Espaço de suporte à cena de Depressive Suicidal Black Metal
sábado, 13 de abril de 2024
sábado, 29 de julho de 2023
Autópsia Lírica II
• Dysmorphophobia é uma canção da banda italiana Dreariness. A letra explora o tema da dismorfia corporal, uma condição de saúde mental em que o indivíduo tem pensamentos obsessivos e preocupações sobre sua aparência, frequentemente percebendo falhas que não são visíveis ou são insignificantes para os outros. Na letra, o indivíduo retratado é uma mulher, jovem, e que está lutando com essa condição, retratando suas emoções intensas e a percepção distorcida de si mesma. Os primeiros versos, "Eu injeto mais uma vez esse oceano em minhas veias", expressa metaforicamente o ato de se injetar com pensamentos negativos e autocríticos que a consome. A referência a um "oceano" sugere a natureza dominante desses pensamentos. A linha "Duas garras arranham minha garganta e me deixam em feroz desespero" expressa a agonia interna da jovem, as "garras arranhando sua garganta" simbolizam os pensamentos autodestrutivos afiados e dolorosos que causam danos físicos e emocionais. Essa dor é intensificada com a imagem de sangue e desespero. A linha seguinte, "Uma canção de ninar me leva à loucura" transmite a natureza cíclica da condição, onde a jovem encontra um estranho conforto, ou uma certa familiaridade, na sua percepção distorcida de si mesma. A menção de ossos se transformando em pó representa o desmoronamento e deterioração de sua autoimagem. Conforme a música avança, as emoções da jovem se intensificam. O desejo de salvar a pessoa presa dentro do espelho mostra seu anseio por escapar das limitações de sua própria mente. Os pedidos repetidos por cura e injeção de felicidade destacam seu anseio por alívio de seus pensamentos dismorfóbicos. "O espelho se quebra, ela está morta/Sua imagem lá/Ela está morta!", a quebra do espelho e a declaração da morte da pessoa significam a morte simbólica da imagem distorcida que ela havia criado de si mesma. Isso pode representar um ponto de virada na música, sugerindo uma possível ruptura da dismorfia ou uma constatação de que sua autopercepção não é a realidade. A frase repetida "Tudo queima instantaneamente, tudo se desmorfa" enfatiza a angústia e o caos vivenciados pela jovem. Reflete a luta constante que ela enfrenta, já que sua percepção distorcida distorce sua realidade, queimando qualquer imagem positiva de si mesma. No geral, Dysmorphophobia oferece uma exploração sombria e introspectiva do tormento emocional e psicológico causado pela dismorfia corporal. Lança luz sobre a batalha interna enfrentada por todas as pessoas que vivenciam essa condição, destacando o apelo desesperado por cura e libertação da percepção distorcida de si mesmas.
• O Fantasma de um Rancoroso Passado é uma canção da banda brasileira de Lamúria Abissal. A letra transmiti uma história de intensa raiva e ressentimento em relação a alguém do passado. E retrata o retorno dessa pessoa, causando desconforto e até mesmo dor física ("Sua presença já me range os ossos") ao indivíduo. Ele expressa sua raiva avassaladora e a dificuldade de lidar com essa pessoa cuja pesou-lhe mágoas no passado e que segue ressoando no presente. A música destaca noites sem dormir cheias de desabafos e tentativas condenadas de recomeçar, caindo em um ciclo destrutivo. Os dias são descritos como cheios de dor, remorso e constrangimento devido à presença persistente dessa pessoa. O trecho "Ó odioso ser de minha convivência/O fantasma clamante por voltar a estar vivo/Reviver o ódio, o amado sentimento retroativo" expressa como o indivíduo se sente em relação à pessoa que lhe conferiu mal, e que sua volta só vai remoê-lo ainda mais em um ódio imensurável. O retorno das emoções desprezadas, dos sentimentos sufocados e da passagem monótona dos dias presos nessa dança de dor em que eles repetidamente se envolveram, é trazido cruamente à tona, outra vez. A linha "Um dia fora algo, foi tudo, meu mundo/Agora não pode ser nada, tem que ser menos, esquecer tudo" explora um passado em que essa pessoa tinha importância, mas agora ela deve ser esquecida e descartada como nada. O indivíduo lista tudo aquilo que ela fez a ele, "Você me fez chorar/Me fez parar/Parar de falar/Você me fez gritar/Me aquietar". E reforça na linha seguinte, que sua volta, ainda que se mostre arrependida, não terá resultado algum senão o fim, desta vez, de uma vez por todas. "Você escapuliu de meus dedos, de escolhas que você fez/De coisas que você disse/De coisas que você fez e agora chora por eu ter chorado". E no trecho seguinte "Encho seu tumulo com minhas lágrimas e a muito custo/Te sepulto em meu desdém" o indivíduo afirma que, ainda com alguma relutância, enterra finalmente, e metaforicamente, este fantasma do presente manchado pelos resquícios de um passado amargo em um cemitério, enfatizando que não há chance de seu retorno. Nas próximas linhas há uma mudança de tom. "O vento que sopra agora em meu rosto/Limpando as lágrimas/Varrendo o cansaço/Secando minha feição, tão morta e exausta/De coisas que você disse, de coisas que você fez". O vento simboliza uma força purificadora, limpando as lágrimas, dissipando o cansaço e restaurando uma aparência morta e exausta. "A memória mais bonita, foi ter ido embora e deixar você morrer". As memórias do que essa pessoa disse e fez, embora antes significativas, agora são vistas como uma bela lembrança apenas porque ela partiu. "O perpetuar de sua morte, seria mais intenso te vendo me matar/Pelo amor que te dei, respondido com memórias de desdém". Ele deseja que a ausência da pessoa continue de forma perpétua, ainda que isso signifique testemunhar sua própria ruína. No geral, O Fantasma de um Rancoroso Passado mergulha nas complexas emoções de raiva, ressentimento e um árduo desejo de encerramento definitivo daquilo que se iniciou no passado. Destaca como muitos relacionamentos se baseiam em um amor dado por uma das partes, mas, que sendo correspondido com indiferença, se transforma em memórias de desprezo que se estendem por anos a fio.
