sexta-feira, 17 de setembro de 2021

A História do DSBM no Brasil

O Metal Negro Depressivo Suicida não demorou muito para chegar em terras brasileiras. As características que moldam esse subgênero do Black Metal logo alcançaram àqueles que se enxergavam de tal modo, independente do país onde residiam. A dor mental, a insatisfação pela vida e o desejo inevitável pelo suicídio, expressado nas canções, foram acolhidos por todos que sentiam o mesmo para com suas vidas e, assim, o DSBM começou a agregar adeptos. Do mesmo modo que chegava aos ouvintes e gerava uma identificação com o conteúdo, também despertava uma vontade, em muitas pessoas, de usar a música para dar vazão às suas mais soterradas agonias internas, assim criando seus próprios projetos.

Embora leve o 'Black Metal' no título, sendo assim referido como um subgênero deste, o DSBM tem como base a dosagem com o Doom Metal, ainda, com a música ambiente e atmosférica, resultando em uma vertente com identidade própria.

No ano de 2005, em Limeira, uma cidade do estado de São Paulo, o multi-instrumentista Paolo Bruno veio a formar a banda Thy Light - Tua Luz, em português -, dando origem, assim, a cena nacional do subgênero mais depressivo do Metal. Anterior a Thy Light, as bandas paulistanas Sky Valley e Ravenblood, as mineiras Sorrows (inicialmente formada sob o nome Misanthropia of Souls) e Geheimnis, a cearense Eternal Martyr, e a carioca Ymber Autumnus, formada por Caronte, vocalista e guitarrista da banda Velho, já abordavam temas como depressão e suicídio em suas músicas, no entanto, seguiam com as características do Black Metal, com músicas velozes e vocais furiosos. Thy Light caminhou em direção à melancolia, com passagens sonoras unindo guitarras menos pesadas e mais expressivas, atmosferas criadas por teclados e baterias cadenciadas mantendo uma base precisa ao longo das canções, bem como vocais desesperados e carregados de angustia de Paolo, que sempre cita a banda Summoning - creditada como uma das precursoras do Atmospheric Black Metal - como uma de suas maiores influências. A parte lírica ficou à cargo de Alex Aguiar, um amigo norte-americano de Paolo e que tinha maior facilidade em escrever. A estreia da banda veio com a demo Suici.De.pression, lançada no ano de 2007, e que se tornou um material indispensável para quem aprecia DSBM. Unindo linhas instrumentais melancólicas, vocais angustiados e expressões líricas com temas percorrendo a depressão, a solidão, a insatisfação pela vida, a amargura, o desespero diante do sofrimento e o suicídio, a demo traz a seguinte informação: "Suici.De.pression é uma homenagem a Everaldo Dolensi Junior que cometeu suicídio em 18 de setembro de 2006. Ele tinha apenas 22 anos quando morreu." Se, por si só, essa demo já carrega as mais cruas emoções, ao se deparar com essa homenagem o ouvinte passa a escutar as faixas sentindo também as emoções ali expressadas com um grau ainda maior de sinceridade, tendo a certeza de que se trata de um autêntico tributo que soa repleto de dor, desesperança e depressão. Cada faixa desta demo representa uma fase ante o suicídio do indivíduo. Evocam os momentos finais de alguém que avançou em direção à morte, uma morte autoprovocada. A banda veio a se tornar cult dentro da cena, alcançado fãs não apenas no Brasil, mas, também, mundo afora.

A partir de 2007 várias bandas, em diferentes estados do país, começaram a compor músicas introspectivas, com letras abordando a solidão, a desesperança e o ardente desejo pela morte.  Entre elas se destacam as gaúchas Winter Forest e Reinkaos, as paulistanas World Funeral, Suicidal Disciplines, Vesano e Dark Isolation, a brasiliense DepressiveLife e a sergipana Cantus Soturnus. Essas bandas ainda carregavam muitas das características do Black Metal, porém já dosadas com linhas atmosféricas e ambientes.

No início da década de 2010 o DSBM já se consolidava como um subgênero do Black Metal e, assim, as bandas surgiam já carregando este rótulo musical. Essa identificação foi primordial para chegar até ao público que, neste momento, somavam-se em milhares. Uma forte aliada do DSBM, sem dúvidas, foi a internet. Com o surgimento das comunidades - chamadas também de fóruns de discussões - o subgênero se tornou um dos assuntos abordados pelos usuários. Desde então passou a ser comum músicos criarem projetos e apresentarem para seus amigos virtuais. Isso trouxe, inclusive, parcerias que resultaram em pessoas criando música juntas, ainda que fisicamente distantes.

Intitulando sua música como ‘Antinomiana’ (aquilo que foge das leis), a banda mineira Daath é tida como uma das precursoras desta década compondo em seu idioma nativo. Em outubro de 2010 é lançada a demo Abismo..., contendo 3 faixas. Duas delas com influências do Ambient Black Metal, enquanto a canção Eu Escuto a Morte traz uma sonoridade alicerçada no Raw Black Metal, com riffs repetitivos e uma bateria envolvente. Clamando pela morte, Conde E. Daath - o único membro da banda - expurga seu desgosto para com a vida e seu anseio pelo próprio fim.

