonia.

https://kintsukuroi.bandcamp.com/album/calling-of-razors-about-emotions

12. Frio Insólito - Desespero: Depois de um período vago entre lançamentos, Nícolas Astaroth e Depressiona surgem com o 4º single, trazendo todo o peso da maçante rotina recebendo o soro corrosivo da dor nas veias. Com vocais rústicos imerso em uma sonoridade crua, a banda vocifera a amarga ânsia de despertar e adormecer desejando, apenas, que a vida chegue ao seu fim, o mais breve possível. Possivelmente, um material repleto de mais clamores logo estará por vir.

https://www.youtube.com/watch?v=vRIsMbtORt0

13. Death Mantra - Death Mantra: Solidão, depressão e morte - com toques de tradições líricas do Oriente Médio - são alguns dos temas abordados por esta banda. O mantra da morte é ecoado em cada canção, fazendo jus ao seu nome e, evidentemente, trazendo à tona o insaciável desejo por aquilo que, além de inevitável, é a solução para findar a escuridão da existência.

https://stenchovdeath.bandcamp.com/album/death-mantra-death-mantra

14. Abismika - Marasmo do Subsolo: A banda formada por Alan Joseph e Depressiona vêm trazendo inovação a cada lançamento. Uma evolução que acrescenta mais qualidade e remete o talento dessa dupla. Esse single retrata a dor e o peso de sobreviver quando tudo se esvaiu. Sem sonhos, sem anseios, sem esperanças num amanhã não há muito o que se fazer e, como único recurso, clamar pela morte, implorar por seu abraço, é o que resta. Alan dosa suas falas limpas com seu característico peso vocal gutural que se encontram perfeitamente com os instrumentos. A pintura usada como ilustração da canção se une a um grito silencioso e evocativo que Abismika procura trazer. Uma pintura da artista Käthe Kollwitz, chamada Frau an der Wiege (Mulher no berço), mostra uma mulher posicionada em um banquinho, debruçada sobre o berço do bebê. Sua mão direita toca suavemente o rosto do pequeno ser, quase como se fosse verificar se a criança ainda está viva. A mão esquerda agarra a cabeça em um gesto de desespero e, a quietude do bebê e o tormento da mãe, enfatiza as impressões de exaustão física e emocional nos rostos a ponto de perderem parte de seu reconhecimento e individualidade. E é, justamente, o que a letra da música expressa com precisão.

https://abismika.bandcamp.com/track/marasmo-do-subsolo

15. Descensvs - Inferos Inferae: Seguindo pelos cáusticos caminhos do Raw Black Metal, com crueza e aspereza vocais unidas às guitarras agudas cortantes como navalhas, essa banda traz em sua parte lírica o devastador pesar e a intragável angústia que percorre sobre a vida humana. O pavor, a ira, o desprazer em trilhar as sinuosas vielas da dor e do sofrimento são expostos, como vísceras esparramando-se para fora de um corpo, pelos vocais carregados de furor por ZK.

https://descensvs.bandcamp.com/album/inferos-inferae

16. Abyssal Pain - Meu Sofrimento: Serotonin, único membro a frente da banda, mostrou anteriormente que simplicidade combinada à vazão de emoções genuínas resultam em uma bela expressão musical. Em sua primeira DEMO, ele traz 5 canções que exalam a angústia, a monotonia, a melancolia que permeia os dias e levam o indivíduo a se fechar mais e mais dentro de si mesmo. Traz, ainda, uma faixa inspirada pela banda sueca Lifelover, sendo uma peça bem inserida neste material.

https://www.youtube.com/watch?v=tORXJI0yKv8

17. Lapse - Demo I: Música crua e direta. Nas trilhas do bom e velho Raw Black Metal dosando com a melancolia do Depressive é a junção que essa banda, da cidade norte-americana de Pittsburgh, composta por um homem só, traz em sua demo de estréia unida a muita agressividade sonora com letras que percorrem o auto-ódio, apatia, morte, vazio existencial e a pesada insatisfação pela vida.

