domingo, 19 de julho de 2020

Depressive Rock/Narcotic Metal




O Depressive Suicidal Black Metal começou a ganhar adeptos na década de 2000. Bandas como Manes, Malvery, Shining, Bethlehem, AbyssicHate, Strid, Xasthur, Sterbend e Silencer saiam da década de 90 e entravam na de 2000 com muitas características em seus lançamentos que vieram a se tornar essencial dentro desta vertente do Black Metal. Mas foi em 2005 que muitas bandas se iniciavam já usando o termo Depressive Suicidal Black Metal, abreviado como DSBM, em suas músicas. Foi um ano bastante fértil e, a partir daí, em várias regiões do planeta as bandas começaram a surgir, cada qual com suas próprias sonoridades. Algumas sob influência do Black Metal mais cru, raw: como as americanas I'm In A Coffin e Happy Days, a sueca Hypothermia, a canadense Sombres Forêts, a alemã Total Negation, a dinamarquesa Make Change...Kill Yourself, a italiana Forgotten Tomb e as francesas Mourning Dawn e Nocturnal Depression; outras mesclando sons ambientes, teclados, guitarras etéreas: como a japonesa Kanashimi, as australianas Woods of Desolation e Austere, a tcheca Trist e a brasileira Thy Light; outras, ainda, começavam a misturar gêneros musicais e geravam sons peculiares, e a precursora desta mistura foi a banda sueca Lifelover.
Surgida em 2005, na cidade de Estocolmo, Suécia, da união de Jonas Bergqvist (B) e Kim Carlsson, amigos de longa data, a banda trazia uma sonoridade diferente do que se encontrava dentro da vertente mais depressiva do metal negro até então. Segundo ambos, eles estavam, simplesmente, se autodestruindo dentro do quarto, bebendo cerveja, num dia qualquer e, de repente, pegaram uma guitarra cada um e começaram a tocar. Até então nunca tinham feito isso juntos, e começaram a tocar sem pensar no que tocar, apenas deixaram os acordes irem saindo, espontaneamente. Jonas ligou o gravador e a partir disso surgiu uma demo com duas longas faixas ambientes, apenas com guitarras soando de forma etérea. Aqui surge a primeira ironia, algo que a banda passaria a usar constantemente. Essa demo foi chamada de 'PROMO', mas ela nunca foi um material promocional realmente. Foi mais uma espécie de vazão para as emoções que os amigos deixaram fluir. Embora não tenha nenhuma relação com o som que viriam a criar e se tornar uma marca registrada da Lifelover, essa demo foi essencial para surgir a banda. Em 2006 foi lançado Pulver, o álbum de estréia e que foi algo diferente do que o público estava acostumado a escutar, quando se falava em DSBM. Mas ele passou a ser bem aceito, justamente, pela dualidade que a banda trouxe e a marcou. Músicas mais agitadas, até mesmo dançantes, mas com letras extremamente mórbidas, melancólicas, abordando a morte, a depressão, a ansiedade, a monotonia e apatia urbana e o suicídio. As músicas também são carregadas de sarcasmo e ironia, e a faixa que abre o álbum é o exemplo perfeito disso. Com uma sonoridade que pode fazer qualquer ouvinte querer balançar o corpo, quando se presta atenção ao conteúdo da letra, as coisas podem chocar e fazer o ouvinte pensar a respeito da mensagem. Nackskott conta uma história bastante abstrata de alienação e repugnância com as normas reinantes da sociedade moderna e que, por consequência, sopra pessoas inocentes para a sua desgraça. Fala sobre abuso infantil e perda da inocência de uma criança que, no futuro, se perde em si mesma e vive uma vidinha medíocre onde há apenas dor, tristeza e desesperança. A música termina com o sample de uma canção infantil tradicional sueca (essa é outra característica que se tornou presente em muitas músicas da banda, o uso de sample, geralmente de programas infantis onde há canções suecas alegres). A 2º faixa, M/S Salmonella, também tem uma sonoridade mais agitada, mas, quando se atenta para o conteúdo da letra as coisas se tornam mais sérias. Ela fala sobre um indivíduo que foi para longe de tudo e todos que conhecia e, em outra cidade, ele está prestes a dar fim em sua vida. Ele se autodestrói de todas as formas possíveis. Ingere álcool em excesso, come comidas gordurosas, malcozidas, se automutila. Ele não se importa com mais nada. No dia seguinte, acorda com os sintomas de uma terrível ressaca e intoxicação alimentar (Salmonella), mas esses sintomas apenas se somam aos sintomas de sua mente adoecida, e de seu corpo fragilizado, que ele já carregava há anos. Seu corpo já era tido como uma podridão, então, nada muda tanto assim para ele. Ouve-se o sample com barulhos que vêm de uma televisão, representam a rotina do mundo, pessoas em algum tipo de manifestação, mas isso não gera nada no indivíduo, ele não se importa com mais nada, nem sobre si, nem sobre o que ocorre ao seu redor. Ele, apenas, vai dar um fim em si mesmo. De forma irônica (ou não) ele manda um cartão postal, escrito apenas “adeus”, a uma pessoa, talvez, para a pessoa que ele queira avisar sobre sua morte e era a única que se preocupava com ele em vida, ou, talvez, ele esteja mandando de forma irônica para alguém que cooperou para ele se sentir uma merda durante sua vida toda e ele gostaria que essa pessoa soubesse que, finalmente, ele havia finalizado com sua vida.