Em março de 2011 a banda-de-um-homem-só Neblina Suicida, fundada por Fernando Old Count - também à frente das bandas Old Throne e Anti Life -, na cidade carioca de Nova Friburgo, lança sua demo O Fim. Trazendo músicas carregadas de uma sonoridade bastante crua, remontando bandas de Raw Black Metal, mas dando maior ênfase na lentidão com elementos do Funeral Doom, a demo é marcada por vocais graves guturais mórbidos, riffs vagarosos acompanhando as canções como o cortejo de um funeral e uma bateria morosamente marcando o caminho sonoro com poucas variações. Fernando Count sempre citou que Xasthur foi uma de suas maiores influências e isso é bastante perceptível nesta demo, no entanto, não soa como se ele tivesse tentando criar uma atmosfera como Malefic fazia, e sim que procurava usar tal influência para lapidar seu próprio clima melancólico e sombrio nas canções. Os temas das letras giravam em torno do desejo de morte, expressando o desgosto em viver e enfatizando a desgraça que habita todas as vidas humanas. Sua mensagem é de que morte se torna alternativa inevitável para todo ser humano pois, a dor e o mundo caótico, nos fazem desejá-la o mais breve possível. Em junho do mesmo ano, a banda amapaense Endless Solitude lança a faixa Southern Depression em um SPLIT ao lado das bandas Opus Profanus, Black South e Empty of Darkness. Os dedilhados suaves na introdução da canção, que comumente passaram a fazer parte das características do DSBM, a preparam para o peso de riffs que chegam em seguida e alicerçam os vocais de Helvetin que expressa sua insatisfação para com a vida. Em agosto, a banda manauense Epocha Tristésse estreia com um single autointitulado trazendo uma gama de emoções em uma sonoridade rápida executada por Kavera com clamores desesperados de M.FKavera também fundou a banda Decadência Fúnebre junto com A.O.S Heirdrain, lançando a demo WalkThrough..., com uma sonoridade densa, mórbida e atmosférica. Forgotten Abyss, iniciada como um projeto solo de Lithium Spooky, veio em seguida se somar com os membros Ghoul e Don The Blasphemer lançando a demo My Last Winteronde a suavidade de sons acústicos se mesclava ao peso de riffs distorcidos e vocais expressivos. Begotten In Pain, banda paulistana formada por Blutum Angot, preenche o ano lançado 3 demos seguidas, Mors Omnia Solvit, No Auge do Desespero e Pelas Negras Profundezas do Abismo, trazendo a dor dosada com rancor em músicas gravadas de modo mais amador possível. E, então, o ano se encerra com outra banda paulistana, Hateful Agony, formada por Lord Doryan Wolf, Wvlferrer e Aske D, lançando, no mês de dezembro, a faixa Aokigohara's Forest, em um SPLIT junto com as bandas Misantropiae e Unholy Side. O título da música se refere à Floresta Aokigohara, localizada no Japão, na base do Monte Fuji, e considerada um dos locais onde mais ocorrem suicídios no mundo.

A partir de 2012 a cena de DSBM no país torna-se mais expressiva, com inúmeras bandas sendo criadas e já estreando com suas demos. Em fevereiro a banda Lamúria Abissal, formada pela dupla Thy Despair e Pale - respectivamente, residentes em Bangu, Rio de Janeiro e Paulo Afonso, Bahia -, lança a demo Cânticos de Um Além Abismo, contando com 4 faixas. Nas palavras de Thy Despair, o nome da banda expressava "o lamento daqueles que nunca viram a luz da vida, ou qualquer que seja". A demo remete justamente a isso, às lamúrias vindas do mais obscuro abismo interior. As letras percorrem toda a fadiga e exaustão de sobreviver diante de uma miserável existência e como as decepções com os seres humanos, os rompimentos de laços alicerçados em confianças, facilmente, quebrados por uma das partes traz uma grande exaustão emocional. A sonoridade dessa estreia é bastante bruta, pouco lapidada, porém, com riffs marcantes, vocais intensos com muito sofrimento e letras que remetem sair do fundo de um peito dilacerado pela vida. A arte da capa desta demo foi feita por Fernando Count Old (Neblina Suicida). Ainda nesse mesmo ano, no mês de outubro, o primeiro álbum, trazendo um caos dos mais profundos e destrutivos sentimentos humanos, é lançado sob o título O Último Descanso Finalmente lhe é Concedido. O instrumental de Pale ainda soa ríspido, com guitarras corrosivas que criam uma atmosfera para os poemas de Thy Despair, no entanto, é perceptível uma melhor mixagem e produção neste álbum. A parte lírica, que de fato são poemas escritos por Thy Despair, carregam influências do ultrarromantismo, um movimento do século XIX de língua portuguesa conhecido por ser obscuro e autodestrutivo. As temáticas envolvem decepções, rejeições, vazio existencial, ódio, dor, sofrimento, isolamento, fadiga mental, depressão, suicídio e morte. A capa do álbum é a fotografia do suposto fantasma do Sanatório de Waverly Hills, em Louisville, Estados Unidos. Segundo as lendas, a imagem é do espectro da enfermeira que teria cometido suicídio e que pode ser visto vagando pelos corredores do hospital. Deixando de lado as histórias paranormais, o fato é que capa remete muito bem o obscuro, o desconhecido, a insanidade, o pavor de viver, sobreviver ou meramente existir. Os vocais de Thy Despair são profundamente desoladores e transmitem sentimentos de fúria com uma dor que não pode ser sanada de jeito algum. Os riffs de guitarra, executados por Pale, são hipnóticos e bastante marcantes em cada música. Com faixas de longa duração, carregadas de desespero e rancor, instrumental simples, mas envolvente, o álbum entrou para a lista dos essenciais quando se fala em DSBM nacional. As faixas Amado Ódio Retroativo e ...de uma Profunda e Cancerígena Melancolia são as mais notáveis deste lançamento. Ainda, a canção que leva como título o nome da banda, ultrapassa 14 minutos de duração com o mais intenso ardor e melancolia. O ano ainda teve lançamentos das bandas Hateful Agony e Begotten In Pain. Em setembro, o EP Vazio trouxe canções que alicerçaram a sonoridade que Hateful Agony conduziria a partir dali, dando ênfase a um instrumental mais próximo do Doom Metal. Além de 4 faixas autorais, o EP também conta com um cover da música Springtime Depression da banda Forgotten Tomb, uma das influências da banda. No mês de dezembro Begotten In Pain também lança seu primeiro EP, Esquecimento. Com canções carregadas em fúria vocal, o instrumental se mantém constante com poucas variações. A gravação é bastante amadora, o que faz deste álbum uma peça singular na lista de essenciais do DSBM nacional.