https://lapseusbm.bandcamp.com/album/demo-i

18. Pessimista - Sanidade?: Esta banda, que conta com Jaketeme como único membro, já expressou em seus trabalhos anteriores a beleza da música extrema com doses de melancolia. Neste álbum a sonoridade está ainda mais equalizada de forma majestosa, com vocais expressivos vociferando a dor e insatisfação com a vida e tudo o mais ao redor. As temáticas das letras persistem em dosar a dor exposta de forma crua com os desejos ardentes e angustiantes do indivíduo que busca meios de findar com a própria existência, devido às suas dores mentais sufocadas pelo peso de sobreviver em meio a uma sociedade onde a insensibilidade para com o outro se tornou rotineiro.

https://pessimista.bandcamp.com/album/sanidade

19. Sorry... - Bereavement of Existence: Banda da Grécia, terra onde o DSBM não tem tanta expressão, no entanto, esta banda representa muito bem a dor que enclausura os nativos de qualquer local sobre o planeta. Com uma sonoridade carregada de emoção, vocais distantes, mas suficientes para refletir o sofrimento inerente ao indivíduo, este álbum é a voz daqueles que se encontram sob angústias infindáveis e total isolação do mundo que os cerca.

https://sorrydsbm.bandcamp.com/album/bereavement-of-existence

20. Nihilistium - Nihilistium: Formada unicamente por Mörtemiis, esta banda é a expressão da beleza que o metal negro pode gerar. Com riffs minimalistas unidos aos vocais enevoados da vocalista, ela traz a revolta lírica em meio ao desespero de sobreviver em uma existência onde nada perdura, exceto a dor. Neste lançamento, além de faixas autorais, que se mantém com peso e melancolia dos anteriores, ela traz um cover muito bem executado de Suicide of My Mind da banda Araxas, e um cover da banda Darkthrone como homenagem a uma de suas influências como musicista. Ainda, tem uma versão ao piano da canção A Solution Called Suicide, lançada anteriormente, que gera uma suavidade e, ao mesmo tempo, uma carga emocional profundamente melancólica.  

https://nihilistiumdsbm.bandcamp.com/album/nihilistium

21. Morphine - Dysphoria: Mais um belo lançamento desta banda inglesa formada por The Patient. Dor, ódio, tristeza, amargura que resultam em uma expressão genuína e envolvente. A insatisfação com as imposições da sociedade, dos familiares e pessoas ao redor, nos impulsionado a uma vida forjada, mascarada e suprimida onde a vontade alheia tende a ditar quem deveríamos ser, ao invés de sermos nós mesmos por nós, é expressado majestosamente neste álbum.

https://morphinedsbm.bandcamp.com/album/dysphoria

22. Haldol - Tanatopraxia: Tanatopraxia - que se refere ao procedimento que consiste na preparação de um cadáver para o velório ou funeral, assim o corpo não sofrerá, pelo tempo solicitado pelos familiares, a decomposição natural - une o sombrio com a arte inevitável que é a morte. Arte, pois, ela nos mostra a beleza do fim, daquilo de que não podemos escapar, embora, por vezes, tentamos adiar. E, ainda, nos faz se lembrar que, ao final da vida, não passaremos de um amontoado de carne que estará aos cuidados (ou não) de quem lida com esses serviços. Caminhando pelo Depressive Rock/Narcotic Metal, esta banda soma mais um single e deve, em breve, lançar um material completo trazendo mais músicas nitidamente sombrias e grandiosas.

https://youtu.be/bASb6HrJ-bE

23. Entardecer - Days Not Lived in a Letter: Banda brasileira de uma mulher só que ecoa melancolicamente, através da instrumentação muito bem executada unida aos vocais amargurados de Astratta, canções que transcrevem, de forma genuína, as angústias palpáveis que permeiam toda a existência humana.

