sábado, 1 de março de 2025

Música Para Pessoas Desesperançadas




Como o DSBM consegue gerar uma sensação prazerosa em quem o escuta?

Bem, O DSBM é um tipo muito específico de música. Ele retrata a dor mental de forma muito direta, íntima e pessoal. O músico tenta tirar o máximo de dores de seu peito através desse tipo de música. A música em geral pode ser usada para isso, e aliás, vem sendo usada há milênios. Porém, o DSBM vai mais a fundo. Ele entra no abismo interior do indivíduo e traz para fora tudo aquilo que o machuca por anos a fio. Obviamente, nem todas as pessoas com transtornos mentais, que lutam contra suas dores emocionais, escutam DSBM, ou mesmo apreciam algum tipo de arte mais obscura e crua em torno das emoções humanas. E está tudo bem, as pessoas devem buscar por aquilo que possa ser útil a elas. Devem consumir apenas aquilo que traz efeitos positivos em seus dias. Mas, para nós que nos conectamos com o DSBM, ele gera uma sensação única, algo que não conseguimos encontrar em outros lugares.
E por que isso ocorre?

Cientificamente falando, há muitos fatores envolvidos nesse prazer gerado pelo DSBM:

Capacidade de canalizar emoções negativas, sensação de acolhimento - Ouvir um tipo de música que vai de encontro ao que você está vivenciando gera uma conexão quase instantânea. Conforme você vai escutando as músicas, maior se torna a sensação de ser consolado (a). Alguém, uma alma em algum lugar do planeta, está retirando de seu peito uma intensa carga de angústias, literalmente gritando aquilo. Essa pessoa não tem a pretensão inicial de ser ouvida, mas sim de deixar sua dor escapar, alcançar o meio externo. Utilizar a música para isso torna tudo ainda mais completo. Aquela pessoa está tentando fazer música, mesmo estando sob intensa aflição. De forma sincera, ela usa a música para poder dizer o que estava a sufocando. Nós, ouvintes, nos identificamos a tal ponto de sentir que aquela música foi feita para nós. Passamos a nos sentir abraçados (as). E, literalmente, essa sensação é real. As áreas do cérebro ativadas quando somos abraçados de forma carinhosa por quem nos ama, são as mesmas ativadas quando escutamos DSBM.

O DSBM cria um espaço seguro para processar sentimentos e viver uma catarse emocional - Uma das sensações que o sofrimento mental gera é o de abandono. As pessoas se sentem sozinhas, desamparadas e desprotegidas. O DSBM consegue criar uma segurança emocional, um espaço para que as pessoas possam se sentir livres para manifestarem suas angústias sem serem julgadas ou terem as suas dores invalidadas. O ambiente seguro que o DSBM proporciona faz com que tanto os  músicos/musicistas quanto os (as) ouvintes possam estar seguros (as), possam sentir e expressar o que sentem sem obstáculos. A catarse emocional é o ponto mais sólido do DSBM. É justamente esse expurgo das emoções que faz esse tipo de música ser tão importante para seus fãs. As barreiras são derrubadas, as emoções que foram suprimidas por tanto tempo podem, finalmente, ser liberadas.

O DSBM proporciona uma sensação de validação das dores emocionais - Diante de uma sociedade que só invalida o que sentimos e quem somos, vai se tornando cada dia mais difícil encontrar alguém que realmente acredite no que sentimos. Além de ignorarem nossas dores, a maioria das pessoas (incluindo amigos e família) ainda invalidam elas, fazendo parecer que aquilo não é nada, ou que "todo mundo passa por isso, apenas supere". Então nós ficamos desolados (as), sem ter com quem poder contar. Sim, a ajuda médica especializada é importante, psicólogos e psiquiatras, mas não podemos reduzir tudo a isto. O tratamento psiquiátrico tem como parte fundamental justamente o apoio da família e de pessoas mais íntimas. Quando isto não acontece, ficamos nos sentindo ainda mais sozinhos (as). Pela capacidade incrível que o DSBM tem de gerar conforto, ele traz também essa validação das dores individuais de cada pessoa. Quando ouvimos algo que vai em direção ao que sentimos e estamos experimentando, nosso cérebro reforça que aquilo é real. Que aquele sentimento está genuinamente sendo manifestado. Assim, por mais doloroso que seja o momento, nós sabemos que aquilo é real. Nós compreendemos que aquela experiência é autêntica e significativa. Isso nos impede de ficar suprimindo o que sentimos e de ficar usando máscaras sociais para parecer bem.