A banda, apesar de levar o rótulo de Black Metal, caminhava por diversas sonoridades mesclando também com o Post Punk, o Dark Ambient, o Doom Metal e o Gothic Rock. Kim e B diziam que não se importavam com rótulos, pois eles faziam música, apenas isso, mas brincavam se autorotulando sarcasticamente como "Narcotic Metal". Pois além das músicas abordarem a miséria cotidiana, a loucura, o auto-ódio, a automutilação, o amor paradoxal, a alienação, a vida urbana, também abordavam overdoses com drogas lícitas e ilícitas. O "Depressive Rock" vem dos gêneros que a banda mesclou ao seu som como o Post Punk, cuja B era muito fã. Sua banda favorita, Joy Division, foi de grande influência para ele unir elementos na Lifelover. Essa dualidade de músicas dançantes com letras melancólicas veio, justamente, de Ian Curtis, na década de 80.
Lifelover (Amante da Vida) foi escolhido como nome da banda de forma irônica. Jonas contou que tinha um vizinho muito chato e que sempre ficava o chamando de "amante da vida" de forma pejorativa. Aqui para nós brasileiros seria algo como "mundano", quando alguém diz que fulano é adepto de coisas que fogem do que é "bom", do que é "certo" e tal. Algo que pessoas religiosas normalmente dizem para quem não se adeque ao que elas julgam como certo. Jonas era um jovem com cabelos compridos, gostava de usar roupas pretas, curtia rock e metal, então, o vizinho alienado via aquilo como algo "mundano", e o chamava de amante da vida. Esse termo se encaixou na banda pois Jonas acreditava que as pessoas viriam a fazer o mesmo com a banda, tentariam encaixa-la dentro disso ou daquilo. Dizendo que era metal, ou que ela não era, que o som era isso ou aquilo. Também, se encaixava porque as letras iam em oposição à sonoridade mais contagiante. Essa dosagem, de certo modo, gerava um "amor pela vida".
Muitas bandas seguiram bebendo dessa fonte da Lifelover, e a maioria dessas bandas se encontra na Suécia. O país em si tem algo que proporciona essa propulsão. Claro, em qualquer lugar do planeta há jovens ou adultos sentindo-se tomados pela apatia, melancolia e sendo esmagados pelo concreto frio que os cercam. E, por isso, qualquer pessoa do mundo que se sinta assim acaba se identificando com as músicas dessas bandas. Mas, essa pequena cena sueca de Depressive Rock/Narcotic Metal se deve pela questão cultural, climática e de como os jovens se sentem em relação à invisibilidade social que existe por lá. Vou voltar à década de 80 para falar melhor sobre isso.