https://solsticiorecords.bandcamp.com/album/days-not-lived-in-a-letter

24. Catalepsia - Decadencia Urbana: Álbum de estréia da banda mexicana que expressa a monotonia urbana e a vida devastada pela solidão no cotidiano dos seres humanos. Além de faixas autorais, o álbum traz dois covers da banda sueca Lifelover e, ainda, conta com a participação de 1853 (ex-membro da Lifelover) nos vocais em uma das faixas de autoria própria.

https://catalepsiamx.bandcamp.com/album/decadencia-urbana

25. Funesto - O Dia Em Que a Morte Nos Levará: Banda merecidamente reconhecida, não só no país, mas, também para além deste, como uma das mais expressivas no meio. Mais uma vez, Fúnebre traz a beleza instrumental neste single, dando vazão à melancolia inerente e característica de suas canções. Já foi demonstrado que com vocais agressivos imersos em melancolia, bem como em canções completamente instrumentais, a dor, a fadiga existencial e os dissabores da vida podem ser expressos de forma consistente. Este single instrumental vem para agregar mais um belo trabalho em sua discografia.

https://funesto.bandcamp.com/track/o-dia-que-a-morte-nos-levar

26. Potemtum And Solitude - Goodbye My Lover!..: Descrevendo a si mesma como 'Dream Black Metal', esta banda traz a junção de sons etéreos com o furor do Black Metal resultando em uma sonoridade, de fato, onírica. Trafegando pelo Depressive e Post Black Metal, as canções que preenchem este álbum são repletas de melancolia e suavidade que conduzem o ouvinte a sonhar por coisas as quais nunca poderá, realmente, obter, pois, até o mesmo o amor, tido como eterno, tem seu final. 

https://potemtum-colombia.bandcamp.com/album/goodbye-my-lover

27. Autoquíria - Antes que Você me Esqueça: No Depressive Black Metal a autenticidade dos sentimentos e emoções é a guia que conduz os músicos. Autoquíria traz isso majestosamente neste álbum que tem por intuito ser uma homenagem a avó de Érdos. Triste e, ao mesmo tempo, belo ele reflete da primeira até a última canção os sentimentos de pesar e saudade por quem lhe trouxe momentos de alento e tornou sua existência menos dolorosa, de alguma forma.

https://solsticiorecords.bandcamp.com/album/antes-que-voc-me-esque-a

28. ColdWorld - Soundtrack To Isolation: Esta banda já tem sua história muito bem construída no DSBM. Com uma sonoridade envolvente e que irradia uma profunda melancolia, G.B, novamente, traz todo seu talento e expõe suas emoções neste single instrumental. O uso, que se tornou característico, do violino é esplêndido e soa uma bela e triste melodia que faz jus ao seu título e mantém o ouvinte, de alguma forma, acalentado em seu isolamento, quer queira voluntariamente ou não. No mês de abril e de maio mais duas faixas foram lançadas como singles, e ambas mantêm a peculiaridade desta banda alemã de um homem só.

https://coldworldofficial.bandcamp.com/track/soundtrack-to-isolation

29. Winterkind - Das Leiden Eines Verstorbenen Leibs: Banda alemã que estréia com um EP repleto de amargor, sentimento de abandono, rejeições e traições. A revolta interna e externa pela vida, pelos relacionamentos interpessoais de qualquer tipo, é vociferada por Anonymes. Música crua para expurgar, ou ao menos tentar, a dor que assola o indivíduo saturado de sobreviver num mundo onde a solidão é inevitável.

https://winterkind.bandcamp.com/album/das-leiden-eines-verstorbenen-leibs

30. Inner Suffering - Nameless Nobody: Esta banda ucraniana, que vem fazendo música desde 2014, soma mais três EPs neste ano, até aqui. Com uma atmosfera entre o Depressive/Post Black Metal, SadVoice traz cinco faixas instrumentais neste lançamento do mês de janeiro que percorrem, também, pelos dois EPs lançados em abril.