• Transtorno Depressivo Maior é uma canção da banda brasileira Funesto. Ela explora um transtorno mental caracterizado pela redução drástica das emoções de alegria, bem-estar e prazer. Comumente chamado de depressão, o Transtorno Depressivo Maior é um transtorno mental que afeta as áreas cognitivas, fisiológicas e comportamentais da pessoa. É marcado pela baixa autoestima, pela perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, pela pouca energia e fadiga constante, dores físicas sem uma causa aparente, desânimo persistente, sentimentos de inutilidade, vazio, culpa ou/e irritabilidade. Ainda, reduz a capacidade de pensar, de se concentrar, memorizar ou de tomar decisões. Ocorrem alterações do sono (mais frequentemente insônia, podendo ocorrer também sonolência excessiva ou sono interrompido), alterações do apetite (mais comumente perda do apetite, podendo ocorrer também aumento do apetite). Somando-se ainda o retraimento social (isolamento social), chorar mais e com maior frequência, lentidão física generalizada, ou agitação psicomotora. Entre as consequências graves, há ocorrência de comportamentos autodestrutivos (autoagressão), pensamentos suicidas e tentativas propriamente ditas de suicídio. A letra evidencia o peso que o indivíduo carrega, a luta que trava diante desse inimigo que está em sua própria mente. "E nesse abismo de sofrimento/O suicídio não sai da minha mente/Por que?" é uma constatação que o indivíduo faz, e também uma indagação dosada em dor e revolta. Transmite um sentimento de desespero e um desejo de libertação das lutas da vida. O indivíduo tem pensamentos recorrentes sobre a morte. "Corda em volta do meu pescoço, o que me resta?", o questionamento da situação em que se encontra é constante, e enfatiza também que ele está só, em isolamento, está apenas consigo mesmo e mais ninguém. A ideia de findar com sua dor é a única coisa que paira em sua mente. Ele retrata seu estado mental e sua disposição para tomar medidas extremas pois já está em seu limite. "Eu não aguento mais essa dor/Me deixe morrer/Eu quero morrer" sugere a deterioração da condição mental e física do indivíduo. Ele se sente esgotado, exausto da luta constante e pronto para sucumbir ao seu destino. Clama a si mesmo para que não haja qualquer relutância, apenas que se deixe morrer. No geral, Transtorno Depressivo Maior retrata os temas de desesperança, desespero e pensamentos de suicídio presentes na depressão. Apresenta um vislumbre da mentalidade de alguém que considera o suicídio, lançando luz sobre a turbulência interna e o impacto que tal decisão tem sobre o próprio indivíduo exausto fisica e mentalmente.
domingo, 23 de julho de 2023
Autópsia Lírica
Devido a inúmeros motivos, as postagens do blog não têm uma frequência padronizada. Assim, decidi trazer nesta única publicação várias análises de letras de algumas bandas da cena, ao invés de uma postagem com uma única análise. Aqui são breves autópsias líricas, trazendo à tona as mensagens expressadas na parte lírica da música. Selecionei 2 músicas de cada banda.
• Morgondagen é
uma canção da banda sueca Apati. A faixa
está presente no álbum Morgondagen Inställd I Brist På Intresse. É uma música
sombria que explora o vazio e o desespero que podem surgir ao se sentir preso
em uma vida vazia e sem esperança. A letra retrata uma pessoa que está lutando
contra a depressão e uma sensação de desesperança em relação ao futuro. O indivíduo
acorda sentindo como se seu despertador fosse uma facada em sua cabeça e passa
a manhã fantasiando sobre um futuro muito distante de sua realidade atual. O
uso do álcool como mecanismo de enfrentamento é destaque na letra, com o indivíduo
bebendo várias cervejas apenas para voltar a dormir. Ele basicamente desiste de
seu futuro, alegando que seu amanhã foi cancelado por falta de interesse. A
ideia de isolamento também é explorada, com o indivíduo tirando uma 'licença
médica' para o resto da vida, destacando seu completo afastamento da interação
humana. O trecho no meio da música é de um filme sueco chamado "Om jag
vänder mig om" de 2003, e ele enfatiza como, infelizmente, mesmo os
profissionais da saúde mental podem negligenciar seus pacientes. A mensagem é
repleta de revolta, afinal, a pessoa vive um inferno mental e todos a sua volta
parecem simplesmente ignorar, usar de indiferença para com sua dor. "Não há um bastardo que possa nos
curar! Aqui estão pessoas que se sentem como eu, uma merda. Uma merda a cada
maldito minuto! Você não vê que toda a minha vida é uma catástrofe? Você não
percebeu isso quando eu sentei aqui e conversei com você?" Outro
trecho é encontrado no final da música, este sendo de um filme chamado
"Palindromes" de 2004. A fala do personagem expressa sua descrença
nas mudanças, principalmente em relação às pessoas, sugerindo que as pessoas
nunca mudam de verdade e que os mesmos padrões e lutas continuarão ao longo da
vida de cada indivíduo. A música em geral é uma exploração sombria, mas
realista, dos sentimentos de desespero e falta de propósito que podem surgir na
vida. A letra de Morgondagen é um aviso poderoso sobre os perigos de se deixar
consumir pelo desespero e isolamento.
• Lämna mig ifred é uma canção da banda sueca Apati, lançada como 3ª faixa do álbum Morgondagen Inställd I Brist På Intresse. A letra transmite um profundo sentimento de desespero e distanciamento. Fala sobre a falta de interesse do indivíduo em encontrar felicidade ou realização na vida. As falas iniciais transmitem uma sensação de desesperança e resignação, pois ele parece ter desistido totalmente da busca pela felicidade, aceitando sua desgraça. O trecho "Eu quero pegar o motorhome de alguém/ Desaparecer por uma estrada de cascalho empoeirada" pode ser interpretado como um desejo de escapar do mundo e se isolar. A linha "...com uma cerveja gelada na mão/Em direção à terra de ninguém sob um céu azul" sugere que o indivíduo está buscando consolo no álcool e está disposto a ignorar as consequências de suas ações. Esse trecho menciona "Ingenmansland", que significa "terra de ninguém" em sueco. Isso pode ser interpretado como uma metáfora do estado emocional e mental do indivíduo, pois ele se sente desconectado e separado do mundo ao seu redor. Ele também fala sobre parar em cidades pequenas, comer comida gordurosa e seguir para o próximo lugar. Isso expressa o desejo de distração temporária, sem nenhum propósito ou direção real. No geral, a canção Lämna mig ifred é um reflexo dos sentimentos de isolamento, desesperança e distanciamento do indivíduo para com o mundo ao seu redor. A letra sugere um desejo de se isolar a todo custo, buscando assim uma pausa temporária da dor emocional.
• Alltid - Aldrig
é uma canção da banda sueca Lifelover, lançada no álbum Konkurs. A letra aborda
temas de dualidade, turbulência emocional e uma busca por escapar do peso da vida.
Fala sobre um estado de espírito conflituoso e abalado, onde a alegria e o
desespero se misturam como água com o suco mais doce. A imagem de um
estrangulamento que a vida dá na garganta do indivíduo sugere uma sensação de
sufocamento ou de estar preso. No entanto, há um momento de pausa quando o
aperto é momentaneamente enfraquecido, permitindo que o indivíduo finalmente
respire. Isso traz uma rara sensação de felicidade, embora também seja
acompanhada por uma sensação de peso e alívio. As linhas seguintes descrevem um
estado de euforia que parece simultaneamente elevar e dilacerar o indivíduo.
Expressa o desejo de fugir para um lugar onde tanto a luz quanto as sombras convivem
e onde a dança da vida o conduz para a morte. Esta imagem sugere um desejo de
encontrar consolo na justaposição de diferentes emoções e experiências. O convite
para dançar e cantar junto, repetida várias vezes no coro, significa um desejo
de conexão e experiências compartilhadas. O desejo de brincar e rir juntos nas
clareiras representa uma fuga temporária dos fardos da existência. Há um desejo
de existir em um momento sem propósito ou significado, onde a ausência de tudo
se torna tudo. A frase "Alltid, aldrig" (sempre, nunca) serve como
uma poderosa conclusão para a música. Mostra a natureza paradoxal da vida, onde
tudo e nada coexistem. Sugere o ciclo perpétuo de emoções e experiências -
momentos de felicidade e alívio são contrastados com momentos de desespero e
sufocamento. A música como um todo apresenta uma exploração complexa das
emoções humanas e a constante oscilação entre estados mentais conflitantes,
enfatizando a intrincada natureza da existência.