Fundada na cidade de Aracruz, Espírito Santo, no ano de 2013 por Fúnebre, a banda-de-um-homem-só Funesto inicia já lançando a demo Meu Último Dia, de forma independente, contendo 4 músicas. Nessa demo, Fúnebre já expressava seu talento dosando vocais carregados de fúria e, ao mesmo tempo, com a lentidão característica do Funeral Doom, criando uma atmosfera envolvente e melancólica. Com influências de bandas como Nocturnal Depression e Happy Days, o instrumental é marcante e traz uma originalidade a Funesto, que regurgita em cada faixa toda a sua insatisfação para com a vida. O instrumental é cadenciado e harmonioso do início ao fim. Em seu primeiro EP, Caminhando Para Morte, Funesto seguiu com as características da demo e somando outra que seguiria por lançamentos futuros: canções completamente instrumentais. Neste EP as faixas Eterna Solidão e Trauma dão um ar ainda mais melancólico e belo ao conjunto. A banda mineira Absent Heat, formada por O.L. na cidade de Belo Horizonte, também surge estreando com um SPLIT intitulado Lifeless, juntamente com a banda Eternal Misery, e traz à tona um som cativante onde passagens limpas de guitarra se intercalam com riffs pesados criando terreno para os vocais imersos em amargor de O.L. Ainda no mesmo ano, o primeiro álbum, Distant Thoughts​.​.​. Walking In Uncertain, é lançado, contando com 11 faixas e, também, com um novo membro, P., que somou-se aos vocais, composição e bateria. Este álbum é bastante cru, ainda que haja passagens limpas, resultante da união dessa dupla que voltaria a se unir em outros projetos no futuro. Em julho a banda Gulag, formada por Häxan na cidade de São Paulo, lança seu EP autointitulado trazendo novos sons ao DSBM nacional. Com passagens limpas beirando ao etéreo, vocais se alternando entre guturais e suaves, linhas de bateria média à rápida e instrumentos acústicos a banda foi uma das precursoras do Post Black Metal no país. Suas temáticas líricas giravam em torno de ideais socialistas e o abatimento que pesa sobre o indivíduo numa sociedade capitalista. Outra banda oriunda de Belo Horizonte, Minas Gerais, chega à cena com sua demo GuideYourself to the Negativism Convulsion. Formada por R. e Azi-Dahak, Drowning in Sorrow caminhava entre o Depressive e Funeral Doom com uma sonoridade Raw e letras abordando o auto-ódio, negatividade e suicídio. O ano ainda contou com a banda paulistana Freak Funebre, da cidade de Taboão da Serra, lançando a demo As Sombras da Noite Eu Morro por Eu Mesmo..., contando com Old à frente do instrumental, vocais e composição, a banda trazia uma aspereza sonora com furor vocal e letras expressando a insanidade de existir. Uma segunda demo é lançada, Nictofilia, a Filosofia do Meu Suicídio, contando com faixas menos ásperas, mas ainda carregadas em ferocidade e sem perder a atmosfera desoladora. Old utiliza vários efeitos nas canções - ruídos do oceano, grasnar de corvos, bipes de monitor de UTI -, característica que viria a ser acrescentada por muitas outras bandas de DSBM. Ainda, esta demo abre espaço para Old evidenciar seu talento tocando piano e violão nas faixas Outro e Meu Corpo nas Águas em Meio a Escuridão, respectivamente. Ainda em 2013, teve a estreia da banda carioca Cold Internal Corrosion, formada por P., com as demo Ashen... Apathetic, Erasing-Me e Spectrum of Oblivion, trazendo o Depressive Black Metal dosado com o Dark Ambient e elementos do Funeral Doom, com letras profundas sobre a percepção da existência, dor, sofrimento e apatia. As canções são lentas, com uma bateria criando profundidade por detrás de riffs repetitivos de guitarra e urros expressivos de P. O álbum Cinzaspectral traz faixas mais carregadas e a temática das músicas se focam na interminável luta contra a Anorexia Nervosa. Completando o ano, a mineira Angústia, formada por Lobo, na cidade de Lavras, traz em sua demo de estreia, Eternamente ao Fim, linhas de Black Metal fundindo-se ao Shoegaze resultando em canções melancólicas e rápidas com vocais se alternando em limpos e guturais.