https://innersuffering.bandcamp.com/album/nameless-nobody

31. Suicidal Solitude - Misery Life: Direto da Eslováquia, esta banda surge em 2020 e já segue lançando vários materiais, sendo 1 DEMO, 3 EPs, 3 singles, 2 SPLITs e 1 álbum inteiro. Misery Life é o EP de estréia e expressa a crueza que a banda, de um homem só, traz à tona. Com o autodesprezo, misantropia e repúdio pela vida, as faixas são um misto do Raw com a melancolia do Depressive. 

https://suicidalsolitude.bandcamp.com/album/misery-life-ep

32. Act Happy - Fallen: EP que contém duas faixas desta banda australiana que trafega por atmosferas cruas densamente enevoadas na desolação da existência. As faixas foram gravadas entre 2015 e 2018, no entanto, lançadas somente neste ano.

https://acthappy.bandcamp.com/album/fallen-ep

33. Asbel - Hate Is Free: Single lançado em março, e que teve a soma de outro no mês seguinte, e que estará inclusa no álbum que virá a ser lançado ainda este ano. Black Metal em sua forma crua aliado ao desespero e insatisfação pela vida inerentes do DSBM.

https://asbel.bandcamp.com/track/hate-is-free

34. No Point in Living - Last Choice Is Ours: Mais um grande lançamento desta banda japonesa que desde 2017 vem trazendo ótimos álbuns repletos de músicas que expressam desde a dor até o pavor diante da vida. Começou o ano com quatro SPLITs e, em abril, somou mais este álbum aos seus lançamentos, até agora, para este ano. Seguindo com uma sonoridade que dosa o Depressive Rock com Post Black Metal e pitadas do peso do Raw, as músicas são marcadas por nítidos riffs e solos melancólicos que dão suporte aos vocais carregados de Yu. Ainda, no mês de maio, a banda lançou uma compilação reunindo músicas, riffs e ideias nunca mostradas, até então.

https://npiljp.bandcamp.com/album/last-choice-is-ours

35. Vargahl - Winter: Parafraseando o próprio fundador e único membro da banda, ela procura revelar a natureza humana, em sua forma mais pura, a falta de vontade para a socialização, os comportamentos anti-sociais e misantropos e a aversão e nojo pelo ser humano. Música crua, bruta e nada polida é o que este lançamento resulta.

https://vargahl.bandcamp.com/album/winter

36. Anti - 5:03: Depois de 7 anos sem lançar nenhum material, esta banda, uma das clássicas do DSBM e que surgiu em 2003, presenteia os fãs com este single. Embora instrumental, demonstra que a banda, formada por Anti (guitarra), A. Krieg (vocais) e Zahgurim (bateria) continua mantendo a qualidade e as características de seus lançamentos anteriores. É de se esperar que venham mais novidades em breve e, talvez, até um novo álbum.

https://officialanti.bandcamp.com/track/5-03

37. Cholia - Winds of Nothingness: Este single é uma amostra de que - ainda que esta seja uma banda priorizando os ruídos (noise) em seus lançamentos - a banda que se intitula como ‘Industrial Depressive Noise Black Metal’, tem versatilidade para fazer músicas profundamente melancólicas e com toques de uma bela tristeza. Caminhar pelo Noise é o objetivo primário, no entanto, para os menos familiarizados com os ruídos há, também, músicas menos "barulhentas" e que não deixam de evocar o desespero da existência humana.

https://cholia.bandcamp.com/track/winds-of-nothingness

38. Dystert Natt - Mòrkëëladt: Quinto EP desta banda russa que evoca o ódio inseparável do Raw Black Metal. Todo o peso vindo das profundezas do abismo mais obscuro existente é exaltado nas duas faixas que compõe este material.