• Cancertid é uma canção da banda sueca Lifelover, lançada
em seu 3º álbum Konkurs. A música explora temas de quietude, despertar, traição
e reflexão. Inicia-se com o indivíduo acordando lentamente de um sono químico,
possivelmente referindo-se a um estado de espírito alterado por drogas ou
depressão. A menção de "novas traições" sugere que o indivíduo passou
por repetidos ciclos de decepção e desapontamento. A música mergulha na
tentativa de o indivíduo refletir sobre as horas perdidas, implicando um
sentimento de arrependimento e questionando o propósito desses momentos. Também
transmite uma sensação de vazio e falta de sentido na existência do indivíduo.
Ele se questiona se a realidade existe no mundo externo ou apenas dentro de sua
própria mente violada, insinuando uma luta com a percepção distorcida e uma
turbulência interna. As linhas finais, "Sigo minha dança no reino da névoa
- onde nada mais tem significado", retrata o desejo de escapar das
restrições da realidade e abraçar um reino onde o significado convencional
deixa de existir. Essa imagem sugere um anseio por uma realidade alternativa ou
um refúgio dos fardos da vida. No geral, Cancertid explora temas de
desilusão, introspecção e um desejo de fuga, oferecendo uma perspectiva sobre
as lutas emocionais do indivíduo e a busca por significado em um mundo
aparentemente indiferente.
• In My Last Mourning... é uma canção da banda brasileira
Thy Light. A música explora temas sombrios e introspectivos de depressão,
autoaversão e pensamentos suicidas. As linhas iniciais sugerem uma sensação de
desesperança e desespero, enquanto o indivíduo lamenta a passagem do tempo e a
dor constante que sente todos os dias em um mundo consumido pela escuridão. A
frase "Pelas minhas narinas corre o cheiro da minha própria morte impressa
no céu cinza de domingo" descreve um sentimento de morte iminente, uma
sensação de que a morte está sempre à espreita. Isso pode representar a luta do
indivíduo com pensamentos e tendências autodestrutivas, ou talvez a consciência
de sua própria mortalidade. A linha "Eu me mato, tiro minha vida..."
é uma afirmação ousada e chocante que confirma o tema da ideação suicida
presente ao longo da música. Parece sugerir que o indivíduo está pensando em
tirar a própria vida como forma de escapar da dor que sente todos os dias. Ao
final, "Em meu último luto, percebo, sempre fui o nada que temia me tornar..." fornece
um vislumbre de percepção da psique do indivíduo. Isso sugere que ele pode se
sentir inadequado ou inútil e tem um medo profundo de se tornar nada. Essa
percepção pode ser o que o leva a pensar no suicídio como uma forma de escapar
desses sentimentos. No geral, In My Last Mourning... é um retrato sombrio e
assustador de alguém lutando contra a depressão e pensamentos suicidas. A
música oferece um vislumbre da mente de alguém consumido pela escuridão e pelo
desespero e serve como um lembrete da importância da saúde mental e da busca de
ajuda quando necessário, visto que, segundo o próprio compositor da música, ela
(bem como todas as faixas da DEMO) expressam a dor de um amigo que, de fato,
culminou com o suicídio. Assim, essa música nada mais é do que um retrato
autêntico de alguém que não pôde mais suportar o fardo da dor.
• A Crawling Worm In A World Of Lies é uma canção da banda
brasileira Thy Light, foi lançada como 3ª faixa na DEMO Suici.De.Pression. Ela
retrata uma sensação de desespero e desilusão diante de um mundo enganoso. O
indivíduo se encontra desolado e refletindo sobre sua jornada, percebendo que
seus esforços foram inúteis e o deixaram se sentindo derrotado. As linhas de
abertura, "Desolado, eu só assisto a trilha em que andei para chegar aqui",
mostra um sentimento de vazio e distanciamento. Sugere que o indivíduo está
observando suas ações e experiências passadas, mas com um sentimento de
distanciamento e indiferença, enfatizando sua desilusão. A frase "Tudo em
vão, nenhuma recompensa para me fazer levantar a cabeça" reflete a
decepção do indivíduo com a falta de realização ou reconhecimento por seus
esforços. Ele dedicou tempo e energia significativa, mas não há resultado tangível
ou sensação de realização. Essa falta de recompensa leva a uma postura
figurativa de olhar para baixo, pois o indivíduo se sente decepcionado e
derrotado. A frase, "Amarga foi minha derrota, vejo o céu coberto com a
fumaça cinza que meus olhos nunca conseguiram suportar", reflete a
percepção do indivíduo sobre seu fracasso. A "fumaça cinza" simboliza
uma atmosfera opressiva e sufocante, provavelmente representando as mentiras e
enganos que o cerca. Essa imagem enfatiza ainda mais o sentimento de
desesperança e a natureza avassaladora e penetrante das falsidades que encontra
no mundo. A linha final, "Na realidade decadente... sou apenas um verme
rastejante em um mundo de mentiras", expressa o significado geral da
música. Significa a profunda percepção do indivíduo de que ele é insignificante
e impotente em um mundo dominado pela falsidade. A metáfora de ser um
"verme rastejante" implica uma sensação de vulnerabilidade,
impotência e insignificância em comparação com as mentiras e decepções que
assolam sua existência. No geral, A Crawling Worm In A World Of Lies retrata um
sentimento de desilusão, desespero e insignificância diante de um mundo
enganoso e opressivo. A letra captura a frustração e o desespero experimentados
quando se percebe a extensão das falsidades que nos cercam e a dificuldade de
encontrar autenticidade em tal sociedade.
• Her Ghost Haunts These Walls é uma canção da banda
francesa Nocturnal Depression. A música explora temas de perda, tristeza e
saudade de um ente querido que faleceu. A letra retrata um sentimento de
aceitação e desejo de se reunir com o ente que partiu. Os versos iniciais,
"Minhas mãos estão acariciando as pedra/Sua frieza perfura minha pele e
rasteja até meu coração", sugerem um sentimento de conexão e consolo ao
tocar objetos associados a pessoa falecida. A atmosfera melancólica é
enfatizada com a menção à obscuridade e a mistura de preto e cinza,
significando um estado de tristeza e desolação. A letra descreve ainda a dor
avassaladora do indivíduo e o profundo impacto de sua perda. "Tudo lá está
cheio de tristeza/Tudo lá está chorando". Esta linha destaca a natureza
penetrante da tristeza e a incapacidade de escapar do luto. O refrão revela a
saudade do indivíduo e o desejo de estar com a pessoa amada. "Pego suas
mãos, sigo você para um lugar melhor" e "Pego suas mãos, deixe-me
ficar ao seu lado" transmitem o desejo de reencontro e a esperança de uma
vida após a morte pacífica. Esse anseio é ainda mais enfatizado pela repetição
dessas linhas. À medida que a música avança, a sensação de desespero se
intensifica. As imagens de ruínas e sofrimento refletem os restos despedaçados
da vida do indivíduo sem a pessoa querida. Os flashes que ferem a mente e a
incapacidade de esquecer reafirmam o impacto duradouro dessa ausência. Os
versos climáticos pintam uma atmosfera de escuridão e isolamento, com chuva
caindo e o mundo escurecendo. Apesar disso, a presença da alma que partiu ainda
é sentida. "Sinto sua presença, seus braços em volta de mim, sua cabeça
nas minhas costas" indica uma conexão espiritual e a sensação do abraço da
pessoa amada. A música termina com a frase comovente: "Eu me matei para me
juntar a você". Esta linha expressa as profundezas extremas da dor e o
desejo de se reunir até o ponto de sacrificar a própria vida. No geral, Her
Ghost Haunts These Walls retrata a jornada emocional de alguém lutando com a
perda de um ente querido e seu desejo de consolo e reunião na vida após a morte,
mesmo que seja tirando a própria vida, tamanha a dor da perda que não pôde ser
digerida de modo algum.