Entre os anos de 2014 a 2016, ocorreu uma espécie de boom de bandas de DSBM em território brasileiro. A internet que já vinha sendo uma forte aliada para o surgimento de bandas e projetos, se tornou ainda mais importante para o fortalecimento da cena. Com o crescimento no uso das redes sociais, grupos com temas específicos passaram a ser criados e muitos destes se focaram no DSBM. Esses grupos virtuais eram abertos tanto para os fãs do subgênero quanto para que músicos, interessados em iniciar projetos, pudessem encontrar outros para fazer uma parceria, e, ainda, eram espaços para aqueles que já tinham bandas poderem divulgar e chegar mais diretamente ao público apreciador do DSBM. Entre as bandas que surgiram nesta época se destacam a brasiliense Mepth, formada por Maycon Douglas Lopes de Moura, trazendo sons acústicos intercalando com uma sonoridade mais pesada; Distiphyxia, formada por O.L. (Absent Heat) e P. (Cold Internal Corrosion), com uma textura atmosférica e sufocante unida a elementos do Doom Metal; a gaúcha Gurum, tendo Emmanoel à frente do instrumental, vocais e parte lírica e expondo a melancolia imanente sobre toda a vida humana; a paulistana Desgraça, formada na cidade de Osasco por Moloch e Frûshkul, trazendo a aflição, depressão e suicídio como temas das letras e um instrumental melancólico e bem trabalhado com a alternância de guitarras limpas e distorcidas; Selvmord, formada pelo paulistano Pulver e pelo potiguar Loser, dosando a leveza em acordes de guitarra com o furor de vocais guturais em agonia; a carioca Sett, formada por 2704 e 1608, trazendo crueza vocal e sonoridade expressiva; Rope, formada por Chackal em João Pessoa, na Paraíba, evocando uma nostalgia com acordes serenos de guitarra que se alternam com o peso que explode regurgitando toda decepção, frustação e sentimento de insignificância perante os relacionamentos interpessoais aos quais somos, inevitavelmente, lançados; a paranaense Tristesse, formada por Martinelli e Foedamtonmal, que também expõe a dura e pesada decepção, o desapontamento e mágoa a qual despenca sobre qualquer pessoa após rompimentos amorosos; a sergipana Anham, formada na cidade de Nossa Senhora da Glória por Névoa Sombria, Anhanguera e Tempestade Negra, com influências diretas do Black Metal em seu som, trazendo músicas cruas e ásperas; e Darkat Yuuyamihn, formada por Yuuyami em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, sendo conduzida por uma produção amadora mas bastante notável. No ano seguinte, 2015, mais bandas foram se somando à cena. Com o carioca Seektor e o mineiro Skymning, a banda Abisma surge estreando com o EP Lamentos, caminhando sob uma sonoridade atmosférica e com influências do Doom, com letras expressando a desesperança, a dor, depressão e suicídio. :Nihus:, banda paulistana, inicia-se com Sjükt na parte instrumental e Gris nos vocais, sob o nome de Wahn, no entanto, em poucos meses Gris deixa a banda e Emmanoel (Gurum) assume os vocais. Fluindo entre músicas rápidas, influenciadas pelo Black Metal, e outras onde a lentidão impera, o álbum Monólogo do Sofrimento entrou para os indispensáveis da cena nacional. No Norte do país, na cidade de Belém, a banda Inverno Soturno lança a demo Sob A Lua Negra, sendo um material completamente instrumental e com baixa produção feita por Leviathan. E, no Nordeste, mais precisamente na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, a banda Worros estreia com o single Worthless Suffering (For You), lançando em seguida o álbum Within Deep Pain, evocando uma sonoridade envolvente se mesclando em harmonia aos prantos expressados pelos vocais de Loser (Selvmord). A paraibana Old Memory, contando com Crow como único membro, traz, em sua demo Isolamento, músicas lentas influenciadas pelo Doom, com uma atmosfera soturna. Em Betim, Minas Gerais, Abismika, formada por Depression 4, surge lançando a demo Ouça Minha Angústia, trafegando por uma sonoridade mais Raw. A paulistana Dead Soul, formada por Henrique Teles, também trafegando por um som mais cru, lança o single Adeus a Minha Vida. A mineira Frio Insólito, formada por Depression 4 e Astaroth, lança o single Própria Aversão, no SPLIT intitulado Morte - que também contou com as bandas Orgiastic Perversion, Abismika, Moonlight Scream, Déšt e Hookrim -, percorrendo a sonoridade do Raw Black Metal com riffs minimalistas de guitarra, levadas rastejantes de bateria e vocais carregados de furor e amargura trazendo no conteúdo lírico o desprazer para com a existência. Suffer, banda formada por Morchant e Aquelarre, também estreava caminhando pela sonoridade Raw com sua demo autointitulada. No Sul do país, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, surge a banda Sadroom e, fazendo jus ao nome, traz canções simples gravadas por Pedro Schmitt em seu próprio quarto, de forma bastante amadora. Ainda no Sul, na capital do Paraná, Curitiba, a banda Hikan traz em seu primeiro álbum músicas executadas com primazia, remontando o Black Metal Norueguês dosado com a melancolia e desespero do Depressive Black Metal. Michael Wilseque, único membro da banda, torna The Cycle of Pain um dos álbuns fundamentais da cena nacional. Outra banda curitibana surge estreando com seu álbum completamente instrumental, Noirgale, formada por N, trazendo canções atmosféricas dosando suavidade e melancolia.

Embora o Black Metal começasse a se fundir a outros gêneros na década de 2000, foi somente após o ano de 2010 que o Post Black Metal - também chamado de Blackgaze - começou a alcançar o mundo. Neige, a figura marcante e o principal precursor deste subgênero, estava à frente das bandas francesas Alcest, Amesoeurs e Lantlôs que tiveram reflexo em diversos países, onde as cenas com bandas se influenciando por esses projetos começaram a crescer. No Brasil, bandas que caminhavam dentro do DSBM começaram a acrescentar as características do Post Black Metal em seus sons. Os temas se alicerçavam em alguns dos temas já abordados no DSBM, porém, menos diretos e dando mais vazão à tristeza, solidão, paisagens sonhadoras e irreais e a uma saudade de momentos infantis e alegres. A sonoridade é resultante do conjunto de efeitos como chorus, delay, reverb, tremolo e uma distorção fuzz menos pesada nas linhas e riffs de guitarra e vocais ecoantes se alternando entre limpos e guturais compondo, assim, uma atmosfera mais melancólica ao invés de desesperada. O Post-rock e o Shoegaze, com riffs melodiosos ultradistorcidos e, também, com certa suavidade de dedilhados limpos de guitarra, são as características principais fundidas ao Black Metal e que resulta no Blackgaze. Tudo se junta para moldar uma atmosfera bela e confortante, quase sobrenatural, ao mesmo tempo em que pode aparentar sombriedade ou mesmo fantasmagoria. Este subgênero consegue esboçar um verdadeiro mix de emoções e de ambiências, o que o torna atraente para quem se identifica com músicas sentimentais. É como se fosse uma levitação às nuvens, uma sensação confortante de que nada mais neste mundo existisse ou importasse. Um choque entre o belo e o sombrio. Algumas bandas carregam alguns elementos do Post Punk como baixos nítidos e baterias velozes, mas sem soarem agressivas demais. Bandas notáveis que surgiram nesta época são a paulistana Help, formada inicialmente por João Tolentino e Mortem; as baianas Gray Souvenirs e As Long as I Can (ALAIC), contando com Putrefactus como fundador delas; a paraibana Nostalgia, fundada por Torres e Héricles França; a gaúcha Depth, formada unicamente por Lucas Alves; a paraibana Dolorem, formada por Paulo Roberto, Nichollas Jaques, Jackson Luciano e Marcos Sena; e a paulistana Lado Esquerdo Vazio, formada por Guilherme Giorgiani e Diego Morais.