O termo Música Industrial se refere ao movimento musical que surgiu após o crescimento das cidades devido às indústrias. Obviamente que desde a Revolução Industrial esse crescimento se fez constante, mas, foi no final da década de 70 e início da de 80 se tornou ainda mais forte devido a questão tecnológica também. E, com isso, a música, como a arte num todo, começou a inovar, criar novos sons. A música para essa nova geração foi chamada de Industrial. O Rock Industrial se tornou um gênero caracterizado pela mistura com específicos subgêneros do rock. Um grande representante tem sido o Pós-punk, que surgiu na Inglaterra após o auge do Punk Rock em 1977, mantendo as raízes do movimento punk, porém, de modo mais introspectivo, poético, minimalista e experimental. A rebeldia e revolta do Punk deu lugar à insatisfação interna. Ian Curtis do Joy Division expressou isso muito bem em suas letras. A revolta com o mundo, característica do Punk, se tornou a revolta interna, o auto-ódio, a exaustão pela existência, a dor de viver, através do Pós-punk. O Pós-punk também foi a base do que veio a ser chamado de Rock Alternativo na década seguinte. Ele ampliou a estética sonora do Punk Rock para um estilo mais triste, minimalista e mais livre, explorando uma originalidade sonora, incorporando riffs graves de baixo, guitarras com sonoridades mais simples e sem muitas variações, uso de sintetizadores e levadas de baterias repetitivas. A melancolia urbana passou a fazer parte das bandas desse gênero. E é aqui que chegamos ao Lifelover. Como citado antes, Jonas curtia bastante Pós-punk e Darkwave e isso o influenciou sobre a sonoridade de sua banda, ele ainda uniu a música ambiente e o próprio Black Metal, resultando em um tipo singular e original de som.
O porquê da Suécia ser um berço para bandas de Depressive Rock/Narcotic Metal? Pois bem, envolve vários fatores para isso. Como eu disse antes, com o avanço da era industrial, as pessoas passaram a se concentrar mais nas zonas urbanas, abandonado as rurais. Isso resultou em mais construções de casas, condomínios, edifícios. O concreto bruto (citado em várias músicas de várias bandas, como por exemplo em Syndafloden do Apati) passou a ser massivo e, principalmente entre os jovens, isso trouxe uma sensação de sufocamento, de aprisionamento. Claro que a tecnologia trouxe grandes avanços, aparelhos eletrônicos diversos, meios de agilizar as tarefas diárias, máquinas para facilitar qualquer trabalho, e telas para se distrair e se informar mais rapidamente sobre praticamente qualquer assunto, bem como formas de encurtar distâncias entre pessoas. No entanto, trouxe também as consequências negativas. O peso da solidão e do isolamento. As pessoas passaram a se distanciar fisicamente e emocionalmente uma das outras, e a própria industrialização gerou uma sobrecarga sobre elas, fazendo com que seguissem uma rotina padronizada, sem tempo para coisas que pudessem trazer algum prazer. Nós estamos vivendo a 4ª Revolução Industrial, e agora é muito visível como a solidão tem sido forte sobre as pessoas. Agora também há uma maior visibilidade e disseminação de informações sobre os transtornos mentais. Mais precisamente isso vem sendo feito desde a década de 80, o que não significa que a depressão é recente. Obvio que não! O ser humano sofre desses males desde que começou a olhar para si mesmo e não conseguir digerir seus medos e traumas. Mas, depois da década de 80, essas questões começaram a deixar de ser tabu, a chamada loucura passou a ser vista como algo sério e que necessitava de meios humanizados para trazer algum bem-estar aos pacientes. Antes disso, mal se falava sobre e os pacientes eram tratados de forma desumana. Usando Ian Curtis ainda como exemplo, hoje se sabe que ele sofria de Depressão Maior e Epilepsia, ambos os transtornos geravam um desgaste gigantesco, mental e físico. E, infelizmente, ele encerrou a vida através de suas próprias mãos, com apenas 23 anos, pois se tornou insuportável viver (ou sobreviver) de tal forma. Em suas músicas é notável toda sua dor, sua angústia, seu desalento diante da vida. Foi através da música que ele conseguiu dar vazão às suas mais tortuosas dores, pois de outras formas não foi possível. O mesmo ocorre com os músicos de DSBM.