• Nevica é uma canção da banda francesa Nocturnal
Depression, foi lançada como 6ª faixa do álbum Reflections Of A Sad Soul. A
música explora temas de dor, tristeza e decadência emocional. A letra retrata
uma paisagem escura e desolada onde o indivíduo encontra consolo no abraço do
inverno e sua nevasca. As linhas iniciais dão o tom sombrio, com a noite caindo
e gritos de desespero ecoando em um mundo feito de pedra. Isso expressa o mundo
indiferente às dores e aflições das pessoas. A música também investiga o
passado e o futuro do indivíduo, cheio de visões sombrias e uma sensação de
destruição iminente. O peso das palavras de alguém o feriu profundamente,
metaforicamente perfurando sua pele como uma lâmina. A frase "As pedras
rasgaram minhas mãos" sugere que as cicatrizes do sofrimento passado foram
reabertas, fazendo-as sangrar novamente. O desespero e a dor se manifestam como
lágrimas e choro, simbolizando a angústia emocional que a indivíduo vivencia. A
memória de uma pessoa específica o persegue, testemunhando seu declínio. A
chegada do inverno serve como metáfora para o desejo do indivíduo de que seu
corpo físico seja coberto e escondido. Ele anseia pela pureza da neve para
esconder a feiura que reside dentro de si. O corpo do indivíduo é descrito como
repulsivo, prendendo uma alma sombria e emanando energias negativas. A ausência
de emoções e arrependimentos destaca seu distanciamento do mundo e uma vontade
de enterrar tudo relacionado à pessoa que causou sua dor. Os ventos frios
simbolizam a partida iminente de sua alma de seu estado atual de existência. O
refrão "Nevica" (está nevando) serve tanto como um chamado para
abraçar o frio quanto como uma metáfora para o tormento interior do indivíduo.
Ele se vê como um reflexo amaldiçoado, triste e monstruoso no espelho - uma
manifestação da dor que inflige a si mesmo. Em última análise, ele se vê como
uma presença fantasmagórica, escondida em um lugar esquecido. Ele existe como
um pensamento espectral que guia os outros para a destruição. As linhas finais
expressam a proibição da alegria e o surgimento de uma nova era impregnada de
negatividade. No geral, Nevica explora temas de sofrimento emocional,
isolamento e desejo de fuga. A música transmite uma sensação de profunda
turbulência interior e o profundo impacto que traumas do passado e
relacionamentos tóxicos podem ter na psique de um indivíduo.
• Screaming at Forgotten Fears é uma canção da banda estadunidense Xasthur. Essa música mostra uma imagem vívida de uma pessoa lidando com medos e ansiedades profundamente arraigados que ela tentou esquecer ou afastar. O indivíduo está tentando explorar um "código perdido de autoconhecimento" para tentar lidar com os medos que enfrenta, embora possa até estar usando métodos destrutivos para tentar se livrar desses medos. O veneno escondido atrás de sua máscara simboliza a escuridão que ele está tentando esconder. Ele admite que seus medos estão "servindo-se nas asas da aflição da dor". Ao permitir-se enfrentar os medos que tenta esquecer, o indivíduo sugere que será a sua própria alma que acabará por assumir a culpa pela destruição causada pelas suas lutas. O seu eu destruirá os seus próprios medos, mas, obviamente, destruirá o indivíduo junto. Não há como esquecer coisa alguma, mas, o tempo pode amenizar certas lembranças aterrorizantes. Assim, o indivíduo sentiu-se menos amedrontado por um tempo, até que sua mente o lançou no poço de seus mais terríveis medos. Ele tenta encontrar modos de enfrenta-los, visto que, nesse ponto, já não se pode mais ocultá-los. Porém, nenhuma forma é eficiente, e, por fim, ele recorre a um meio de se alimentar dos próprios medos. Sem sucesso algum, acaba apenas por ser atormentado pelos medos, elevando a ansiedade ao extremo. Xasthur sempre abordou em suas canções o terror, pavor, a consciência de si e o confronto do indivíduo consigo mesmo. No geral, Screaming at Forgotten Fears traz à tona a aterrorizante imagem de que tentar reprimir os seus medos só os eleva cada vez mais, chegando a proporções onde nada mais pode pausá-los, mesmo que por um momento.
• Dreams Blacker Than Death é uma canção da banda estadunidense Xasthur, lançada como 3ª faixa no álbum To Violate The Oblivious. A música investiga temas de escuridão, transformação e o fascínio de uma realidade alternativa. A letra pinta um quadro assombroso e mórbido, enfatizando a essência da banda. As linhas de abertura, "Em transe profundo pela lua/Transformação para devorar os vivos", sugere uma sensação de ser atraído para um estado de espírito hipnotizante. Isso pode ser interpretado como uma representação metafórica do indivíduo sendo consumido por seus próprios demônios internos ou explorando as profundezas de seus desejos sombrios. A lua muitas vezes simboliza o mistério e a mente inconsciente, sugerindo uma jornada aos reinos sombrios da psique. A frase "Além dos sonhos mais negros que a morte" pode ser vista como uma afirmação poderosa que abrange a profundidade da tristeza e do desespero. Ao se referir aos sonhos como sendo ainda mais sombrios que a morte, a música sugere que o mundo dos sonhos pode se tornar um refúgio e até uma alternativa preferível à dura realidade da vida. Isso pode refletir um desejo de escapar da dor e do sofrimento experimentados na existência cotidiana. A repetição do verso "Viver por... E morrer por..." transmite um profundo sentimento de devoção e dedicação. Sugere uma vontade de se comprometer com algo além do reino comum da existência, mesmo que seja atormentador. Isso pode implicar um fascínio pelos aspectos mais sombrios da existência ou um desejo de transcender as limitações do mundano. A linha final, "Aeons do purgatório", sugere um estado perpétuo de sofrimento e angústia sofrido pelo indivíduo. Isso sugere que ele está preso em um ciclo eterno de tormento, incapaz de encontrar paz ou descanso. Isso pode refletir uma angústia existencial mais profunda e a sensação de estar preso em uma aflição sem fim. No geral, Dreams Blacker Than Death mergulha nas profundezas da escuridão, explorando temas de transformação, escapismo e turbulência emocional. Ela captura a essência emotiva e crua da música de Xasthur, oferecendo um vislumbre do mundo complexo e inquietante da psique humana.