O crescimento de bandas nacionais de DSBM foi despertando mais o interesse de muitos músicos - que já tinham projetos dentro do metal extremo - de formarem projetos dentro deste subgênero para expressar a dor e mazelas da vida. A partir de 2017 a cena se fortaleceu e ocorreram lançamentos onde duas ou mais bandas se juntavam para lançar suas músicas, o chamado formato SPLIT. Os paulistanos L. Andras Horeotod e E. Carvalho estreiam a banda Whore Illusion no SPLIT Sala III, ao lado da banda Bärkdum. Em Pernambuco, Montosse, formada por Érdos e Astratta, lança, ao lado da banda Cold, o SPLIT Wintercearig, trazendo toda a efemeridade da vida em suas marcantes canções. Juntamente com o músico equatoriano Dopamine, Astratta lança o EP A Deep Melancholy para a banda ​​Le Déliredes Négations formada por ambos. Ainda, no mesmo ano, Astratta também lança a demo Wind, para seu projeto solo chamado Entardecer. A banda Ecos Póstumos, formada no estado do Paraná, na cidade de Arapongas por Renato Nascimento, lança no mesmo ano os EPs Diário de um Suicida e Diário de um Suicida (Lado B), o single Hipocristia e o EP Janela Para a Loucura, todos carregando a característica de abordar os Transtornos Mentais e as vivências de pacientes internados em hospitais psiquiátricos. Trazendo músicas no formato voz e violão, identificando a si como ‘Acoustic Depressive Black Metal’, a banda pernambucana Freak Out, formada por Tenebris e Mørgue, lança vários singles onde abordam temas como abusos físicos, traumas emocionais e a crueldade de pessoas que induzem outras ao suicídio.

Sob influências das bandas chamadas de Depressive Rock/Narcotic Metal como Lifelover, Apati e Psychonaut 4, surgem em território brasileiro as bandas Narcose, formada por Nitlott, Krishna, Neutra, Lord Astaroth, (P) e Nihilist, na cidade de Campina Grande, Paraíba, explorando toda a melancolia urbana em suas letras; a paulistana Vumini, formada por Dr. Jekyl, experimentando o Depressive Rock com Trip-Hop; Invernium, formada por Förhätt, na cidade de Valinhos, São Paulo, unindo o Narcotic Rock ao Atmospheric Black Metal; e a também paulistana Monophobia, formada por .jpg, com canções repletas de melancolia e solidão oriundas da vida cinzenta e apática das grandes cidades.

Em 2018 a banda paraense Deadwishes, formada na cidade de Santarém, por JuanHaughm, lança o EP Of Shattered Hopes.​.​., contendo 4 faixas inteiramente instrumentais. Exequial, banda paulista formada por Nefarious Herald e Supremous Necromancy, lança a demo Misanthropic Mediation About Suicide, carregada de elementos do Doom Metal. A banda A.S.A.H, formada por Astratta e o musicista francês Alrinack, lança o álbum Apparition charnelle, trazendo uma bela melancolia, atmosfera encantadora com instrumental e vocais bem trabalhados. Morte Rubra, formada por A. Joseph e Astratta, lança no mesmo ano o single Vidas Atormentadas, o álbum Fadário Dizimado e o single Persistência da Consciência, percorrendo uma mistura do Atmospheric Black Metal com o Post Black Metal e até com elementos do Death Metal. A paulistana Allonair, formada na cidade de Assis por Lophrano, estreia com o álbum Your Life Ends Here, carregado de uma atmosfera fúnebre com influências do Funeral Doom e o uso massivo de teclados e piano que são precisos para encaixar letras que trazem à tona toda a desolação humana, a decrepitude da existência e a perpétua angústia que rasga o indivíduo diariamente. Alloces, formada por Leonardo Lobo na cidade goiana de Palmeiras de Goiás, estreia com o EP The Melancholic Spirit, contendo 3 faixas completamente instrumentais onde mesclam riffs repetitivos à uma cadenciada melancolia. V/H/S, formada por Asttrata Nokturna e Érdos, traz em sua estreia o álbum OPUS DCLXVI, carregado de influências da filosofia e literatura, as músicas são ríspidas e focam-se em temas sombrios e obscuros dosados com negatividade e depressão. E, em Contagem, Minas Gerais, Midnight Loss, banda formada por Neito Kevorkian, lança, simultaneamente, o EP Stuck Happiness com o álbum Free Your Pain, alicerçados em uma sonoridade crua abordando a exaustão de existir, a desesperança, a angústia, a solidão, a automutilação, o desespero em meio às dores internas, o suicídio e a morte.

