sábado, 27 de maio de 2023

Entrevista com Neural Oestridae


Helder Ribeiro - pseudônimo de Natterskrek - é um dos grandes talentos da cena nacional. Além de músico e ilustrador, ele também é tatuador, ou seja, a arte faz parte de seu ser. Inclusive, ele é o artista por detrás das artes da série de compilações 'Depressivos Hinos Suicidas', idealizada e promovida por esta e outras páginas coirmãs. Mais uma vez, tivemos o prazer ter entrevista-lo, e aqui trazemos esse bate-papo com a pessoa responsável pelas bandas Neural Oestridae e Aufruhr.


As influências na arte são inevitáveis, são os artistas que apreciamos que nos geram uma faísca para que façamos nossa própria arte. Quais são suas influências, não apenas musicais, mas em outras formas de arte, como cinema, literatura e pintura?

Helder: Musicalmente, as minhas inspirações para o Neural Oestridae, vem das bandas pioneiras do gênero DSBM, tais como Abyssic Hate, Wigrid, Nocturnal Depression. Também aprecio muito as bandas mais novas Psychonaut 4, etc. Na parte da literatura posso dizer que em minha adolescência eu sempre tinha um livro do Álvares De Azevedo, Edgar Allan Poe, Lord Byron (literatura gótica) e Nietchze. Pintura e Arte, Gustave Doré e Zdzislaw Beksinski são os que me vem à memória. No cinema não tenho muita ligação.

A música é, indiscutivelmente, uma forma de terapia, talvez no Depressive Black Metal esse peso seja ainda maior, visto que ajuda e muito a se expressar, falar de situações, pensamentos e emoções das mais sombrias. Você ainda soma a arte de desenhar, que acredito ser uma forma de terapia também. Como surgiram essas duas paixões em sua vida?

Helder: Desde muito cedo, na minha infância eu já gostava de desenhar, e também sempre gostei de música. Com o tempo minha personalidade foi se formando e eu fui adicionando mais a arte em minha vida. Assim como você mencionou, isso se tornou minha forma de terapia e expressão.

Os Transtornos Mentais, a saúde mental em geral, tem tido mais visibilidade hoje em dia, isso devido aos altos índices de suicídios no mundo todo. Falar disso através da arte é um conforto para muitas pessoas, tanto para quem se expressa, quanto para aqueles que escutam. Você sente que ainda há muita ignorância por parte da sociedade, em compreender essas questões? E, em particular, você já sofreu alguma repreensão por expressar esses temas em sua música?

Helder: Sinto que pouco a pouco as pessoas têm se conscientizado sobre esse assunto. Mas quando se trata do gênero DSBM, creio que seja muito difícil para alguém mais leigo compreender. Já fui repreendido sim no passado, mas era uma época em que eu não sabia me posicionar, por ser imaturo. Hoje eu realmente não me importo com a opinião alheia.

E fazer arte na pele - que particularmente eu acho algo fabuloso -, quando surgiu seu interesse?

Helder: Sempre tive interesse no que pra mim fosse "subversivo" e a tatuagem até então era. Hoje é algo mais comum, mas não perde essa essência. Acho que sempre gostei do fato de que uma pessoa poder se "customizar" e criar sua identidade, mesmo que através da própria aparência, diferenciando se dos outros.

Nosso país tem uma extensão incrível, com um povo diversificado e uma rica cultura. Você acompanha as regionalidades, seja música, dança, teatro, culinária e literatura de seu estado/região? Se sim, o que poderia nos indicar do seu estado?

Helder: Confesso que pouca das coisas que conheço sobre o nosso país, e cada região, é justamente as bandas de metal extremo, sou bastante relapso a parte cultural, mas isso por pura falta de atenção.

Voltando à música. É comum que muitos músicos tenham um ponto de partida para começar a fazer música autoral, deixando de interpretar e tocar covers de artistas que apreciam. O seu lado compositor surgiu de forma solitária, ou você já tocou (ou ainda toca) em bandas onde as músicas autorais são o foco?

Helder: Tudo surge de forma muito natural, meu processo de composição para o Neural Oestridae eu posso dizer que é uma das coisas mais sinceras que eu posso fazer. Tudo vem de um sentimento ou situação que estou passando. Gosto de ouvir covers ou versões, mas não me interesso muito em fazer.

Ainda sobre a parte da composição. Quando você compõe uma música, ela surge parte já definida ou você vai trabalhando, desenvolvendo pouco a pouco, até chegar ao resultado que você pretendia alcançar?

Helder: Soa até estranho, mas muitas vezes estou escrevendo justamente esses sentimentos, sem um título definido, sem uma melodia. Depois penso na parte musical como um todo. O começo dela acaba definindo o resto e tudo flui muito rápido.

Na cena do DSBM há muitas pessoas começando a fazer música, a expressar suas mais dolorosas emoções, ainda de forma bastante amadora. Você tem alguma dica, alguma mensagem, para deixar a essas pessoas?

Helder: Quando se trata de se expressar com sinceridade, eu acho que simplesmente você deve fazer! Se você pretende divulgar, divulgue! A arte não busca perfeição, pois nossos sentimentos também são confusos, e cada um tem uma interpretação única de cada coisa.

Fazer música, arte em geral, não é algo fácil, principalmente em nosso país, onde poucas pessoas dão o devido valor, ou ao menos procuram apreciar. Nessa cena isso é algo mais seleto, devido às próprias temáticas abordadas nas canções. Como é sua interação com os fãs de DSBM, e mesmo com outras bandas e músicos da cena?

Helder: Não sei se por cantar em inglês, ou algo assim, tive bastante feedback positivo com pessoas de fora do país. Infelizmente minha música não teve tanto alcance, pois hoje vivemos na era dos likes e redes social, o algoritmo jamais aceitará nossa arte tão destrutiva e realista no aspecto negativo da depressão. Eu não almejo nada além de me expressar. Mas quero sim que minha música tenha alcance para os apreciadores, pois é como uma troca de energia. Tenho pouca interação com músicos da cena, mas acompanho o trabalho de muitos da cena nacional que tem se tornado uma das melhores.

Recentemente uma nova faixa da Neural Oestridae foi lançada. O que você pode nos falar sobre ela e sobre os planos futuros para seus projetos?

Helder: Sim! E tem mais vindo por aí. Eu pretendo gravar um full-album, e nele quero adicionar 3 músicas da minha demo "Tired ofAll" regravadas com uma qualidade melhor, pois essa demo realmente foi gravada de forma bem precária.

Considerações finais.

Helder: Obrigado por essa entrevista, e obrigado por apoiar tanto essa cena. O trabalho que vocês têm feito é exatamente o que a cena precisava aqui no país. Através dessa página pude conhecer muitas das bandas de DSBM brasileiras e divulgar minha arte!


Você pode encontrar todos os lançamentos de Neural Oestridae e Aufruhr, bem como as artes, ilustrações e trabalhos com tatuagens em Bandcamp, Facebook, Instagram, YouTube, Aufruhr (instagram)Abyssart (ilustrações), Helder (tatuador).


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