O DSBM ajuda a criar um vínculo com outras pessoas - A arte em geral tem esse poder de unir as pessoas. Com o DSBM isso tem um caráter mais especial. As pessoas já estão se sentindo abandonadas pela família e, supostos, amigos, então elas se tornam mais reclusas, até com medo de fazer contato com os outros. São pessoas machucadas, maltratadas, colocadas à margem da vida, então confiar em alguém se torna muito difícil. Mas, o DSBM consegue proporcionar até mesmo essa conexão social. É muito comum vermos comentários, por exemplo, em vídeos no YouTube de pessoas interagindo umas com as outras, e motivadas pelo DSBM. Nas redes sociais, em páginas de DSBM, isto também é muito comum. Posso citar a mim mesmo, Lúgubre, ao conhecer o Mad, administrador da página DSBM - Depressive Suicidal Black Metal Brazil. Foi o DSBM que nos uniu há 8 asnos. Ainda, há algo muito interessante no DSBM que é a conexão de fãs com as bandas. As bandas interagem com seus seguidores e fãs, e tudo se torna um círculo sadio de comunicação. Sim, é fato que no DSBM há bastante indivíduos reclusos, que preferem estar mais isolados, por consequência do que mencionei antes, a perca da confiança nos outros. Ainda assim, há um círculo muito sólido de apoio mútuo na cena de DSBM. As pessoas não estão aqui de forma aleatória, pois o DSBM não é um tipo de música aleatória, sem contexto e forma. Então, quem ouve DSBM já se sente conectado (a) com os (as) músicos/musicistas e outros (as) ouvintes mesmo sem qualquer tipo de contato direto. E isto é algo incrível.

O DSBM pode despertar emoções complexas e parcialmente positivas como nostalgia e ternura - Além da canalização das emoções e sensações negativas, o DSBM ainda tende a gerar sensações agradáveis. A nostalgia, sem dúvidas, é uma das mais sentidas pelos ouvintes. E é, aliás, uma das palavras bastante usadas em letras de música, títulos ou mesmo em nomes de bandas. A nostalgia é um sentimento confortador que um indivíduo pode experimentar ao se lembrar de momentos passados. Diferente da saudade, que pode ser diminuída ao repetir aquilo que a gera, a nostalgia não pode ser repetida. Por isso a sua intensidade é maior, pois são lembranças que estão no passado do indivíduo e jamais poderão voltar. Nisto, a pessoa se apega à lembrança daquilo o quanto pode. A música é um grande acionador para experimentar momentos nostálgicos. Embora o DSBM em si seja um subgênero novo de música, o que leva à nostalgia são as letras que falam de momentos alegres que o (a) compositor (a) retrata, daquilo que ele/ela uma vez já sentiu e foi soterrado. Por consequência, o (a) ouvinte pode se identificar e lembrar dos seus próprios momentos passados também. A melodia da música se junta à letra para esse momento. As músicas com mais suavidade, guitarras etéreas em paredes sonoras que se mesclam são as que mais tendem a levar o indivíduo à nostalgia. Se torna comum recordar da infância ou adolescência como forma de escapismo. O presente, infelizmente, tomado pela dor mental não deixa espaços para a alegria, então a pessoa procura se lembrar daquilo que um dia já viveu e causou-lhe boas sensações.