Os anos de 2019 e 2020 foram muito importantes na história do DSBM nacional. Nesse período recente ocorreu uma nova safra de bandas. Muitas daquelas, formadas em anos anteriores, entraram em hiato. Outras foram encerradas ou, simplesmente, abandonadas. Ainda tiveram perdas como a de Leandro Lobo (Angústia) e Chackal (ROPE), que vieram a cometer suicídio. Por algum tempo, permaneceu um silêncio na cena. A partir de 2019, novas caras foram surgindo e se somando à pequena, mas expressiva, cena de DSBM no país. Formada unicamente por F.R., na cidade paranaense de Curitiba, Unguilty estreia com a demo Reflections of Delusion que, embora seja chamada de demo, traz uma qualidade ímpar com canções mesclando elementos do Doom com o Black Metal e letras percorrendo o vazio existencial, solidão, traumas, decadência humana, nostalgia, dores mentais e morte. Em São Paulo, a banda Angustifolia lança a demo Dwelling in Emptiness, também trazendo uma boa produção com músicas bastante atmosféricas que servem de base para que Alisson expresse oralmente a desolação, a dor e a negatividade da vida. Formada por Das Irrlicht e Daemon Saiph na cidade de Anápolis, Goiás, Alivium lança o single Vazio, trazendo a força dos vocais femininos que vociferam o furor mesclando-se à desolação em meio a uma sonoridade crua, densa e que exalta a aspereza encontrada na rotina humana. Percorrendo caminhos um pouco dissonantes do Depressive Black Metal, Nattag, banda formada na cidade paranaense de Ponta Grossa por Yakoushi, traz em seu álbum de estreia, Blood II, bastante experimentações com ruídos, passagens etéreas difusas e vocais imersos em camadas de guitarras minimalistas com batidas soturnas de bateria. As letras abordam temas como abandono, livramento das dores mentais no suicídio e automutilação, insegurança, não-existência, desesperança, morte e natureza. No Distrito Federal, Antissocial, banda formada por Solfieri Süskind Angst, lança o EP autointitulado contendo 2 faixas onde a sonoridade percorre elementos do Depressive Black Metal e Depressive Rock e que remontam as belas melodias de Katatonia, com uma envolvente sonoridade que prende o ouvinte às pulsantes e enfáticas levadas de bateria e riffs hipnotizantes de guitarra. Após o fim (ou pausa por tempo indeterminado) da banda Lamúria Abissal, os seus membros - Thy Despair e Pale - seguiram com outros projetos musicais. Thy Despair, que passou a usar o pseudônimo Reverend Despair, juntou-se à musicista Astratta e fundou a banda Ensimesmamento, com canções que colocam o ouvinte diante de seu Eu perdido na escuridão da vida e lirismo repleto de poemas ultrarromânticos se aprofundando em abismos existenciais dosados com um impecável instrumental, o álbum Notívago marca a estreia da banda. Na capital do país, Brasília, surge Solidão, com Ose Agares e Solfieri Süskind Angst, lançando os singles Último Ato, Lastimável Vazio e Esquizóide onde violentas e dolorosas melodias dão vazão às emoções enraizadas nos confins da vida. A banda manifesta com precisão o sentimento desolador que assola a existência humana e a nomeia. Haldol, medicamento da classe dos neurolépticos e usado no tratamento de transtornos mentais, nomeia a banda formada por Érdos e Astratta, na cidade de Recife, e, tal qual o medicamento, as músicas desta banda deve ser indicada como uma espécie de terapia a todos que padecem de algum sofrimento mental, pois, pulsando entre o Depressive Rock/Narcotic Metal, a banda lança singles com uma sonoridade que conduzem o ouvinte a uma certa alegria melancólica, aquela cuja só ser pode sentida através da boa música. Abyssal Pain, formada por Serotonin, no município de Angra dos Reis, Rio de Janeiro, surge lançado os singles Discouragement , The Cold Winter Involve My Sorrow e Esquecimento, dosando linhas acústicas com riffs minimalistas de guitarra, bateria cadenciada e vocais impetuosos e com letras falando da dor que ultrapassa o indivíduo e o conduz ao enterro de suas próprias esperanças. Na cidade baiana de Salvador, surge Solivm, dosando a crueza do Black Metal com uma sutil melancolia do DSBM, lançando uma demo ao vivo. Em São Paulo, o músico Jaketeme evidencia que as mais sombrias emoções soterradas na profundidade abissal da vida podem emergir até a superfície através da belíssima e agressiva sonoridade de sua banda, Pessimista. Lançando um EP autointitulado, indo da fúria do Black Metal à desoladora atmosfera do DSBM, Pessimista, curiosamente, já explorava em suas letras o caos diante de algo inominável, mas que traria ainda mais desigualdade, dor e mortes sobre o planeta, como se fosse uma previsão do que ocorreria, de fato, no ano seguinte.

O ano de 2020 foi marcado por uma epidemia global, gerando inúmeras limitações aos habitantes do planeta, e, infelizmente, também somando incontáveis mortes. Para a cena do DSBM nacional o ano foi frutífero, com várias bandas surgindo, talvez, até mesmo para que os músicos pudessem expressar algo que chegava para se somar ao peso de suas vidas. Estreando com a demo Quarentine, a banda paulistana Fentanil, formada por C22H28N2O e Phoneutria, e que, à princípio, era apenas uma forma para que os membros se mantivessem ocupados no período de quarentena que se estendeu por todo o planeta, trouxe em sua estreia músicas exalando o peso que é ser dominado pelos prazeres momentâneos de substâncias que conduzem os indivíduos a uma alegria artificial, no entanto, talvez a mais próximas do real que estes poderão experimentar, de algum modo, em suas vidas. As 3 faixas são bem produzidas evidenciando a qualidade que se arrastaria por lançamentos posteriores. No Depressive Black Metal a autenticidade dos sentimentos e emoções é a guia que conduz os músicos. Autoquíria, banda pernambucana formada por Érdos, traz isso majestosamente com o álbum Antes que Você me Esqueça. Este material - que teve por intuito ser uma homenagem a avó do músico, falecida naquele ano -, soa triste e, ao mesmo tempo, belo refletindo da primeira até a última canção os sentimentos de pesar e saudade por quem trouxe momentos de alento ao músico e tornou sua existência menos dolorosa, de alguma forma. Outra banda também pernambucana, Eternal Silencer, estreia com a demo Poemas de Uma Triste Vida, soando cru, simples e direto com influências do Raw Black Metal e letras regurgitando uma intensa carga de auto-aversão à vida. Formada por Melancholy, Jeff Death Spreader, Funesto e Spectrum, esta banda traz 5 faixas gravadas entre os anos de 2018 e 2019, mas que só foram possíveis serem lançadas em 2020. Deadleaf, banda formada por 1992 na cidade de Osasco, São Paulo, lança o álbum I'm Not Dead Yet..., este álbum, carregado de peso e furor, trazem letras compostas por 1992 que expõe toda sua desesperança para com a vida, suas frustrações e sua adicção para com tudo aquilo que pudesse o tirar da realidade dolorosa e cruel, tornando palpável as suas mais profundas emoções em cada faixa. Percorrendo as sinuosas trilhas do Depressive Dark Ambient/Atmospheric Black Metal, Heraklitus, formada no Rio de Janeiro por Heraklitus, estreia com o single Another Day e o EP Forbidden Woods que, embora sejam instrumentais, contam com músicas expressando dor, perdas, tristeza, angústia e sentimento de desesperança. Meaningless, banda formada por Misanthrope e Vitor S. - Goiás e Rio Grande do Sul, respectivamente -, estreia com o single Sentimental Anomaly e a demo Nascer e Morrer trazendo um som cru e que, dosado em ardor e melancolia, expressa o profundo desgosto pela existência humana. Os músicos Förlorat Sinne e Reverend Despair fundam a banda Maria Cortou os Pulsos, que traz em seu primeiro álbum músicas se aprofundando em temas como solidão, frustração e transgressão. A paulistana Neural Oestridae, formada por Natterskrek, lança 3 singles muito bem produzidos, We Are Nothing, Forgotten e While Grey Clouds Run, trazendo uma sonoridade mesclando elementos do Doom e Black Metal com o Ambient, as letras percorrem temas como depressão, desespero, niilismo e morte. Ainda no mesmo ano, a banda decide adicionar à sua discografia uma demo gravada 4 anos antes, em 2016, chamada Tired of All. Em Salvador, Bahia, Selas dá início à banda EIDEL, com o single Trauma, expondo suas mais profundas tristezas em meio a uma sonoridade atmosférica. No Ceará, a banda Empty Inside lança o EP De Todo o Vazio do Espaço, o Maior é o Que Sinto, com uma atmosfera dosando elementos do DSBM com o Post Black Metal e Shoegaze. Embora não seja o primeiro lançamento da banda - que data seu primeiro lançamento em 2019 e seguia misturando música ambiente, Noise e Dugeon Synth -, foi a partir deste que ela se voltou a uma sonoridade mais pesada em texturas melancólicas e, também, é neste lançamento que Pedru Dod soma seus vocais ao instrumental. Drowned, formada pelo brasiliense Kamikaze Joker e pelo gaúcho Behevras, estreia com 2 álbuns e 1 EP, Patch Of Tears, Empty Life e Swallowed By Addictions, lançados em um curto intervalo de tempo, trazendo dezenas de músicas explorando o Black Metal com Doom em atmosferas bastante melancólicas, com vocais vigorosos de ambos os membros. A brasiliense Unhappiness, formada por Agares e Cron Demom, lança alguns singles e o EP Desencarne onde evidencia uma crueza instrumental dosada com vocais imersos em dor e desespero. A paranaense Enforcada pela Vida, formada por Morta, lança o single Desfigurada Pela Ansiedade, uma faixa completamente instrumental inebriada por linhas minimalistas  Em São Paulo, Suicide is Solution estreia com seu álbum Marcado por Efemeridade, expressando dor, depressão e a efemeridade da vida através do instrumental de Förlorat Sinne e vocais de Yakoushi. Nóstus, banda também paulistana, lança o single Nostalgia, com uma bela e triste melodia que abre espaço para vocais soterrados em angústia e furor de Marcus. Na cidade de Curitiba, Paraná, Depressão Maior lança a demo Leito 167, onde Esquivo relata sua experiência enquanto internado em uma instituição psiquiátrica. E, encerrando o ano de 2020, mais uma banda formada em São Paulo surge com Alissa S., Clonazepam, dosando melancolia com ira, as músicas seguem uma atmosfera triste e densa que se alterna com linhas calmas de guitarra e outras mais pesadas onde eclode a fúria inebriada e a mais lacerante angústia. Os vocais são imersos nas paredes sonoras que se formam, soando enevoados, mas, ainda em evidência diante da fúria que sai do mais profundo abismo emocional. Embora seja tida como uma demo, Enquanto Eu Espero A Minha Vez Chegar, traz uma boa produção nas 3 faixas que a compõe.