Em breve mais interpretações de outras músicas e bandas.
sábado, 1 de abril de 2023
22 anos de Death - Pierce Me
Formada inicialmente pelo guitarrista Leere, no ano de 1995,
Nattramn se juntou à banda alguns meses depois e ela se consolidou em um duo.
Em 1998 gravam uma demo da música 'Death - Pierce Me', evidenciando os vocais
agonizantes e afogados em um profundo sofrimento por Nattramn, e a melancolia
muito bem trabalhada sonoramente por Leere. Esta música veio a se tornar o nome
do primeiro e único álbum da banda, lançado em 1 de abril de 2001, e que teve a faixa-demo
incluída em uma nova versão. Este álbum é realmente um material sonoro bastante
difícil de digerir, no entanto, é um dos essenciais do DSBM e um dos poucos que
se tornaram amplamente conhecido nesse meio.
• Death - Pierce Me: A música homônima ao álbum inicia-se
com um riff suave e cativante onde engana o ouvinte que desconhece o que está
por vir. O ponto alto é justamente quando Nattramn surge com seus lamentos
rasgando a garganta e implora pela morte. A parte instrumental é muito bem
encorpada, com belos riffs e solos de guitarra, marcantes levadas de bateria e
linhas de baixo que, embora caminham por vias uniformes com os acordes de
guitarra, são bastante expressivos. A finalização dessa música, bem como de
todas as outras do álbum, é algo muito interessante, fecha-se de forma precisa.
• Sterile Nails and Thuderbowels é a canção da banda que
ganhou maior destaque e, sem dúvidas, é esta a música que evidencia a sublime
musicalidade de Leere, afinal, se não fosse por ele, provavelmente, este álbum
não teria entrado na história como um clássico do DSBM. Ele fornece uma
majestosa atmosfera para as lamúrias atormentadoras de Nattramn, que se
estivesse vociferando suas dores sem música, obviamente, não soaria como
música. A união musical desses dois é uma expressão sincera de como a boa
música pode surgir quando há fidelidade naquilo que se quer transmitir.
• Taklamakan é, geralmente, a que mais atrai as pessoas
porque, supostamente, Nattramn estava se cortando severamente e engasgando-se
durante a gravação dela. É possível ouvir esses sons de forma nítida. Os riffs
de baixo que abrem a canção também são bastante marcantes e mantém o ouvinte
atento, apenas aguardando o que está por vir. Logo a música explode e,
dolorosamente, os traumas existenciais de Nattramn eclodem junto. Os riffs de
guitarra são simples, mas muito bem inseridos e se complementam com a bateria
bastante rápida. Nessa música Nattramn vai ao extremo, como se estivesse em seu
nível máximo de insanidade.
• The Slow Kill In The Cold parece ser um contraste à faixa anterior
e, com um fluxo lento, suave e melancólico de sintetizador, conduz o ouvinte a
uma certa calmaria. Mas, antes mesmo do ouvinte poder imaginar uma paisagem
menos sufocante que fôra criada por esta faixa, é novamente lançado às
angústias lacerantes de Nattramn que se seguem pela faixa seguinte.
• Shall Lead, You Shall Follow mantêm a rapidez rítmica incessantemente.
É uma viagem sonora em velocidade, mas sem perder o ar desesperador que paira
sobre todo o álbum.
• Feeble Are You - Sons Of Sion encerra o álbum e é uma canção
executada apenas no piano trazendo consigo a sensação de uma certa calmaria
depois que não existe mais nada a ser destruído, pois tudo está morto,
terminado, encerrado.
O que tornou a banda conhecida no meio do Black Metal foram
os vários rumores, suposições e lendas que se mesclaram a eventos reais
ocorridos com Nattramn. Nattramn não queria apenas expressar sua dor e angústia
através de suas letras e seus vocais, ele queria que a música soasse o mais
real possível para que o ouvinte pudesse sentir quão desesperado ele estava. E
ele decidiu se automutilar antes e durante as gravações de cada faixa. Seus
gritos eram de extrema dor, uma mistura do que ele estava sentindo fisicamente
naquele momento junto com as dores mentais que ele já arrastava por anos.
Gritos, urros, choros e sons de ânsia de vômito e engasgamento podem ser
ouvidos nas músicas. Esses detalhes incomuns somaram para que os críticos
descreverem a música de Silencer como ruídos tolos e sem graça, mas, quando se
olha para as características estéticas que são tecidas a partir da
subjetividade emocional complexa de Nattramn e Leere, fica claro que todos os
instrumentos, as falas, lamentos, urros e gritos sobem do mais profundo poço
onde habitam os seres massacrados pela existência humana. Pouco tempo após o
lançamento do álbum, Nattramn foi encaminhando para um hospital psiquiátrico em
período integral de internação, e a banda encerrou atividades após esse evento.
Independente dos vários boatos, inverdades e datas imprecisas, o fato é que em
suas músicas Nattramn expressou todo o seu desespero e sua insatisfação para
com a vida e com o mundo, isso de maneira bastante direta. Ele enfatizou a
natureza de seus gritos estridentes, de alguém que estava sofrendo e sendo
atormentado incansavelmente. Uma foto de Nattramn acabou sendo disseminada
junto do álbum e, nela, ele se encontra com uma máscara ensanguentada e com
bandagens manchadas de sangue nas mãos, nas quais aparecem pés de porco
amarrados. Propagou-se que Nattramn se torturava durante as gravações das
músicas e acabou amputando as mãos para substituí-las pelos pés de porco, mas,
o que ele fez, de fato, foi amarrar com as bandagens os pés de porco às mãos.
Mesmo vinte anos após seu lançamento, ainda há quem tache este álbum como uma
peça horrível e que deve ser esquecida, como algo que deve ser retirado do
Black Metal - a banda sempre disse fazer Black Metal e nada além -, mas não,
não há motivos para essas duras críticas quando se analisa a banda, o álbum, as
expressões ali colocadas sem vestimentas. Essas melodias foram arrancadas de
momentos altamente emocionais e genuínos. Elas se uniram para formar uma camada
crua, porém reveladora e intrigante. As letras são muito pessoais e/ou
confessionais, que Nattramn escreveu para exorcizar seus demônios mais
terríveis. Isso pode ser lido, escutado e mesmo visualizado - em paisagens
mentais - como um vislumbre de momentos específicos da vida de um homem
atormentado pela dor, pela loucura, pela existência cruel onde o sofrimento é
imensurável. Há muita crueza e mensagens diretas em suas composições, mas,
também, há espaço para abstrações. As letras e as melodias são muito mais emocionais
do que se pode enxergar de início, e há imagens subjetivas e extremamente
pessoais que não se pode encontrar na maioria das músicas de outras bandas do
gênero. Nattramn e Leere uniram a profundidade dolorosa e escura de si mesmos,
do sofrimento pessoal, e sangraram isto tudo em um estúdio de gravação. Não existiu um objetivo, usando essa
linguagem direta ou abstrata, de evocar algo, mas sim de expurgar. Expurgar
tudo que corroía internamente e sangrava para além da carne. Tanto é que este
álbum não pode ser tido em meio termo, por isso, ou se gosta ou não se gosta
dele. O ouvinte vai defini-lo de acordo com o que se deseja capturar dele e de
como pode sentir empatia por estes ou quaisquer outros músicos, pois as músicas
deste álbum se manifestam como instantâneos pessoais de estados emocionais
extremos e narrativas sombrias que procuram falar em uma linguagem de angústia,
dor, desespero, que pode ser atraente ao ouvinte porque este pode ou não ter
vivenciado momentos semelhantes.