https://dystertnatt.bandcamp.com/album/m-rk-ladt-ep

39. Neblinum - El llamado del Silencio: Single lançado em janeiro e que estará entre as cinco faixas do álbum que virá a ser lançado ainda neste ano. Ainda seguindo as ásperas trilhas do Depressive Raw, Lord Grismord Aragpsth traz nesta faixa menos crueza e mais melancolia. Embora seja instrumental, há uma introdução com um discurso de desabafo, que expressa o peso de viver, dia após dia.

https://neblinum.bandcamp.com/track/demo-el-llamado-del-silencio

40. Uten Håp - LYS: Mais uma banda desta lista que procurou transformar o pesar e a dor da perda de um ente querido em música. Este EP foi dedicado ao avô de W., e a emoção que ele tentou manifestar em cada faixa, é sentida pelo ouvinte. Ele chegou a cogitar abandonar tudo, após tal perda, mas, com o apoio de alguns poucos amigos, decidiu persistir na música que além de dar vazão às suas angústias, também o mantém firme em meios aos íngremes caminhos da vida.

https://utenhap.bandcamp.com/album/lys-ep

41. Sadness - Atna: Banda que manifesta lindamente o seu nome. Em todos os lançamentos é palpável a mais densa melancolia que Elisa, esplendidamente, expressa. As três faixas que compõe este EP, lançado em fevereiro, falam por si só, uma explosão de melancolia, dor, sensação de vazio, de distanciamento, e da solidão tão espessa, densa e feroz que acomete os seres perdidos nos confins da existência. Em março foi lançado mais um álbum, Alluring the Distant Eye, somando mais uma obra-prima desta banda norte-americana.

https://sadnessmusic.bandcamp.com/album/atna

42. Streeglah - Plegma: Banda grega que estréia com esta DEMO contendo quatro faixas carregadas de insatisfação pela vida e tudo que a cerca em uma existência fadada à dor e ao sofrimento. Vocais potentes, instrumental pesado e letras expressando que a vida é uma maldição imposta aos seres vivos, ou apenas aos seres humanos que tem conhecimento da sua própria condição imutável.

https://streeglah.bandcamp.com/track/prosmohnee-waiting

43. Afraid of Destiny - Reflecting Under an Ascending Moon: Banda italiana que lançou este single como resultado de uma colaboração, depois de anos, entre os membros atuais e N. (o primeiro vocalista oficial), em memória de um amigo em comum e que, infelizmente, se suicidou no ano passado. Este amigo é Angel Cobos Martinez (também conhecido como Silence), e que também já vinha em um caminho solidificado dentro do DSBM com seus vários projetos, entre eles Rotten Light e Suicide Psychosis. A banda também menciona nos créditos que todo o dinheiro das compras digitais deste single será entregue à Soproxi, uma linha direta italiana de prevenção ao suicídio. Há três versões para a mesma música neste lançamento, uma consistindo de Adimere (o fundador da banda) nos vocais, outra com N. nos vocais e um cover da faixa feita pelo próprio Silence com a Rotten Light, em 2014. Tanto o contexto deste material quanto a música em si, que se inicia com uma gravação real de uma chamada telefônica ao serviço de emergência devido a um suicídio, fazem dele uma homenagem belíssima. 

https://afraidofdestiny.bandcamp.com/album/reflecting-under-an-ascending-moon

44. Suðri - Gris: Com uma sonoridade mais atmosférica esta banda retorna, após quatro anos sem novos lançamentos, com este EP carregado de emoções sufocantes. Com belos riffs de guitarra e marcantes levadas de bateria, os vocais de Astarth dão vazão às insatisfações presas dentro de si. Ainda, uma faixa semi-acústica onde seus vocais limpos se unem para refletir a melancolia e expressar o peso de sobreviver em meios aos dias sem sentidos se somam e, tornam este um ótimo lançamento.

