domingo, 25 de abril de 2021

Entrevista com Funesto

 


Funesto é uma das primeiras bandas de Depressive Suicidal Black Metal em território brasileiro, com letras no próprio idioma, e que se mantém até os dias atuais trazendo toda a desolação da existência humana através de suas canções. O blog Depressedy teve o prazer de entrevistar Sergio França, o Fúnebre, único membro por detrás da banda, mas, que também já soma outros projetos tão expressivos quanto Funesto.

 

Você tem um talento nato. Consegue dar vazão às emoções com sonoridade pesada e, ao mesmo tempo, que remete uma beleza e melancolia. Você tem familiares ou pessoas próximas no meio da música que te influenciaram? Ou o interesse por tocar, compor e cantar partiu de você mesmo?

Sergio: Meu pai era luthier, então sempre tive contato com instrumentos de cordas desde pequeno, apesar de nunca ter tido qualquer influência para aprender a tocar por parte dele. A vontade de aprender partiu de mim mesmo.

 

Muitas pessoas o conhecem por estar à frente da banda Funesto, e mais recente no projeto Depressiva Melodia, mas você já participou ou teve outras bandas e projetos anteriores?

Sergio: Sim, por volta de 2009 eu e mais 3 amigos iniciamos um projeto de Heavy Metal na qual fazíamos alguns covers e chegamos a escrever algumas músicas, porém não passou de bons momentos de diversão em um porão. Em 2010 iniciei um projeto de Black Metal chamado Culto Maligno, gravamos algumas faixas para uma demo, mas por falta de interesse dos demais integrantes acabou depois de alguns meses de ensaio. Em 2012 decidi começar a gravar sozinho pois vi que montar banda com outras pessoas não era um caminho a se seguir, foi quando iniciei o Anticristo, meu primeiro projeto one man band, que se tratava de um projeto de Death Metal. Atualmente tem duas demos em formato digital lançadas, uma com faixas gravadas ainda em 2012 e outra que gravei em 2019.

 

Escutando suas músicas, é evidente que você expressa da forma mais sincera suas dores, angústias e dissabores pela vida. Você sente que a música ajuda a aliviar, de algum modo, esses sentimentos mais sufocantes dentro de você?

Sergio: Sim, a música é uma das poucas coisas que temos para expressar tudo que pensamos sem ter que conversar ou tentar explicar para as pessoas o que estamos sentindo. Porque, na maioria das vezes, as pessoas não ligam, não se importam com sentimentos alheios, e ninguém quer perder seu tempo escutando problemas dos outros. A música te dá essa liberdade de poder gritar e colocar para fora aquilo que você está sentindo, sem precisar de ninguém para isso.

 

Depressiva Melodia é um projeto encantador, com uma sonoridade que passa tranquilidade, mas também uma tristeza. Quais foram suas influências para este projeto?

Sergio: Depressiva Melodia não teve nenhuma influência direta, porém eu escutava muitas coisas de alguns violonistas e trabalhos de piano que soassem tristes, então eu  pegava o violão, sentava e passava horas improvisando algumas coisas, até que surgiu as primeiras composições . A partir daí resolvi criar um projeto que fosse simples, apenas eu e o violão, algo que soasse triste, solitário, assim surgiu Depressiva Melodia.

 

A Funesto é uma das precursoras do Depressive Suicidal Black Metal no país, com letras em português. Como foi a recepção da cena do metal extremo na época que a banda surgiu?

Sergio: DSBM nunca foi visto com bons olhos no meio do metal extremo. As pessoas veem problemas em falar sobre sentimento no meio do metal extremo. Um dos principais obstáculos foi divulgar e fazer as pessoas pararem um tempo para ouvir. Muitas pessoas desconsideram o estilo sem nem ao menos ter tirado algum tempo para conhecer algumas bandas. No início a recepção foi discreta, mas com o passar dos tempos teve um pouco mais de aceitação.

 

Suas bandas e projetos tem a característica conhecida por serem "one-man-band" (banda de um homem só), onde você faz tudo. Em algum momento, você já pensou em se unir a mais alguém, ou formar uma banda com todos os instrumentistas?

Sergio: Se tratando de DSBM nunca me veio na cabeça em montar algum projeto com mais pessoas. Esse gênero é algo pessoal para mim, nele falo sobre coisas que vivo e penso, é uma reflexão da minha personalidade. Cada indivíduo tem sua própria personalidade, sentimentos, alegrias e tristeza, acho difícil encontrar pessoas com os mesmos pensamentos para compartilhar, seria como escrever um livro e cada um ir colocando um pedaço, não iria funcionar para mim. Muitas pessoas conseguem fazer bons projeto com mais pessoas envolvidas, conseguem compartilhar esses sentimentos unindo em uma coisa só, mas, no meu caso, não funcionaria.

 

Acredito que um dos desejos dos fãs é ver a Funesto ao vivo. Isso seria possível um dia?

Sergio: Não. Funesto é um projeto de estúdio, cada faixa é feita de acordo com os sentimentos que estão acontecendo no momento que estou criando elas, eu não conseguiria transmitir isso ao vivo. E, levando em consideração meu problema de ansiedade, eu não conseguiria subir em um palco.

 

8. Quem é o Sergio em seu dia a dia?

Sergio: É difícil falar sobre mim mesmo. Me considero uma pessoa comum, porém bastante isolada. Sempre de casa pro trabalho e do trabalho pra casa. Poucos amigos e que normalmente os vejo algumas vezes no ano. Na maioria das vezes uma pessoa muito estressada e ansiosa, mas em meio a isso sou muito brincalhão quando estou na minha zona de conforto.

 

Você mantém contato com outras bandas de DSBM brasileiras? Como você vê a cena desse subgênero aqui no país, atualmente?

Sergio: Pouco contato. Tenho muitas pessoas que estão no meio do DSBM nas redes sociais, e sempre estou acompanhando o que elas estão fazendo, mas não sou muito de entrar em contato para conversar e manter um contato mais próximo. A cena tem seus altos e baixos, projetos bons aparecem e com o passar de alguns anos somem, outros se mantem, e tem muita gente com boas ideias aí fazendo coisa realmente ótimas. Temos uma diversidade grande de projetos é um cenário em grande expansão, porém pouco valorizado.

 

Além do Metal, você escuta outros gêneros musicais? Quais, e o que pode indicar aos fãs?

Sergio: Escuto alguma coisa, mas nada de relevante. Mas vou indicar um pianista, Sebastian Larsson, e o álbum intitulado Piano.

 

Considerações finais.

Sergio: Agradeço o espaço e o apoio de todos que acompanham meus projetos ao longo desses anos.


Você pode acompanhar as bandas e projetos de Sergio nas plataformas  YoutubeBandcampSouncloud, Spotify e em suas páginas oficiais no Facebook e Instagram.