O DSBM alimenta a empatia - Pessoas em sofrimento mental já tendem a nutrir a empatia. É como uma máxima de "não desejo que ninguém passe pelo o que eu passo". E é algo triste que a empatia seja encontrada mais por quem sofre, do que por quem não tem nenhum transtorno mental. Triste porque essas pessoas que não sofrem o inferno mental deveriam fazer o possível para ter respeito, compreensão e dar apoio às pessoas que lutam diariamente contra a própria mente. Justamente por estarem mais saudáveis, poderiam, ao menos, estar apoiando aquelas que mal conseguem realizar as tarefas mais básicas do dia a dia. A realidade é que essas pessoas são as que menos ajudam e ainda ridicularizam aquelas que sofrem. Por fim, o círculo, que foi mencionado anteriormente, presente no DSBM se fortalece e se fecha em si mesmo. Somos nós por nós. Quanto mais ouvimos e estamos inseridos na cena de DSBM, mais é possível observar a empatia sendo manifestada. Por exemplo, quando alguém ataca um músico, musicista ou fã de DSBM, está nos atacando também. Pela identificação com as músicas e com os (as) próprios (as) compositores (as), nós nos sentimos agredidos (as) diretamente por aquele "odiador". De modo geral, o DSBM tem um nicho muito pequeno e que, por ter este círculo estabelecido, se mantém pequeno. É até mesmo uma forma de mantê-lo apenas para quem realmente compreende a sua proposta. Pois pessoas de fora, infelizmente, sempre julgarão aquilo que elas não compreendem, não por falta de conhecimento, mas sim por pura crueldade e falta de empatia.

Liberação de serotonina, dopamina, endorfina e ocitocina - Estes neurotransmissores são os principais relacionados com o sofrimento mental. O desequilíbrio deles no cérebro leva a pessoa a experimentar sintomas e comportamentos que comprometem toda a sua vida. A serotonina é bem conhecida por estar relacionada ao prazer. Mas a dopamina, endorfina e ocitocina também desempenham este papel de gerar prazer e bem-estar nas pessoas. A dopamina está relacionada à recompensa, ela causa o sentimento muito bem conhecido de prazer por realizar ou receber algo. O corpo inteiro reflete o bem-estar, e a nível mental o indivíduo se sente revigorado, calmo e realizado. Assim, ao ouvir DSBM uma área do cérebro chamada núcleo accumbens é estimulada, liberando então dopamina. É interessante que a dopamina é liberada quando antecipamos o prazer de ouvir, ou seja, só de pensar em ouvir determinada música o prazer já começa a ser gerado. E passamos a querer ouvir cada vez mais aquelas músicas, justamente pela recompensa prazerosa que elas nos oferecem. A endorfina está relacionada com o prazer e relaxamento, aquela sensação de corpo leve. A música ajuda na liberação desse neurotransmissor, gerando assim a sensação de leveza. Por mais pesado sonoramente que o DSBM possa ser, há uma recepção individual que o faz soar brando. A conexão que se cria ao ouvi-lo o transforma em uma espécie de calmaria diante do inferno que aquela pessoa vivência. O cérebro então libera endorfina e esta pessoa se sente menos tensa. Ainda, a endorfina reduz a dor física e o corpo diminui a tensão muscular. Como se a pessoa estivesse retirando um pouco do fardo de seus ombros. A ocitocina é liberada quando abraçamos e somos abraçados, gerando boas sensações, principalmente de acolhimento, o que reduz a solidão. Eu disse lá no início que o DSBM é como um abraço, e de fato é assim que o cérebro interpreta, pois, a mesma região ativada quando recebemos um abraço ou abraçamos alguém é também ativada ao ouvir DSBM. Então, literalmente, o DSBM é sim um abraço. E sentir isto libera a ocitocina, que por sua vez gera a sensação de pertencimento, de conforto, reduzindo a sensação de vazio e solidão.

Que a música é uma arte incrível e tem um poder gigantesco de nos fazer bem, já é algo muito conhecido pela humanidade desde os tempos mais remotos. Falando especificamente do DSBM, nós, melhor do que ninguém, sabemos o que ele nos proporciona. É uma experiência única, uma sensação singular. Por isso, também, se faz importante repetir algo que já destaquei em outros textos.
Se você caro leitor e leitora, amante do DSBM, sentir que em determinando momento ouvir DSBM não esteja te fazendo bem, pare imediatamente, ou dê uma pausa por algum tempo. A proposta do DSBM é gerar acolhimento, compreensão do sofrimento mental. Se você sentir algo oposto a isto, apenas pare de ouvir e procure outros tipos de músicas que gerem identificação com o que você está experimentando. Devemos nos apegar apenas às coisas que nos façam bem.

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