https://sudri.bandcamp.com/album/gris

45. Kalmankantaja - Nostalgia I: Bones And Dust & Nostalgia II: My Kingdom: Esta banda já é bastante consolidada dentro do Depressive e Atmospheric Black Metal. Com uma sonoridade singular, com densidade e lentidão, aspereza e rapidez e vocais que percorrem do Doom ao Black Metal, a banda vem lançando excelentes materiais desde seu surgimento. Estes dois álbuns, nas palavras de Grim666, são uma homenagem às bandas que influenciaram Kalmankantaja e, embora não sejam similares ao som em que a banda se assentou, foram de bastante importância a ela. No mês de maio outro álbum foi lançado, Talventuoja, que traz a carga característica desta banda finlandesa.

https://kalmankantaja.bandcamp.com/album/nostalgia-i-bones-and-dust
https://kalmankantaja.bandcamp.com/album/nostalgia-ii-my-kingdom

46. Cenestenia - Die... Just Die: Banda russa formada no ano passado tendo lançado uma DEMO e um SPLIT, lançou neste ano dois álbuns. Die... Just Die traz sete faixas que dão vazão a mais profunda angústia que se acorrenta ao indivíduo, fazendo-o desejar mais e mais o fim de sua própria vida. Sonoridade carregada de fúria e, ao mesmo tempo, de uma espessa tristeza. Em março foi lançado outro álbum, este sendo auto-intitulado e trazendo 14 faixas apenas instrumentais.

https://cenestenia.bandcamp.com/album/die-just-die

47. Algeia - Patient 34: Sob o nome My Dying World Mako, tendo lançado 2 álbuns, a banda, originária da Ucrânia, mudou seu nome para Algeia em 2015 e, em 2017, lançou seu primeiro álbum. Patient 34, lançado neste ano, evidencia uma grande mudança sonora, se comparado ao anterior. Enquanto o primeiro mostrava-se mais mergulhado na crueza do Raw, neste há uma polidez sobre o instrumental. Algumas partes chegam a parecer sintéticas. No entanto, a melancolia e dor são expressadas em todas as faixas que relatam o fardo de sobreviver em meio a uma vida soterrada na desesperança.

https://algeia.bandcamp.com/album/patient-34

48. Begotten - If All You Have Known Is Winter: Segundo álbum dessa banda canadense que em sua estréia já aliava o peso do Black Metal com o desespero do Depressive. A estrutura sonora é muito bem composta, riffs de guitarras bem inseridos, alguns solos que dão mais ar de melancolia e vocais que refletem uma aversão à vida.

https://begottendsbm.bandcamp.com/album/if-all-you-have-known-is-winter

49. Just Darkness - Just Darkness: Banda russa que estréia com este EP contendo cinco faixas intensamente envolventes. Vocais agressivos, sonoridade hipnótica e letras dando vazão às angústias congeladas nas estradas do tempo.

https://justdarkness.bandcamp.com/album/just-darkness

50. Be Still - The Cold Breath From Death's Lips: Segunda DEMO desta banda norte americana que traz uma única faixa, mas, que percorre quase dezessete minutos de duração. Inicia-se com uma guitarra bastante melódica que, aos poucos, abre espaço aos demais instrumentos.  Os vocais parecem sussurros, mas se somam para complementar uma música bem expressiva em riffs de guitarra.

https://bestill2.bandcamp.com/album/the-cold-breath-from-deaths-lips

51. Hovert - Towards Non-Being: Esta banda já encontrou seu lugar em meio ao DSBM, com uma sonoridade bastante consistente, com suas próprias características e singularidades. Os vocais agudos e carregados de desespero de Aleverm, seus riffs de guitarra entrelaçados às linhas de baixo de Jeanaharte e as levadas de bateria de Michael são uma peça crucial e que resulta em excelentes músicas. As faixas deste EP foram compostas entre 2018 e 2019, mas, gravadas e lançadas apenas neste ano.

https://hovert.bandcamp.com/album/towards-non-being

52. No Rest For Us... Just Pain - No More: Banda argentina de DSBM instrumental. Lançado no início de fevereiro, este EP traz duas faixas autorais e um cover da banda Happy Days e um da banda Lifelover. Ainda, no final do mesmo mês, fevereiro, foi lançado um segundo EP sob o nome Not My Place e neste as cinco faixas são todas autorais. A sonoridade é envolvente, os instrumentos ecoam uma suave e, ao mesmo tempo, dolorosa melodia.