Para o Depressive Suicidal Black Metal este é um álbum de extrema importância e que agrega, definitivamente, aos álbuns onde a dor é muito palpável e para além de meras impressões.
Discografia:
Death, Pierce Me (demo) [1998]
Death, Pierce Me (álbum completo) [2001]
• Fotos de Nattramn disponibilizadas no 20º aniversário do álbum
Obs: Vale reforçar que as imagens que circulam na internet de Nattramn sem bandagens, não é o Nattramn do Silencer, mas sim Rikard Bjernegård, da banda Frostrike. Ele também usou o pseudônimo Nattramn em sua banda, e, como ela também é uma banda de Black Metal sueca, a internet fica vinculando ambos como se fossem a mesma pessoa, e, por consequência, muitas pessoas continuam propagando esse erro até hoje.
sábado, 18 de março de 2023
Depressivos Hinos Suicidas
Com o intuito de dar suporte às bandas da cena brasileira de DSBM, nós estamos novamente trilhando o caminho das compilações. Nesta etapa, bandas da cena se juntam cada uma com uma canção que resulta em um conjunto de belíssimos e Depressivos Hinos Suicidas. A arte ficou por conta de Helder Ribeiro, e completa o conceito proposto para esta série de compilações.
Pensar sobre nossa existência sempre nos leva a uma dura verdade: a morte. Inevitável, ela não poupa a ninguém, mas, e quando o indivíduo a deseja? Diante do fardo imposto pela vida, chega-se a um ponto onde a dor sobrepõe a chama de vivacidade, alegria ou qualquer outra sensação de acalento. Por mais que se busque um pouco de alívio, nada parece cooperar para este resultado. Assim, os dias seguem, monótonos, sem nada de novo - embora a dor, esta sempre consegue se assentar mais e mais nos mínimos espaços que encontra. Absorto, em sua profunda introspecção, o indivíduo se depara com a única certeza da vida: Todos Os Caminhos Te Levam A Morte.
Depressivos Hinos Suicidas - Vol. I - Todos Os Caminhos Te Levam A Morte
1. Clonazepam - Manhã Traumática2. Neural Oestridae - We Are Nothing
3. Rope - Asi
4. Soturnez - Decomposição
5. Freak Funebre - Distimia
6. Mepth - Fazia Frio
7. Angústia - Rasuras Da Dor
8. Drowned - Drunk And Dead Inside
9. Abismika - Pesadelo Definitivo
10. Autodestrutivo - Morto Por Dentro, Sangrando Por Fora
Agradecimento às bandas que participaram, às páginas DSBM Images, DSBMemes e DSBMpédia; aos canais DSBM Songs e Depressedy DSBM; aos blog Discografia do Metal Negro e Depressedy DSBM e, em especial, ao artista Helder (Natterskrek) pela arte de capa. Também agradecemos ao Sergio (Fúnebre) por ceder o uso do título de sua música como subtítulo deste volume.
Este 1º volume é dedicado a artistas da cena que já faleceram. Leandro (Lobo) da banda Angústia, que faleceu em 2016; Ricardo Almeida (Chackal) da banda Rope, que faleceu em 2018; e Alissa S. da banda Clonazepam, falecida em 2021. Que possam descansar, finalmente, em paz.
Use fones de ouvido e aprecie sem moderação!
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sábado, 11 de março de 2023
Entrevista com Lúgubre e Mad
No ano de 2020, eu (Lúgubre) e Mad participamos de um podcast distribuído no Spotify. Atualmente ele foi encerrado, mas, na ocasião, era feito por um grupo de amigos que falavam sobre música em geral. Cada episódio abordava um gênero musical e, com frequência, haviam músicos de diversas bandas dentro do Rock e Metal que eram convidados a fazer parte do bate-papo. Foi uma surpresa para mim e para o Mad tal convite, visto que o DSBM é um tipo de música desconhecido. No entanto, aceitamos o convite, justamente, por ser um tipo de música onde há pouquíssima informação sobre, mesmo na internet. Assim, falamos um pouco sobre este subgênero que muito apreciamos. É evidente que num único episódio, de cerca de uma hora, seria impossível falar do DSBM em toda sua abrangência. Então, foi algo bem resumido, mas procurando passar por pontos importantes. Tanto eu quanto o Mad temos nossas limitações na dicção, mas, ainda assim, engolindo a ansiedade, participamos. Aqui segue nossa participação como entrevistados de forma escrita. Não está na íntegra. No final do texto estará disponível o áudio completo para quem se interessar em escutar toda a entrevista.
Entrevistador 1: Pra começar a falar de DSBM, trago a teoria de Durkhein. Durkhein aborda o suicídio como qualquer caso de morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato positivo ou negativo, que seja executado pela vítima e que ela saiba que o fim seria esse resultado: a própria morte. Ainda, no livro de Durkhein, ele explana outros assuntos que tem relação com o suicídio, como a regionalização. Como em países mais frios, com noites mais longas, dias mais escuros, tendem a ter uma taxa mais alta de suicídio. Vocês conseguem enumerar algumas bandas de DSBM que refletem isso nas letras?
Mad: Até a cor, a cor do ambiente, mais escuro, acinzentado, pode influenciar no suicídio. O Lúgubre escreveu algo sobre isso e pode falar melhor sobre.
Lúgubre: Podemos usar a América Latina mesmo como
comparação. Todos os países daqui, apesar de não ter essa relação com o frio -
a não ser o Sul do Brasil, mas cujo é um frio suportável-, tem a questão da
pobreza e desigualdade. E isso também influencia no suicídio. Claro, pessoas
ricas ou milionárias podem ser alvo do suicídio, no entanto, a pobreza pesa
bastante nisto, sem dúvidas. E isso influencia aqui, no caso, dos países da
América Latina. No caso dos países nórdicos, especialmente na Suécia - que
acredito ser o berço do DSBM -, tem esse fator do frio, e também do crescimento
das cidades. Há ainda a questão dos jovens que se sentem perdidos. Na Suécia,
apesar de ser um país rico, com uma taxa alta de desenvolvimento, há uma
solidão entre os jovens. Também, não há muito isso de falar sobre o futuro.
