domingo, 1 de maio de 2022

Lúgubre indica

 


Strid é um álbum lançado em 1994 da banda norueguesa de mesmo nome. Esse álbum tem uma produção surpreendentemente clara, embora ainda raw o suficiente. Essa banda é tida como a precursora do DSBM pois suas letras e sonoridade carregavam muita melancolia, trafegando por um caminho distante do Black Metal Norueguês da época. O álbum contém apenas 2 faixas, mas são suficientes para expressar a mais bela melancolia. As músicas criam uma atmosfera de total desespero como se, através dos vocais, também ecoassem os gritos miseráveis que emanam de dentro de cada um de nós. As melodias dolorosas e os uivos torturados parecem cortar como uma faca recém-afiada. Ao final, é como se a morte já não fosse mais algo a se temer ou evitar. As canções trazem um ritmo lento e com guitarras melancólicas junto de vocais carregados de tristeza, bateria cadenciada e linhas de baixos expressivos (algo não tão comum no gênero). Esse curto álbum cria um intenso transe do início ao fim e é essencial para aqueles que podem ter negligenciado algumas das bandas norueguesas, menos conhecidas, do início dos anos 90, bem como qualquer pessoa que queira ouvir Depressive Black Metal diretamente de sua fonte.

 Strid - Strid [1994]



• Eiskrieg é um EP da banda Wedard, lançado em 2007. Como é comum em muitos álbuns, há uma introdução instrumental (embora seja tida como uma faixa) que abre brecha para o que vem à seguir. Assim como a imagem da capa procura expressar, este EP é bastante gélido. A bateria é simples em todas as faixas mas bastante marcante e conduz os vocais claros e agudos perfeitamente. Eles possuem uma pesada camada de reverberação, o que remete uma forte sensação de distância e que é muito adequada para o EP. As guitarras se alternam entre limpas e distorcidas com riffs minimalistas e hipnotizantes. O andamento das músicas soa lento em alguns momentos e rápido em outros, mas sem perder a melancolia e paisagem sonora de solidão. Os teclados criam uma profundidade muito enriquecedora nas faixas, a ambientação remonta a um cenário glacial onde as estradas foram tomadas por nevascas impedindo o indivíduo de poder seguir, restando-lhe apenas sentir o frio mais e mais intenso dentro de si mesmo. A última canção, A Desolate Song for Desolate Hearts, tem uma carga emocional muito intensa com discursos em voz limpa, uma lenta e ritmada bateria e guitarras se entrelaçando com sons de teclados. A melodia parece possuir o ouvinte e suscitar uma sensação de fim "alegre", como quando se repensa sobre a própria vida passada deixando uma certa nostalgia vir à tona antes de, finalmente, poder fechar os olhos para sempre.

 Wedard - Eiskrieg [2007]



• Time Heals Nothing é o 1º álbum da banda Through the Pain, lançado em 2009. Esse álbum carrega uma profunda tristeza e, ao meu ver, é um dos essenciais do DSBM, pois é bastante frio e de intensa angústia que só pode ser sentida por quem se identifica e visualiza as paisagens sombrias criadas. Não é um álbum "quente", com mudanças ou com riffs que puxem o ouvinte facilmente, pelo contrário, ele soa bastante estéril e sem vida quanto possível. E é esse vácuo de melancolia que suga o ouvinte em uma monótona melodia hipnotizante. Não é um álbum de meio termo, ou se gosta ou não. A 3ª faixa, Absence of Will, é a única com um pouco mais de variação, isso devido ao contrabaixo sobreposto, dando uma "levantada" no ritmo que, nas outras faixas, caminham em riffs repetitivos. Mas, talvez, foi inserida como uma abertura para a faixa que dá título ao álbum e o encerra pois a Time Heals Nothing enfatiza muito bem sua mensagem, "o tempo não cura nada". Os vocais expressam a desolação ao confrontar os anos buscando algum conforto, mas a ilusória cura se torna mais distante, até que se dissipa completamente.

Through the Pain - Time Heals Nothing [2009]



• O Fim é a demo de estreia da Neblina Suicida, lançada em 2011. As músicas são carregadas de uma sonoridade bastante crua, remontando bandas de Raw Black Metal, mas dando maior ênfase na lentidão, contando com elementos do Funeral Doom. São marcadas por vocais graves guturais mórbidos, riffs vagarosos acompanhando as canções como o cortejo de um funeral e uma bateria morosamente marcando o caminho sonoro e com poucas variações. Fernando Count sempre citou que Xasthur foi uma de suas maiores influências e, aqui nessa demo, isto é bastante perceptível, mas não como se ele tivesse tentando criar uma atmosfera como Malefic fazia, e sim que procurou usar tal influência para lapidar seu próprio clima melancólico e sombrio nas canções. Os temas das letras giram em torno do desejo de morte, expressando o desgosto em viver e enfatizando a desgraça que habita todas as vidas humanas. A morte se torna alternativa inevitável para todo ser humano pois a dor e o mundo caótico só nos faz desejá-la o mais breve possível. Para quem quer conhecer bandas nacionais e que cantam em nosso idioma, é essencial que esta demo esteja na playlist.

Neblina Suicida - O Fim [2011]