https://norestforusjustpain.bandcamp.com/album/no-more

53. Sunshine Ink - faen eg e lei meg: Banda norueguesa, formada por Nitrist e Sersjant Sutretryne, que estréia com este álbum bastante melancólico. O diferencial deste duo é que as músicas são profundamente carregadas de melancolia pelo uso massivo de teclados, pianos, sintetizadores e dedilhados e riffs de guitarra muito bem encaixados nas músicas. Ambos os membros dividem os vocais que se alternam em limpos e guturais.

https://badnoiserecords.bandcamp.com/album/faen-eg-e-lei-meg

54.  Esipram - On Intoxicated Escapism: Embora seja um projeto solo de Follin, ele vem somando participações de amigos ao longo de seus lançamentos. Neste teve Weha fazendo os discursos adicionais. Originário da Rússia, esta banda une a melancolia urbana e o cinza da vida em meio ao concreto com uma sonoridade que se mescla ao Black Metal, Post punk e música ambiente. Este single é uma promoção antes do lançamento do álbum que virá, ainda, neste ano.

https://follinbeich.bandcamp.com/album/on-intoxicated-escapism

55. Eternal Silencer - Poemas de Uma Triste Vida: Cru, simples e direto são adjetivos que definem a sonoridade desta banda brasileira. Unindo letras que regurgitam uma intensa carga de auto-aversão à vida, a banda, formada por Melancholy nos vocais, Jeff Death Spreader nas guitarras, Funesto no baixo e Spectrum na bateria, traz em seu material de estréia músicas gravadas entre 2018 e 2019, mas, vindo a ser lançadas, apenas, neste ano.

https://youtu.be/nEwyBIzBFAU
https://www.facebook.com/455720704761040/videos/292358318395305/

56. Helenes - My Inferno: Formada por MoreDread, em 2019, lançando apenas um cover instrumental de Forgotten Tomb e uma faixa em um SPLIT com a banda Ramirik, o lançamento deste ano marca, definitivamente, o início da banda com músicas autorais. Com os vocais de Sulk, este lançamento é intenso e faz vir à tona uma gama de emoções. A profundidade que ele traz, da dor, da angústia, do cansaço em se manter sobrevivendo dia após dia é muito palpável. Os vocais entram numa sintonia perfeita com o instrumental e expressam tudo aquilo que está sendo lançado para fora da garganta. Sem forças para um novo amanhecer, sem ânsia para abrir os olhos após conseguir fechá-los para dormir, sem perspectivas para além do instante em que o presente tritura mente e corpo não há o porquê insistir numa existência que oferece nada mais que a crua dor e o mais lacerante sofrimento. Este EP, evidentemente, deixa um forte anseio por mais lançamentos dessa banda norte-americana.

https://helenes.bandcamp.com/album/my-inferno

57. Naamah - Death, My Saviour... – Banda, de um homem só, proveniente da Romênia. Vocais pesados, sonoridade densa com riffs que, em alguns momentos, remetem à Lifelover, mas, com uma crueza singular. Este marca o último álbum da banda que, em fevereiro, lançou um single e entrou em hiato.

https://naamah200276.bandcamp.com/album/death-my-saviour

58. Cut... - Songs for the Weak: Duo norte-americano que emerge através de suas músicas o intenso desgosto pela existência fadada ao vazio e a uma busca, ilusória, por meios de preencher, de alguma forma, o que jamais será de fato preenchido. Dosando a ríspida sonoridade de Weakness aos vocais cansados e munidos de aversão à vida de Pain, este lançamento resulta no cru e genuíno asco sentido por todos aqueles que chegaram ao limite, fisica e mentalmente, de suas vidas.

https://cut6.bandcamp.com/album/songs-for-the-weak