Então os filhos têm que "se virar". E isso influi muito sobre os
adolescentes. Muitas bandas como Lifelover, Apati e Ofdrykkja falam disso em
suas letras. Sobre concreto bruto - a cidade com suas construções crescentes -
que tira a visão da natureza. E, também, sobre um sufocamento que recai sobre a
rotina de ter que estudar, trabalhar e sobreviver. Não há espaço para algum
lazer. Então acabam recorrendo às drogas, lícitas e/ou ilícitas, medicamentos...
e tudo isso reflete nas letras. Todas essas bandas, chamadas de "DepressiveRock/Narcotic Metal", trazem essa questão à tona. Ainda, sobre essa
questão de regionalização, o Japão é outro exemplo. Lá também tem muitas bandas
- algumas que nem mesmo usam o termo DSBM, mas abordam todos esses temas, já
que lá também tem um índice alto de suicídio. Um fator que pesa é este de ter
que ser o melhor, ter uma vida bem-sucedida, a qualquer custo. E, o
interessante, é que as bandas de cada país expõem aquilo que é mais pesado na
sociedade que a pessoa está inserida. No DSBM isso é muito evidente, expor o
que o indivíduo sente de acordo com a sua própria realidade.
Entrevistador 1: Podemos começar a falar do início do DSBM.
A primeira banda, de fato, foi Silencer ou Lifelover?
Entrevistador 2: Foi o Nattramn que começou com o vocal mais
gritado?
Lúgubre: Com esse tipo de vocal, sim. Enquanto os vocalistas tradicionais de Black Metal faziam um vocal agudo e mas odioso, ele dosava a dor literal com o ódio, resultando num vocal desesperador. E ele não se importava em como cantar, apenas deixava sair de forma espontânea. Foi uma forma que ele optou por cantar e se expressar. Embora eles fizessem Black Metal, e nunca tenham reivindicado o termo DSBM pra si, eles também não eram bem aceitos no meio do Black Metal. Mas, haviam algumas pessoas que já estavam começando a recebê-los e estavam se sentindo expressadas pela banda.
Lifelover surgiu em 2005, não foi a pioneira do DSBM, mas
foi uma das bandas importantes no subgênero. Jonas e Kim fundaram a banda e
dosaram vários elementos, como a levada Pós-punk e Black Metal, o que resultou
em um contraste interessante. Músicas dançantes, mas com letras falando de
temas mais pesados e tabus, com uma dose de sarcasmo e ironia.
Entrevistador 2: Então o Pós-punk influenciou o DSBM?
Lúgubre: Influenciou mais essas bandas que são chamadas de "Depressive Rock/Narcotic Metal" como Lifelover. Anos depois, Apati, e, quando Obehag morreu, Pessimistem formou a Ofdrykkja. E muitas outras foram surgindo e seguindo nessa linha com influências do Pós-punk. Podemos dizer que dentro do próprio DSBM tem algumas vertentes, como essas bandas suecas que se focaram numa sonoridade até meio dançante, em contraste com temas mais pesados. A sonoridade é menos "suja" também, comparada com o DSBM das primeiras bandas que seguiam mais pro Black Metal. Essas, da cena sueca, se focam mais em temas como a melancolia urbana, adicção de álcool e outras substâncias, autoagressão e relacionamentos interpessoais.
Entrevistador 2: E o DSBM é algo bem íntimo, né? Algo mais
da pessoa mesmo.
Lúgubre: Sim, é algo bem pessoal. Claro, a partir do momento que você expõe isso, como na internet, há a consequência de alguém escutar. Mas o objetivo é expressar algo seu para você mesmo. Uma dor sua que você tenta manifestar através da música; isso define o DSBM. Por isso é muito comum as bandas serem de um só membro. Geralmente é uma pessoa solitária que tenta expor suas emoções.
Mad: Por isso é até difícil de digerir o gênero e tornar ele popular, pois é uma dor tão pessoal, algo tão íntimo que você não espera que outra pessoa escute e entenda o que você queria passar, de uma forma tão sincera. O DSBM é algo que você está fazendo mais pra você do que para os outros. É a sua válvula de escape, é dizer o que você sente, sem se preocupar com a opinião dos outros. Você faz por você, para o seu bem. Por isso, também, é difícil de ter uma banda de DSBM com 1000 visualizações. Você faz com intuito de só você escutar, ou nem mesmo você escutar depois. Você lança para dizer pra si mesmo que expôs aquilo pra fora, e não para ficar famoso com aquilo. É uma válvula de escape apenas.
Entrevistador 2: Tem pessoas que vêem o DSBM como
romantização da tristeza, do suicídio. Mas não é isso. É mais algo da pessoa
mesmo querendo se expressar sinceramente, né?!
Mad: Até porque não faz muito sentido, quem em sã consciência se vangloriaria de ter depressão, de pensar em se matar? Não faz sentido. A gente que está nesse meio se sente destruído por passar por essas coisas, e não deseja isso a ninguém. Daí ver alguém de fora dizer que estamos romantizando o suicídio é o que deixa a gente ainda mais triste.
Lúgubre: E as pessoas se baseiam isso em outros gêneros de música. Por exemplo, há gêneros que falam da tristeza, mas é da tristeza em si, não de coisas pesadas como é característico do DSBM. O DSBM vai a fundo, falando de coisas que é até difícil colocar em palavras, e por isso se une a vocais desesperados. É algo desesperador e que você não molda, não pensa em como vai cantar, apenas sai de forma sincera ali no momento.
Entrevistador 2: Qual a banda pioneira de DSBM no Brasil?
Lúgubre: Pioneira cantando em inglês é Thy Light, mas eles nunca se colocaram como DSBM. Desde o início já caminhavam com o Atmospheric Black Metal. Já era um som mais fácil de digerir, e por isso teve um alcance maior. Cantando em português existem muitas bandas que surgiram, e por isso não tem como identificar apenas uma. Neblina Suicida, Lamúria Abissal e Funesto estão entre essas primeiras.
Mad: E tem Vesano também.
Lúgubre: Essas bandas também eram distintas, cada uma seguindo com suas próprias características dentro do DBSM.
Entrevistador 2: Tem bandas brasileiras que vêm chamando a
atenção de vocês, atualmente?
Mad: Frio Insólito, que lançou singles entre 2016 e 2017, e agora em 2020 lançou seu primeiro EP. Abismika, que vem fazendo um trabalho excelente. E Morte Rubra, onde o vocalista e letrista Alan, para mim, é o melhor que surgiu nos últimos tempos dentro do Black Metal em geral.
Lúgubre: Nattag, que é de Ponta Grossa, Pr, que fez algo interessante, uniu o Noise ao DSBM, algo meio experimental e ficou um som muito bom. A Unguilty, que é de Curitiba, e tem uma sonoridade flertando muito com o Doom, somando linhas de piano, passagens mais limpas e mais pesadas. Praticamente todos os dias tem bandas novas surgindo, justamente para a pessoa poder se expressar e, por consequência, também tem muitas pessoas que buscam por sons assim para escutar. E quem escuta, muitas vezes, é influenciado a criar seu próprio projeto também.
Mad: Rolou uma espécie de boom entre 2014 a 2016 por aqui. Depois muitas bandas foram encerrando, algumas devido ao integrante cometer suicídio. Então em 2019/2020 começou a renascer a cena e muitas bandas novas foram se formando.