Continuando a falar mais especificamente sobre as bandas suecas de DSBM. Os músicos procuram deixar fluir todo esse sentimento de sufocamento diante de uma cidade cinza, diante de uma apatia e melancolia urbana. Lifelover trouxe isso à tona como um grito, uma voz insatisfeita perante uma vida sem cores. Jonas e Kim deram vozes aos outros tantos jovens de seu país. Através de suas músicas eles deixaram aflorar o que tantas pessoas também sentiam, e sentem, mas não conseguiam falar sobre. O fato de muitas outras bandas surgirem nesse país se deve a um conjunto de fatores. A vida urbana foi se tornando um fardo e, ainda que hajam tantas formas de distrações, tudo se acaba muito rapidamente. Tudo se torna monótono, uma prisão de concreto onde a vista é turva (em I Love (To Hurt) You, Lifelover descreve isso). Ainda, se junta coisas do próprio país, como o clima. Ao contrário de nós, que podemos dizer gostar do frio pois aqui no Brasil o inverno tem época específica e é de curta duração, na Suécia o inverno dura 8 meses. E as temperaturas são muito baixas. Isso gera diversos problemas de saúde, por mais adaptado que uma pessoa ache estar, por nascer lá. Há um tipo de Depressão chamada de Depressão Sazonal, que afeta, justamente, pessoas que moram em lugares frios, onde há poucos dias de sol, onde a sensação térmica mais quente é rara. Além disso, o inverno sueco é um período de escuridão, com pouca luz do dia e um céu, na maior parte do tempo, em tons de cinza. Na cidade de Estocolmo, por exemplo, costuma amanhecer depois das 8 hs e a claridade se vai às 15 hs. Isso afeta drasticamente o cérebro. O sono acaba sendo afetado também. E, a paisagem cinza pode nos atrair até certo ponto, mas, para quem aprecia a natureza verde, acaba trazendo uma sensação desconfortável com o passar do tempo. Olhar diariamente o horizonte sem cor, sem luz, sem brilho, pesa demais sobre as pessoas. E, cercada pela urbanização, o verde acaba ficando ainda mais ausente (Pessimisten da banda Ofdrykkja fala sobre seu lugar favorito, um dos poucos que sobrou em meio ao concreto urbano, na música Befrielsen). Tem outro fator no país, e que pesa sobre a solidão, que são as relações sociais. Não é comum as pessoas saírem conversando com vizinhos e nem cumprimentar ou puxar papo no ponto de ônibus, no metrô ou na fila do mercado. As pessoas não são muito sociáveis. Até certo ponto isso é bom, assim evita-se de você estar num mal dia e ter que aturar fulano conversando e querendo puxar assunto contigo de todo jeito. Mas, a longo prazo isso gera sensações péssimas, pois você se sente invisível, como se todos estivessem congelados a sua volta ou, simplesmente, não se importassem contigo. Os abraços e beijos também são mais restritos por lá. Até mesmo nas famílias há um distanciamento, e as pessoas acabam se "soltando" mais, apenas, quando bebem. Aí pesa outra coisa, afinal, sabemos que o álcool é uma máscara, por isso o vício se torna constante. Quanto mais necessitamos esquecer e fingir não ser quem somos, tendemos a ingerir mais e mais álcool. Ainda, há uma tradição bem antiga na Suécia chamada Fredagsmys (Vanhelga lançou um álbum em 2018 com esse nome), um termo exclusivamente sueco, o mais perto para nós seria algo como "sexta-feira à noite", e ele é usado para se referir a um tipo de evento que ocorre nas sextas-feiras entre as famílias. É uma tradição bem comum, onde os pais levam os filhos no supermercado e compram muita besteira para comerem em casa, ao invés do jantar normal. É tipo um "#sextou" só que apenas entre as famílias e em suas casas. Quem não tem filhos também faz, mas preferem se embriagarem com vinho ao invés de comerem algo. Independente da família, esse dia acaba sendo uma compensação para a negligência dos pais, pela falta de diálogo entres eles e seus filhos e filhas. Ou seja, uma grande mentira. Não é para se aproximarem, mas sim para tirarem um pouco da culpa de seus ombros, fingindo ser um dia de festividade entre a família. Vanhelga usou esse termo como título do álbum de modo irônico, porque essa coisa de família e união soa sempre hipócrita, independente do país, mas lá por existir esse tipo de confraternização quando nos demais dias ninguém dá a mínima atenção ao outro, soa ainda mais expressivo. Nesse álbum tem uma música chamada Relationship in Pieces (Relacionamento em Pedaços) expressando muito bem como os relacionamentos, sejam de que tipo forem, não perduram, não se sustentam.