Algo muito comum na música em geral são as pausas que os membros comumente fazem com suas bandas, sejam entrando em hiato ou mesmo encerrando-as, mas, posteriormente reativando-as e lançando novos álbuns. No Depressive Suicida Black Metal isso é ainda mais comum de ocorrer. Isso porque os músicos deste subgênero, literalmente, vivem aquilo que expõe em suas composições. Possuem Transtornos Mentais, enfrentam seus monstros e fantasmas internos e atravessam diariamente uma rotina exaustiva e dolorosa. Ainda que a música tenha o poder de dar vazão às emoções, para fazê-la, é necessário um mínimo de energia física, de ânimo e concentração, algo que se torna difícil para muitos destes músicos e musicistas. Definitivamente, músicos deste subgênero não fazem música com intenção de comercializar, não compõe se preocupando com letras fáceis para o ouvinte digerir ou relatando meras superficialidades. Tudo é muito intenso e sincero, desde o instrumental às letras. E, assim, o DSBM segue seu caminho em meio às mazelas da existência humana, trazendo aos ouvintes um certo alento, e aos músicos uma forma de expurgar suas angústias incompreendidas pela sociedade normativa que nos cerca.


Estas são playlists com bandas de DSBM brasileiras. Evidentemente, aqui constam as que possuem materiais disponíveis nas plataformas Youtube e Spotify, pois nem todas dispõem para além do bandcamp.

Youtube: Brazil Depressive Black Metal

Spotify: DSBM BR

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Região Norte

 

  


*Algumas bandas podem estar mencionadas em mais de uma região do país, devido ao fato dos membros residirem em diferentes regiões.

Região Nordeste

   
  Solivm
  Rope


*Algumas bandas podem estar mencionadas em mais de uma região do país, devido ao fato dos membros residirem em diferentes regiões.

Região Centro-Oeste

 



*Algumas bandas podem estar mencionadas em mais de uma região do país, devido ao fato dos membros residirem em diferentes regiões.

Região Sudeste

 

   
   Funesto 
  Abisma*
  Sett
  Abisma*
  Thy Light
  Help


*Algumas bandas podem estar mencionadas em mais de uma região do país, devido ao fato dos membros residirem em diferentes regiões.

Região Sul


  Hikan 


*Algumas bandas podem estar mencionadas em mais de uma região do país, devido ao fato dos membros residirem em diferentes regiões.

domingo, 25 de abril de 2021

Entrevista com Funesto

 


Funesto é uma das primeiras bandas de Depressive Suicidal Black Metal em território brasileiro, com letras no próprio idioma, e que se mantém até os dias atuais trazendo toda a desolação da existência humana através de suas canções. O blog Depressedy teve o prazer de entrevistar Sergio França, o Fúnebre, único membro por detrás da banda, mas, que também já soma outros projetos tão expressivos quanto Funesto.

 

Você tem um talento nato. Consegue dar vazão às emoções com sonoridade pesada e, ao mesmo tempo, que remete uma beleza e melancolia. Você tem familiares ou pessoas próximas no meio da música que te influenciaram? Ou o interesse por tocar, compor e cantar partiu de você mesmo?