Entrevistador 2: Tem outro derivado desse subgênero, do
DSBM?
Lúgubre: Então, algumas bandas suecas se focaram mais na melancolia urbana. Muitas tinham membros ainda adolescentes quando foram formadas e, com isso, como não conseguiam se expressar de outra forma, eles colocavam tudo na música. Essa linha é chamada de Depressive Rock/Narcotic Metal. Há bandas que tem elementos mais atmosféricos como Woods Of Desolation, ColdWorld, Austere, aqui no Brasil As Long As I Can (ALAIC), Entardecer e Rope, por exemplo. Tem outras flertando mais com o Doom como as brasileiras HatefulAgony, Allonair e a Unguilty. E tem as bandas que já partiram para o Post Black Metal, com um som mais limpo, com guitarras mais limpas e com distorções menos pesadas como as brasileiras Gray Souvenirs, Help, Gulag, Depht. Essas últimas, inclusive, surgiram no DSBM, mas com um som mais pro Post Black Metal - também chamado de Blackgaze - no decorrer dos seus lançamentos. Isso ocorreu porque o DSBM meio que abriu as portas para essa galera, já que o Blackgaze também é discriminado dentro do Black Metal, por soar mais limpo, mais melancólico e menos pesado, e também por ser algo novo no meio. O DSBM, à propósito, é um subgênero bem novo ainda.
Mad: O Lúgubre e eu organizamos compilações com bandas exclusivamente nacionais. Fazemos uma espécie de curadoria, e vamos atrás das bandas.
Lúgubre: Eu gosto muito das bandas que cantam em português, isso para qualquer gênero. Mas aqui há um grande preconceito com bandas que cantam no nosso idioma nativo. No DSBM, eu aprecio muito isso porque é algo muito difícil cantar no próprio idioma, falar de algo seu, tão pesado. Outras pessoas daqui, que escutarem algo que você canta, vão compreender de imediato. E gera uma certa vergonha, digamos assim, no sentido de ser algo tão pessoal seu, e que outra pessoa pode vir a ouvir e até rapidamente te criticar, como infelizmente ocorre, algumas vezes. Logo que conheci o Mad começamos a pensar nisso de unir bandas em uma compilação, com a intenção única de dar suporte às bandas, que talvez não teriam algum alcance sozinhas, justamente pelo pouco alcance do DSBM em geral. Nessas compilações, bandas novas e as mais antigas da cena se somaram. Tem muitas bandas boas no Brasil e nossa intenção é levar isso às pessoas que curtem esse tipo de música, para não ficar aquilo de só escutar bandas de outros países e ignorar o que temos aqui também e com boa qualidade.
Entrevistador 2: Tem uma curiosidade que é um Split do Happy
Days com o Deadspace, onde o A. Morbid canta em espanhol.
Lúgubre: Outra curiosidade é que há uma demo, do início, do Happy Days onde o A. Morbid canta em norueguês. Ele fez isso como uma homenagem às bandas que curtia, e eram da Noruega. E na época, também, ele estava aprendendo esse idioma e quis testar em suas primeiras músicas. O interessante do espanhol é que tem um alcance muito grande no DSBM. Talvez o público maior do DSBM esteja em países onde a língua espanhola seja nativa. Basta olhar comentários em vídeos e postagens e ver a quantidade de pessoas desses países comentando. Há uma grande veneração, inclusive, à Nattramn, por esse pessoal do México e de países aqui da América do Sul.
Mad: A cena latina é a mais ativa de todas. Tem muitas bandas e o público consome bastante. Rola, com muita frequência, parcerias entre essas bandas aqui da América Latina. É muito comum ver uma banda mexicana, por exemplo, com algum integrante brasileiro.
Entrevistador 2: Eu não tinha essa ideia. Acreditava que
eram mais países nórdicos que tinham um maior alcance.
Lúgubre: Isso é um ponto interessante. Porque muitas pessoas não enxergam isso que ocorre aqui mesmo, e por isso a ideia da compilação. Acaba sendo uma forma da cena conhecer mais essas bandas e valorizar, além do fato das que cantam em português você conseguir compreender o que está sendo cantado naquele momento; é algo mais familiar e direto. Isso também é muito gratificante para nós. Receber mensagens nas páginas de alguém dizendo "olha, essa é minha banda, meu projeto e tal", isso é o que nos mantêm seguindo cooperando, de alguma forma. É uma troca. Damos suporte às bandas e elas nos presenteiam com sua arte, que tanto apreciamos. E o DSBM é algo que nos faz seguir sobrevivendo pelos dias também, já que nos identificamos com o que é expressado, e que é tanto negligenciado pela sociedade.
Mad: Ultimamente tem sido mais raro vermos as bandas fazendo Split. Então isso das compilações é algo que junta as bandas também. Já soubemos de membros que se conheceram devido a elas e criaram outras bandas e projetos. Então é gratificante isso.
Entrevistador 2: E
sobre esse papo desanimador de dizer que a cena está acabando, ou que não tem
mais nada de bom?
Mad: É o mesmo papo de dizer que o Rock já morreu. É realmente desanimador.
Lúgubre: Eu vejo isso como comodismo da galera. É fácil você pegar uma banda do passado, como Black Sabbath ou Metallica, e dizer que não há nada de inovador e bom hoje como era naquela época. Há milhares de bandas surgindo a todo instante e fazendo um som muito bom. Independente do gênero ou subgênero. Mas o comodismo da galera é alto, e preferem fingir que não há nada que presta hoje. Se prendem ao passado para não conhecer algo novo. A cena do Rock e Metal está cheia disso, e acaba até desestimulando outras pessoas no meio, mantendo um ciclo de achar que não há nada de bom nos dias atuais.
Mad: É até uma preguiça de pesquisar. Essa galera não vai atrás e por isso diz que a cena morreu, ou "se não chegou até mim, então não existe". Nós, com a página, tentamos sempre dar foco às bandas novas. Focar nelas. Porque não faz muito sentido você divulgar o que todos no meio já conhecem.
Entrevistador 1: Finalizamos a entrevista com indicações de
bandas. Lúgubre, o que você indica?
Lúgubre: Indico a banda Alivium, banda brasileira com vocais femininos. E quero dizer que acho muito importante a presença feminina no Metal, e no DSBM não poderia ser diferente! Por enquanto essa banda tem apenas uma música, chamada Vazio, mas em breve a banda lançará um álbum. A vocalista usa o pseudônimo de Das Irrlicht.
Entrevistador 1: Muito bom! Meu querido Lúgubre vem aí para
mostrar que nem todo sulista é pau no cu. E você, Mad, o que indica?
Mad: Montosse, banda composta por Érdos e Astratta, duas pessoas talentosas na cena e que somam várias bandas. A música é Pois os MortosViajam Depressa.
Entrevistador 1: E eu indico Funesto, a música Lembranças de um Suicídio.
Áudio com a entrevista na íntegra:
Aqui estão algumas playlists no Spotify, para quem já aprecia DSBM e, também, para quem está começando a conhecer o subgênero.
¯ Depressive Suicidal Black Metal
¯ Depressive Rock/Narcotic Metal
¯ DSBM BR