Por fim, há uma forte pressão social no país para investir tempo em "estar em forma, estar ocupado e parecer perfeito". Por isso, quem está de fora pode se enganar com a máscara de país perfeito, onde todos vivem bem, onde a criminalidade é baixa, onde as cidades são limpas, sem tanta poluição e com índice alto de desenvolvimento. Existe uma norma cultural que sugere que os suecos devam ser independentes desde cedo, o que pode ser um fardo para algumas pessoas ou, pior, fazer com que elas não comuniquem problemas que poderiam ser sinais de alerta para um esgotamento clínico, que tende a desencadear Transtornos de Ansiedade e Depressão. Então, os jovens acabam se tornando muito solitários, sem conseguir falar sobre seus medos, sobre suas frustrações. Isso vai pesando até que muitos acabam buscando meios de aliviar suas mentes sobrecarregadas, e as válvulas de escape, como o álcool e drogas, surgem. Quando digo drogas, me refiro não apenas às ilícitas, mas também aos medicamentos. Antidepressivos, ansiolíticos e estabilizadores dehumor são muito consumidos e sem prescrição médica (na música Västeras da banda Ofrydkkja é abordado isso). E muitos desses jovens também acabam permanecendo nas ruas, como desabrigados, evitando de retornar aos seus lares. Se sentem perdidos, apáticos, como se não pudessem mais sentir nada de bom e esperassem apenas a morte para encerrar com suas vidas (a música Höstdepressioner de Lifelover fala sobre isso). Entram num ciclo de autodestruição que não conseguem mais parar e só os leva mais para o fundo do poço (Vanhelga aborda isso na música No Escape). A sobriedade, o permanecer de "cara limpa", não ajuda, pois, a mente foi obscurecida com pensamentos negativos. É impossível não pensar no passado, ou não se assustar com o futuro e, outra vez, a pessoa recorre às válvulas de escape (em Eufori da banda Apati isso vem à tona). Essas fugas momentâneas também incluem a automutilação. Recorrer a isso nem sempre é na ideia de amenizar a dor mental com uma dor física, afinal, são desproporcionais e a pessoa pode nem mesmo sentir mais algo ao fazer isso (na música [...], a banda Hypokondri fala sobre isso de não sentir mais nada, como se o corpo estivesse podre, congelado para a dor). O intuito, geralmente, ao se cortar é mais uma maneira de sentir que ainda se está vivo, pois a sensação de apatia faz parecer que a pessoa morreu, ou se tornou um zumbi. Também, é um ato de autodesprezo, um ódio desviado para si mesmo, para seu próprio corpo (Intig fala sobre isso em Instängd i mig själv). Muitos jovens tem a consciência de seus transtornos, mas, infelizmente, os próprios transtornos limitam e impedem a pessoa de buscar alguma ajuda. Ela vai se desviando cada vez mais do que poderia gerar algo de bom, vai se fechando dentro de si mesma. Não sente pertencer a lugar algum, pois nem mesmo consegue explicar mais o que sente e o isolamento passa a ser constante (Avsaknad: dopamin, da banda Glädjekällor, fala sobre isso de não saber para onde ir, a ausência de acolhimento, não conseguir mais estar em meio às pessoas e se socializar). Tudo vai se sobrecarregando, a ponto da desesperança criar raízes e a pessoa sequer conseguir enxergar alguma luz em meio a escuridão que o cega completamente (A banda Eufori fala sobre isso em Det är fan inte värt). É claro que a solidão está presente em qualquer sociedade, faz parte de qualquer povo em qualquer país, - e ao falar de solidão não estou falando da não presença de pessoas, pelo contrário, solidão é sentir-se só mesmo em meio às outras pessoas, familiares, amigos, não importa quantas pessoas estejam por perto (a música Ensamheten da banda Dysfori fala sobre isso) -, porém,  essas bandas suecas acabaram se focando nesses temas com mais precisão pois se unem com todos os fatores característicos do país e que mencionei acima. Obvio que tantas outras bandas que seguem nessa linha surgiram fora da Suécia, a exemplo de Absinthropy (Inglaterra), Psychonaut 4 (Geórgia), Narkolepsia (Filândia), 5ML (Rússia), Förtvivlan (Holanda), Bella Dosis (México), Crtl+Z (Colombia), Aurora Disease (Alemanha), Narcose (Brasil), afinal, as temáticas expressam sensações, sentimentos e emoções de pessoas em qualquer lugar do planeta. Porém, a concentração maior de bandas dessa subvertente do DSBM se encontra na Suécia.

Os links abaixo são de playlists com bandas dessa linha.

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