Sergio: Meu pai era luthier, então sempre tive contato com instrumentos de cordas desde pequeno, apesar de nunca ter tido qualquer influência para aprender a tocar por parte dele. A vontade de aprender partiu de mim mesmo.

 

Muitas pessoas o conhecem por estar à frente da banda Funesto, e mais recente no projeto Depressiva Melodia, mas você já participou ou teve outras bandas e projetos anteriores?

Sergio: Sim, por volta de 2009 eu e mais 3 amigos iniciamos um projeto de Heavy Metal na qual fazíamos alguns covers e chegamos a escrever algumas músicas, porém não passou de bons momentos de diversão em um porão. Em 2010 iniciei um projeto de Black Metal chamado Culto Maligno, gravamos algumas faixas para uma demo, mas por falta de interesse dos demais integrantes acabou depois de alguns meses de ensaio. Em 2012 decidi começar a gravar sozinho pois vi que montar banda com outras pessoas não era um caminho a se seguir, foi quando iniciei o Anticristo, meu primeiro projeto one man band, que se tratava de um projeto de Death Metal. Atualmente tem duas demos em formato digital lançadas, uma com faixas gravadas ainda em 2012 e outra que gravei em 2019.

 

Escutando suas músicas, é evidente que você expressa da forma mais sincera suas dores, angústias e dissabores pela vida. Você sente que a música ajuda a aliviar, de algum modo, esses sentimentos mais sufocantes dentro de você?

Sergio: Sim, a música é uma das poucas coisas que temos para expressar tudo que pensamos sem ter que conversar ou tentar explicar para as pessoas o que estamos sentindo. Porque, na maioria das vezes, as pessoas não ligam, não se importam com sentimentos alheios, e ninguém quer perder seu tempo escutando problemas dos outros. A música te dá essa liberdade de poder gritar e colocar para fora aquilo que você está sentindo, sem precisar de ninguém para isso.

 

Depressiva Melodia é um projeto encantador, com uma sonoridade que passa tranquilidade, mas também uma tristeza. Quais foram suas influências para este projeto?

Sergio: Depressiva Melodia não teve nenhuma influência direta, porém eu escutava muitas coisas de alguns violonistas e trabalhos de piano que soassem tristes, então eu  pegava o violão, sentava e passava horas improvisando algumas coisas, até que surgiu as primeiras composições . A partir daí resolvi criar um projeto que fosse simples, apenas eu e o violão, algo que soasse triste, solitário, assim surgiu Depressiva Melodia.

 

A Funesto é uma das precursoras do Depressive Suicidal Black Metal no país, com letras em português. Como foi a recepção da cena do metal extremo na época que a banda surgiu?

Sergio: DSBM nunca foi visto com bons olhos no meio do metal extremo. As pessoas veem problemas em falar sobre sentimento no meio do metal extremo. Um dos principais obstáculos foi divulgar e fazer as pessoas pararem um tempo para ouvir. Muitas pessoas desconsideram o estilo sem nem ao menos ter tirado algum tempo para conhecer algumas bandas. No início a recepção foi discreta, mas com o passar dos tempos teve um pouco mais de aceitação.

 

Suas bandas e projetos tem a característica conhecida por serem "one-man-band" (banda de um homem só), onde você faz tudo. Em algum momento, você já pensou em se unir a mais alguém, ou formar uma banda com todos os instrumentistas?

Sergio: Se tratando de DSBM nunca me veio na cabeça em montar algum projeto com mais pessoas. Esse gênero é algo pessoal para mim, nele falo sobre coisas que vivo e penso, é uma reflexão da minha personalidade. Cada indivíduo tem sua própria personalidade, sentimentos, alegrias e tristeza, acho difícil encontrar pessoas com os mesmos pensamentos para compartilhar, seria como escrever um livro e cada um ir colocando um pedaço, não iria funcionar para mim. Muitas pessoas conseguem fazer bons projeto com mais pessoas envolvidas, conseguem compartilhar esses sentimentos unindo em uma coisa só, mas, no meu caso, não funcionaria.

 

Acredito que um dos desejos dos fãs é ver a Funesto ao vivo. Isso seria possível um dia?

Sergio: Não. Funesto é um projeto de estúdio, cada faixa é feita de acordo com os sentimentos que estão acontecendo no momento que estou criando elas, eu não conseguiria transmitir isso ao vivo. E, levando em consideração meu problema de ansiedade, eu não conseguiria subir em um palco.

 

8. Quem é o Sergio em seu dia a dia?

Sergio: É difícil falar sobre mim mesmo. Me considero uma pessoa comum, porém bastante isolada. Sempre de casa pro trabalho e do trabalho pra casa. Poucos amigos e que normalmente os vejo algumas vezes no ano. Na maioria das vezes uma pessoa muito estressada e ansiosa, mas em meio a isso sou muito brincalhão quando estou na minha zona de conforto.

 

Você mantém contato com outras bandas de DSBM brasileiras? Como você vê a cena desse subgênero aqui no país, atualmente?

Sergio: Pouco contato. Tenho muitas pessoas que estão no meio do DSBM nas redes sociais, e sempre estou acompanhando o que elas estão fazendo, mas não sou muito de entrar em contato para conversar e manter um contato mais próximo. A cena tem seus altos e baixos, projetos bons aparecem e com o passar de alguns anos somem, outros se mantem, e tem muita gente com boas ideias aí fazendo coisa realmente ótimas. Temos uma diversidade grande de projetos é um cenário em grande expansão, porém pouco valorizado.

 

Além do Metal, você escuta outros gêneros musicais? Quais, e o que pode indicar aos fãs?

Sergio: Escuto alguma coisa, mas nada de relevante. Mas vou indicar um pianista, Sebastian Larsson, e o álbum intitulado Piano.

 

Considerações finais.

Sergio: Agradeço o espaço e o apoio de todos que acompanham meus projetos ao longo desses anos.


Você pode acompanhar as bandas e projetos de Sergio nas plataformas  YoutubeBandcampSouncloud, Spotify e em suas páginas oficiais no Facebook e Instagram.